Após descobrir contaminação por mercúrio em garimpo na Amazônia, pesquisadoras são ameaçadas

Grupo foi ameaçado após oferecer testes sobre o material a mulheres da região

Redação
Foto: Divulgação/Polícia Federal
Foto: Divulgação/Polícia Federal

 

Após descobrirem a contaminação por mercúrio em lago situado em Vila Nova, local de garimpo no estado do Amapá, pesquisadoras foram ameaçadas. Segundo a Folha de S.Paulo, elas queriam disponibilizar para mulheres informações e testes para acompanhar a situação.

No primeiro dia, parte dos testes foi feito. No segundo, vieram ameaças. A equipe de coleta, composta só por mulheres, conseguiu fazer cerca de 20 coletas de fios de cabelo de moradoras. Foram, então, passar a noite em Pedra Branca do Amapari, para depois retornar à vila e continuar o trabalho.

Na manhã seguinte, conforme relatos à Folha, o frentista de um posto da cidade avisou que haveria um recado na estrada para elas. Próximo ao acesso para a comunidade, havia uma caminhonete abandonada em chamas.

“Elas entenderam o recado”, informou Decio Yokota, coordenador de gestão de informação do Iepé (Instituto de Pesquisa e Formação Indígena), uma das entidades que apoiaram o projeto. “Elas entenderam que não era para voltarem.”

A pesquisa foi desenvolvida pelo Ipen (sigla em inglês para Rede Internacional de Eliminação de Poluentes) e pelo Bri (Biodiversity Research Institute). Segundo Yokota, elas já haviam sido abordadas por garimpeiros homens, possivelmente que dirigiam os garimpos ilegais na área, que as questionaram sobre o que estavam fazendo.

O caso ocorreu no final de 2019, e a última etapa da ideia, que seria mostrar os resultados para as mulheres testadas, ainda não foi concluída devido à pandemia. Os resultados foram divulgados neste ano. O representante do Iepé afirma que as 34 mulheres do garimpo — que, segundo ele, incluíam esposas de garimpeiros, garimpeiras de fato e mulheres que sobrevivem da prostituição no local— analisadas na pesquisa se mostraram interessadas em se testar.

De acordo com ele, a contaminação que ocorre diretamente no garimpo, pelo manuseio do mercúrio para separação do ouro, é aguda, violenta e extremamente perigosa. “Mas, se a pessoa sair do garimpo, o mercúrio vai saindo do corpo”, disse ele.

Ainda conforme a Folha, outro problema grave na região é a contaminação por metilmercúrio (100 vezes mais tóxico que o mercúrio em metal), por meio da ingestão de peixe contaminado.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que o consumo de peixe é, de forma geral, a principal forma de exposição humana ao mercúrio (metilmercúrio na verdade). Todas as mulheres da região de Vila Nova que participaram da pesquisa consumiam peixe pelo menos uma vez por semana.

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