A briga de casal que está abalando a disputa pelo governo do Reino Unido

Boris JohnsonBoris Johnson lidera a corrida pelo governo britânico, mas viu popularidade cair após ser gravado em briga doméstica

*Matéria atualizada às 18h50 de 24/06/19

Uma briga de casal está no centro do debate político britânico, no momento em que o país aguarda a definição de quem será seu próximo primeiro-ministro.

Boris Johnson, favorito para ocupar a cadeira de premiê a partir do mês que vem, foi gravado por um de seus vizinhos em Londres, na última sexta-feira (21/6), tendo uma discussão em voz alta com sua namorada, Carrie Symonds.

Segundo a gravação, divulgada pelo jornal Guardian, durante a briga ela gritou ao político “me solte” e “saia da minha casa”. A polícia foi chamada ao local, mas disse não ter encontrado motivo para tomar qualquer tipo de atitude.

Johnson ficou dias sem comentar publicamente o caso mas, nesta segunda-feira (24), em entrevista exclusiva à BBC, disse que não fala sobre “coisas envolvendo minhas pessoas amadas” porque “não é justo com elas”.

Na entrevista, ele se recusou mais uma vez a dar detalhes sobre o que aconteceu em sua casa na sexta-feira.

Em vez de sua vida privada, ele disse que o público está interessado em saber “o que este cara vem fazendo?”.

“No que diz respeito à confiança, ao caráter, todas essas coisas, ele cumpre o que promete?”, disse o político, sugerindo o que o público pensa.

Diferente da tentativa de desvio de foco proposta por Johnson, porém, o incidente de sexta-feira virou um dos temas mais comentados pelos demais políticos do país – alguns deles levantando o debate quanto a se uma “questão pessoal” como essa deve influenciar o rumo do governo britânico.

Jeremy Hunt‘Não vou comentar a vida pessoal de Boris, isso cabe a outras pessoas, mas o que Boris precisa fazer é enfrentar o debate’, declarou Jeremy Hunt, que briga pelo cargo de premiê

Johnson, ex-prefeito de Londres e ex-secretário das Relações Exteriores, disputa com Jeremy Hunt, atual secretário das Relações Exteriores, quem ocupará o cargo de premiê, após a renúncia de Theresa May.

Eles foram os dois mais votados em uma consulta entre parlamentares do Partido Conservador, que lidera o país – Johnson, no entanto, teve ampla vantagem sobre Hunt. Dentro de um mês, os cerca de 160 mil filiados ativos do partido vão votar para decidir qual dos dois assumirá o governo britânico.

Johnson, que lidera com folga a disputa e é mais conhecido nacionalmente, foi questionado pela imprensa sobre o incidente de sexta-feira, mas disse: “não acho que as pessoas queiram saber sobre esse tipo de coisa. (…) O que precisamos é resolver o Brexit” (em referência ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia – o principal entrave atual do país).

No entanto, pesquisa de opinião publicada no domingo no jornal Mail on Sunday aponta que a vantagem de Johnson entre os eleitores conservadores caiu de 27 pontos para 11. E mais da metade dos eleitores opinou que a “vida privada de Johnson é relevante para sua habilidade para ser primeiro-ministro”; 75% dos entrevistados opinaram também que o caráter do candidato é relevante para a a disputa eleitoral.

Hunt com tom mais agressivo

Hunt, por sua vez, tem adotado um tom mais combativo contra o adversário na disputa.

Depois de Johnson ter indicado que não pretende participar de um debate televisivo nesta semana, Hunt afirmou que o adversário não pode ser “covarde”.

“Não vou comentar a vida pessoal de Boris, isso cabe a outras pessoas, mas o que Boris precisa fazer é enfrentar o debate, não se esconder do debate. (…) Isso é um teste para ser premiê do Reino Unido e Boris precisa mostrar que está preparado para responder a perguntas difíceis”, declarou Hunt a jornalistas.

Aliado de Hunt na disputa, o secretário de Comércio, Liam Fox, disse à BBC que “é mais fácil apenas dar uma explicação (sobre o que aconteceu na briga)”.

O parlamentar Alan Duncan, outro aliado de Hunt, afirmou ao jornal Guardian que Boris Johnson tem hoje “um grande ponto de interrogação sobre sua cabeça” e já mostrou “falta de disciplina” ao longo de sua carreira.

Na entrevista exclusiva à BBC, Johnson se recusou a responder às acusações do rival de que está sendo “covarde” por não ir aos debates.

‘Motivação política’

Diversos políticos apoiadores de Johnson afirmam que os adversários estão tentando tirar proveito político de um episódio pessoal.

“(A gravação da briga) é parte de uma série de ataques de motivação política”, afirmou à BBC Priti Patel, ex-secretária de governo. “Isso não é o tipo de comportamento que se espera em nosso país. É o tipo de comportamento associado ao antigo bloco oriental (soviético).”

Casa de Boris JohnsonVizinhos gravaram Boris Johnson tendo uma discussão em voz alta com sua namorada, Carrie Symonds

Ela acrescentou que “Boris tem direito a uma vida privada, e é direito dele escolher se vai discuti-la ou não em público”, declarou Patel. “O ato de gravar alguém em seu ambiente privado me diz que isso tem motivação política.”

O parlamentar Ben Wallace, que também tem defendido a candidatura de Johnson, escreveu no Twitter: “Isso é uma não notícia. Uma notícia melhor seria ‘casal tem discussão, vizinhos esquerdistas dão a gravação ao Guardian e jornal se rebaixa a publicá-la’.”

Relações com Steve Bannon

Johnson também está sendo questionado quanto à sua relação com o americano Steve Bannon, estrategista-chefe afastado do governo Donald Trump e atual articulador de uma onda de líderes populistas de direita pelo mundo – e que é próximo à família do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

Imagens publicadas pelo jornal britânico Observer mostram Bannon dizendo que ajudou a produzir o discurso de renúncia de Johnson, quando este abandonou o cargo de secretário de Theresa May no ano passado.

Bannon e Johnson se conheceram quando ambos trabalhavam para os governos de seus respectivos países e, segundo a agência France Presse, há relatos de que eles teriam se reencontrado informalmente em 2018.

À época, Johnson afirmou que sua “suposta relação” com Bannon era uma “alucinação da esquerda” e que a suposição de que eles teriam um relacionamento profissional era “absurdo a ponto de ser uma teoria da conspiração”.

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