As ameaças contra a Lava Jato e afins

Por Jorge Serrão 

Eduardo Cosentino da Cunha passou sua primeira noite, sozinho, em uma cela da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Com bastante certeza, as primeiras reflexões insones de Cunha devem ter tirado o sono da maioria dos políticos corruptos que infestam Brasília e adjacências. Especialmente seus aliados do PMDB, todos ficaram tensos: alguns tristes, e muitos, apavorados. O encarceramento preventivo o do ex-deputado, absolutamente previsível, provocou ontem uma falta de quorum. Todos perguntam: o que vai acontecer a partir de agora que o mais influente ex-Presidente da Câmara foi preso pelo juiz Sérgio Moro?

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O clima de insegurança entre os parlamentares é flagrante. O maior pavor é que Cunha faça um acordo de delação premiada, a fim de tentar aliviar a situação de sua esposa, Cláudia Cruz, e da filha Daniele, todas enroladas com ele no mesmo processo judicial. O governo peemedebista preferiu ficar quietinho, em silêncio forçado, sabendo que algo parecido pode acontecer, a qualquer momento, contra o Presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros, alvo de vários processos que caminham, em passo de tartaruga, no Supremo Tribunal Federal. Renan já deve estar trancafiado em si mesmo, por medida preventiva… Cunha, o primeiro peixão grande do PMDB está vendo o sol nascer quadrado. Outros tubarões entram na fila.

Depois de Luiz Inácio Lula da Silva, com certeza, Eduardo Cunha é um dos políticos que mais tem informações privilegiadas sobre o esquema político que opera a desgovernança do crime institucionalizado no Brasil. Por isso, sem qualquer dúvida, todos os aliados de Cunha – incluindo muitos inimigos dele – têm tudo a temer (sem trocadilho infame entre o verbo e o sobrenome do marido da Marcela Temer). A prisão de Cunha complica a governabilidade de Michel Temer – um presidente sub júdice, já que o Tribunal Superior Eleitoral analisa um complicado processo, sem prazo para se resolver, para apurar flagrantes crimes nas contas de campanha da chapa presidencial Dilma-Temer.

Assim, se causa desconforto político, a prisão de Cunha volta a alimentar uma certa apreensão no mercado financeiro – que já vinha celebrando, com muita marketagem, aquela esperança de recuperação econômica menos demorada. O pragmatismo cínico rentista, baseado em resultados imediatistas a qualquer custo (preferencialmente os mais baixos possíveis para gerar mais lucratividade), pode se transformar em um fator psicológico contra as investigações sobre a corrupção institucionalizada no Brasil. Muitos tubarões gigantes do mercado, malandramente, já se dispõem a “investir” para que tsunamis como a Lava Jato parem de evoluir…

Magistrados que atuam no ritmo de Sérgio Moro e as diversas Forças tarefas, sobretudo a da Lava Jato, devem ficar mais espertos que nunca, porque a previsão da meteorologia é de tempo fechando para o lado deles. Um Vórtice Ciclônico de Baixo Nível, vindo das profundezas infernais de nosso corrupto submundo político-empresarial, tem tudo para causar danos graves, nos bastidores, contra membros do Judiciário e do Ministério Público. A temporada da covardias e jagunçagens está escancarada.

O enfrentamento será inevitável. O crime institucionalizado leva vantagem pela organização. No entanto, a sociedade também reage de modo cada vez mais organizado, exigindo o aprimoramento das instituições falidas pela ação criminosa. Detonar os núcleos corruptos de vários partidos é fundamental e urgente urgentíssimo. O passo seguinte é a mudança estrutural do Estado brasileiro. Sem isto, o crime continua ganhando o jogo antecipadamente.

Vale repetir por 13 x 13: Mais importante que as diferentes e destrutivas delações premiadas de políticos, empresários, empregados ou laranjas deles, é o movimento crescente de intolerância contra a corrupção sistêmica – um sentimento gerado e consolidado nos segmentos esclarecidos da sociedade brasileira.

Quem não agir e reagir vai rastejar para o crime. No entanto, todo cuidado é pouco com as “ameaças fantasmas”…

Reveja a segunda edição de ontem: Muito além da prisão do Cunha

 

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