Após fala de Bolsonaro, servidores e cientistas se solidarizam com diretor do Inpe

Servidores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e de outras áreas de ciência e tecnologia, além de movimentos sociais, fizeram na tarde desta segunda-feira (22) ato de desagravo ao diretor do órgão, Ricardo Galvão, depois de críticas públicas feitas na semana passada por Jair Bolsonaro, ao queixar-se da divulgação de dados sobre desmatamento. A declaração do presidente da República também teve repercussão ruim entre estudiosos do setor, e o Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifestou apoio a Galvão.

A manifestação de hoje, diante da sede do Inpe, em São José dos Campos, interior paulista, foi organizada pelo Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT). “O homem da ‘arminha’ inaugura, com este despropósito, uma inusitada postura, indigna de qualquer mandatário do país: lançar levianas e irresponsáveis suspeitas sobre a reputação da instituição e sobre a reputação de um cientista, seu diretor”, afirma a entidade, em nota pública.

Além de cobrar uma manifestação do ministro da área, Marcos César Pontes, o sindicato ofereceu solidariedade a Galvão, que “defendeu o instituto e enalteceu o espírito laborioso de seus profissionais, que heroicamente seguem produzindo conhecimentos e informações úteis aos país, mesmo sob o esvaziamento dos Recursos Humanos, dos cortes e contingenciamentos orçamentários e sofrendo com a depreciação salarial das Carreiras de C&T”.

Na última sexta-feira (19), Bolsonaro questionou os dados do instituto sobre crescimento do desmatamento da Amazônia e os próprios interesses do diretor do Inpe, que poderia estar “a serviço” de uma organização não-governamental. Também fez menção ao que chamou de “psicose ambiental” no país. Hoje, ele afirmou que a divulgação desse tipo de informação “dificulta” negociações comerciais com outros países. E acrescentou que precisa ter conhecimento prévio dos dados para não ser “pego de calças curtas”.

Imagem negativa

“Em ciência, os dados podem ser questionados, porém sempre com argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza”, afirma a SBPC. “Desmerecer instituições científicas da qualificação do INPE gera uma imagem negativa do País e da ciência que é aqui realizada. Reafirmamos nossa confiança na qualidade do monitoramento do desmatamento da Amazônia realizado pelo INPE, conforme a carta anteriormente enviada ao Presidente da República, e manifestamos nossa preocupação com as ações recentes que colocam em risco um patrimônio científico estratégico para o desenvolvimento do Brasil e para a soberania nacional.”

Galvão deu entrevistas em que reagiu às declarações de Bolsonaro. “Sou republicano e [acredito] que ele tem várias propostas que vão em benefício do país, mas ele tem tido realmente comportamento que não respeita a dignidade e liturgia da Presidência”, declarou à TV Vanguarda, afiliada da Globo. “Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo Inpe, começaram já em meados da década de 70 e a partir de 1988 nós temos a maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais respeitada mundialmente. (…) Tenho 71 anos, 48 anos de serviço público e ainda em ativa, não pedi minha aposentadoria. Nunca tive nenhum relacionamento com nenhuma ONG, nunca fui pago por fora, nunca recebi nada mais do que além do meu salário com o servidor público.”

“O país tem vivido tempos inquietantes, frequentemente abalado por sobressaltos e escândalos contra a civilidade, a educação e a elegância”, diz ainda a nota dos servidores. “O mais consternador é que estes episódios se originam diretamente de atos e palavras do presidente da República, uma vergonha que expõe o Brasil ao ridículo internacional ou, quando melhor, à solidária compaixão dos povos.”

Por RBA

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