A arte do Flecha Loira encanta e revoluciona

Di Stéfano inventa posição de ponta-de-lança e derrama categoria ao ser comparado com Pelé

Por: Paulo Leandro

Di Stéfano (à dir) também revolucionou preparação física
Di Stéfano (à dir) também revolucionou preparação física – 

A história recente do futebol argentino registra Maradona e Messi como principais referências de grandes craques, mas muito antes deles, houve Alfredo Di Stéfano, tão inteligente com a bola nos pés quanto sem ela, por sua clarividência ao posicionar-se sempre em condições de receber um bom passe ou atrair a marcação dos zagueiros para abrir a defesa adversária.

A discussão sobre quem é melhor, Maradona ou Pelé, já estava posta nos anos 1960, tendo Di Stéfano no lugar de Dom Diego, comparando-se o desempenho do jogador ídolo do Real Madrid com o precoce astro do Santos, sem se chegar a uma conclusão, pois  pareciam igualar-se em genialidade e asé – forças da natureza.

O próprio Di Stéfano tratava de ampliar a polêmica, ao considerar seu ídolo, Adolfo Pedernera, craque do River Plate, como o maior de todos, pelas atuações nos anos 1940.

Di Stefano era conhecido como La Saeta Rubia, A Flecha Loira, associando-se a velocidade e precisão da arma  à cor dos seus cabelos.

Na transição do paradigma do esquema 2-3-5 para o 4-2-4 nos anos 1950, Di Stéfano teria inventado a posição de ponta-de-lança, fazendo o pivô, ao receber a bola voltando da área adversária para armar as jogadas vindo de trás, em vez de esperá-la fixo à frente, como todos faziam. Também foi o primeiro atacante a dar pressão na saída de jogo adversária, uma surpresa para os esquemas da época, caracterizados pela rigidez nas funções de cada posição.

A inovação, portanto, teria sido uma de suas melhores contribuições ao futebol, mas Di Stéfano não conseguiria êxito em sua constante inquietação sem o invejável preparo físico, também neste item um revolucionário, pois nem mesmo as seleções dos países mais desenvolvidos investiam em profissionais desta especialidade para orientar os jogadores, mas o Flecha Loira se cuidava muito a ponto de jogar até os 40 anos de idade.

La Maquina e o mestre

Não poderia haver um melhor começo de carreira para Di Stéfano, ao ser revelado no River Plate, em 1945, quando o timaço era conhecido por La Máquina, tendo como destaques, além de Pedernera, os craques Labruna e Loustau, marcando época pelas soberbas atuações. Ao transferir-se para o Huracán, em 1946, Di Stéfano teve como mestre e treinador o artilheiro argentino Guillermo Stábile, principal goleador da primeira Copa, em 1930, a quem coube ensinar ao Flecha Loira os segredos de um atacante oportunista e sempre atento para escolher o melhor momento e local do arremate, na área, ludibriando os beques e reduzindo as possibilidades de defesa dos arqueiros.

Craque da greve

A distância da mentalidade média entre um argentino e um brasileiro pode ser verificada facilmente pela capacidade de mobilização dos jogadores e suas lideranças, como Di Stéfano. Ainda jovem, enquanto prestava serviço militar, voltou ao River Plate e foi um dos líderes de um movimento grevista com o objetivo de exigir assistência médica para os familiares, um piso salarial ou um ‘salário mínimo’ e a extinção do passe, a fim de libertar os jogadores de seus vínculos de vestígio escravocrata com os clubes. Tudo isso ainda em 1947! Enquanto no Brasil… um ou outro jogador desponta, de tempos em tempos, com alguma consciência política, como raríssimas exceções, tipo Afonsinho, Sócrates ou Paulo César Lima.

Balé Azul da Liga Pirata 

Ao brilhar intensamente no Real Madrid, conduzindo o clube ao luxuoso status de um dos maiores do mundo, Di Stéfano despertou a rivalidade com o Barcelona. Ele foi acusado de traição pela torcida da Catalunha, pois trocara o Barça pelos merengues. Antes, Di Stéfano jogou, entre 1951 e 1953, na Liga Pirata colombiana, sem vínculo com a Fifa. Seu time, neste ambiente de plena liberdade e espetáculos de futebol, foi o Millionarios, conhecido como o Balé Azul. O campeonato atraiu craques rebeldes, não apenas da Argentina, mas também do Brasil, como o genial Heleno de Freitas, além de países europeus, até mesmo a Hungria, de onde os jogadores escapavam da rigorosa submissão ao Estado, sob controle da União Soviética.

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