Em São Paulo, Bolsonaro e Doria são os piores cabos eleitorais

Por Igor Gielow, na Folha de S. Paulo

Na nacionalizada disputa eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, nem Jair Bolsonaro (sem partido) nem João Doria (PSDB) são bons cabos eleitorais.

Segundo apurou o Datafolha ao ouvir 1.092 paulistanos em 21 e 22 de setembro, só votariam num nome indicado pelo governador tucano de São Paulo 8% dos entrevistados.

Na margem de erro de três pontos, é o mesmo que os 11% que dizem votar num candidato apoiado pelo presidente. Bolsonaro e Doria são rivais figadais na política, e o tucano é um presidenciável certo para 2022.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) era vice de Doria quando o então prefeito paulistano deixou o cargo após 1 ano e 3 meses de mandato para disputar o governo estadual.

A iniciativa sempre foi condenada em pesquisas, mas Doria elegeu-se em 2018 da mesma forma. Naquele momento, associou seu nome ao de Bolsonaro quando chegou a segundo turno contra Márcio França (PSB), hoje rival de Covas.

Ao longo de 2019, afastou-se do presidente até um ponto de rompimento, que ficou evidente neste ano, com as diferenças no manejo da pandemia da Covid-19 e a hostilidade aberta entre ambos.

Desta forma, a aliança entre PSDB, MDB e DEM, mais sete partidos, para apoiar Covas virou o embrião de uma união contra Bolsonaro em 2022, que teoricamente será encabeçada pelo governador.

Bolsonaro então trabalhou para que Celso Russomanno, deputado que negociava apoiar Covas, saísse candidato pelo Republicanos.

Essa nacionalização, mostra o Datafolha, não parece ser bom negócio para ninguém do ponto de vista eleitoral.

Márcio França (PSB), foi vice de Geraldo Alckmin (PSDB), mas hoje é rival de Bruno Covas.

Dizem que talvez votassem num nome indicado por Doria 29%, ante 23% que o fariam se o pedido fosse feito pelo presidente da República.

Mas a situação desconfortável fica mais evidente quando o eleitor é questionado se ele não votaria em alguém indicado por um padrinho político.

Aí 64% dizem que não votariam de forma alguma em um nome de Bolsonaro e 59%, num indicado de Doria.

Os candidatos, contudo, tratam isso de forma diferente.

Em entrevista recente à Folha, quando questionado se temia ser cobrado pela gestão estadual, Covas afirmou que ele era o candidato e evitou fazer menções a Doria.

Como se sabe, a relação entre ambos não é exatamente a mais próxima, tendo sido objeto de diversos atritos.

Pelo menos um candidato, Márcio França, já disse que irá criticar a dupla tucana. Em 2018, ele venceu Doria na capital paulista, no segundo turno.

Já Russomanno está fazendo o jogo de Bolsonaro. Ainda não está claro se o presidente irá gravar apoio ao nome do Republicanos, mas o candidato se declara como o homem do Planalto na disputa.

Bolsonaro já indicou que poderá fazê-lo, mas não disse se no primeiro ou num eventual segundo turno na capital.

Ele havia prometido, em agosto, não apoiar ninguém na primeira rodada da eleição. Apesar disso, tinha nomes com seu suporte velado, como o do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos).

A tentativa do presidente foi de desvincular-se de quaisquer desgastes decorrentes de derrotas de apadrinhados.

Mas, em São Paulo, a exceção foi aberta devido ao peso nacional da cidade.

O Datafolha também aferiu o poder de fogo de um padrinho político tradicional, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele se sai melhor do que os dois rivais como cabo eleitoral propositivo: 20% dos ouvidos dizem que votariam com certeza num nome que ele indicasse e 21%, que considerariam fazê-lo.

Jilmar Tatto candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT.

Isso soa como uma notícia alvissareira para a candidatura de Jilmar Tatto, que tem meros 2% de intenção de voto nesta rodada do Datafolha e está por ora vendo o espaço tradicional do PT ser ocupado pelo PSOL.

Lula não o queria candidato. Ele preferia o nome de um ex-ministro seu, como o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad ou Alexandre Padilha, justamente para dar uma coloração nacional ao embate.

A vaga havia sido prometida a Tatto no acordo que chancelou Gleisi Hoffmann como presidente do PT, no qual Luiz Marinho saiu como candidato a governador em 2018 —hoje, quer voltar a governar São Bernardo do Campo.

Haddad, que foi ministro da Educação e era o favorito de Lula, não topou. O ex-ministro da Saúde Padilha, sim, mas teve de disputar prévias.

O controle de Tatto sobre a burocracia lhe garantiu uma vitória apertada.

Mas, quando confrontado com a pergunta na adversativa pelo Datafolha, o eleitor não traz boas novas ao PT.

Segundo o instituto, 57% não votariam num nome que Lula indicasse para a eleição. Isso é o mesmo índice de Doria, dentro da margem de erro.

A rejeição a nomes indicados também transparece o repúdio do eleitor às candidaturas por “dedaço”, comuns na política brasileira, embora a rigor nenhum dos candidatos citados se encaixe exatamente nesse perfil.

A pesquisa foi encomendada pela Folha e está registrada no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo sob o número 06594/2020.

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