Após a ilusão e a corrupção, Temer vai ao delírio

 

Josias de Souza

Num sucesso feito de marketing, cada vírgula corresponde a uma trapaça. Michel Temer descobriu da pior maneira que a marquetagem, quando é demasiada, acaba engolindo o marquetado. O que mais chamou atenção nos festejos do segundo aniversário do governo foi o slogan: ”O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Piada pronta. Com a vígula, Temer vira um neo-JK e o país avança duas décadas em dois anos. Sem ela, Temer se converte num lunático que celebra o retrocesso.

Ridicularizado, o presidente ralhou com o marqueteiro Elsinho Mouco e abandonou o slogan. Mas manteve-se na trilha do ridículo. O discurso que pronunciou na pajelança dos 2 anos provocou tédio e espanto. Foi tedioso porque o orador utilizou, mecanicamente, os símbolos de sempre. Foi espantoso porque Temer revelou-se o único brasileiro além dos seus áulicos a não se dar conta de que a simbologia que seu governo conseguiu transmitir em dois anos foi a marca da corrupção.

Foi graças à corrupção que Temer atingiu o ápice da autossuficiência. Ele mesmo prometeu o céu, ele mesmo mergulhou o governo no inferno e ele mesmo faz o favor de explicar aos 70% de bobalhões que o desaprovam que nunca ninguém administrou o Brasil tão mal tão bem quanto ele.

O governo Temer divide-se em três etapas. A fase da ilusão reformista foi interrompida pelo grampo do Jaburu, que deu início ao ciclo da descoberta da corrupção alarmante. Vive-se agora o estágio do delírio. Sob o risco real de ser preso ao deixar o cargo, Temer brinca de estadista à beira do precipício.

Temer não pode levar o nariz ao meio-fio sem que seus ouvidos sejam invadidos por vaias. Mas prega a “pacificação” do país. Acusado de desonestidades que afrontam os preceitos morais e éticos previstos na Constituição, ele leciona: “Não podemos ter o descumprimento permanente do texto constitucional.” O presidente das mesóclises tropeça na vígula sem se dar conta de que a plateia avalia que seu governo não merece senão um ponto final.

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