Áudio revela quem é o líder ruralista que tentou impedir a caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul

Sérgio Malgarin

DE SANTA MARIA, POR JOAQUIM DE CARVALHO, EM REPORTAGEM FINANCIADA PELOS LEITORES, ATRAVÉS DE PROJETO DE CROWDFUNDING.

Lula encerrou por volta das 21h30 o discurso que fez para moradores do bairro Nova Santa Marta, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Parecia bem humorado e lembrou quando esteve lá, na década de 90, quando a área era uma ocupação de movimento de trabalhadores sem teto. O bairro hoje está urbanizado, e uma da pioneiras, Elisa Pinheiro, conta como sua vida foi transformada.

“Cheguei aqui como uma doméstica que dormia e acordava com a preocupação do aluguel”, disse ela, que é presidente da associação dos moradores. Hoje, ela tem dois filhos na universidade, e já não vive do emprego doméstico.

“Minha vida se transformou. Dignidade, a gente sempre teve. Só que agora nós pudemos melhorar um pouquinho. Filho de pobre virou doutor. E eu falo isso com orgulho”, afirmou, enquanto Lula, do alto do caminhão de som, discursava.

Se Lula estava preocupado, não demonstrou.

Durante a tarde, deputados petistas procuraram o governo federal e o governo estadual para denunciar ameaças que a caravana vem sofrendo.

“São as mesmas pessoas, é uma milícia armada, que tem perseguido a caravana para nos ameaçar. Só que não vão nos amedrontar. O que queremos é que os governos estadual e federal saibam que a segurança de dois ex-presidentes — Lula e Dilma — é de responsabilidade deles”, disse Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido.

Enquanto Lula discursava, nos bastidores assessores e lideranças petistas discutiam duas notícias que chegavam de Brasília. Uma dava conta de que o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, decidiu levantar uma questão de ordem na sessão desta quarta-feira, no Supremo Tribunal Federal, sobre a não inclusão, na pauta da corte, da ação que decide se é inconstitucional a prisão a partir da condenação em segunda instância.  O alvo da questão de ordem é Cármen Lúcia, presidente do STF.

A outra notícia é a de que a Rede Globo teria aumentado a pressão para que a presidente do Supremo Tribunal não paute a ação.

Por que a emissora estaria tão mobilizada em torno de um assunto que compete a um dos poderes da república? A Globo vem se empenhando na campanha para destruir a imagem de Lula há bastante tempo, e agir assim faria parte de sua estratégia. Mas a presidente do STF se curvar a essa pressão é estarrecedor.

Cármen Lúcia era assunto entre os aliados de Lula em Santa Maria, enquanto a segurança de Lula se ocupava também de outras questões.

Os responsáveis pela segurança de Lula receberam o áudio que uma manifestação de um ruralista em grupo de whatsapp. Um dos participantes do grupo vazou o áudio, em que um homem diz que pretende impedir a entrada de Lula em São Borja, marcada para esta quarta-feira.

O interlocutor cita o líder ruralista Sérgio Malgarin como organizador do protesto:

“Eu sugiro que hoje (terça-feira) a gente se reúna no Sindicato Rural, na medida em que as máquinas vão chegando e de lá a gente saia com uma posição firme sobre a questão amanhã, que é para onde nós vamos nos dirigir, nunca esquecendo que, para a gente trancar trevo e achar que vai trancar a entrada do Lula, nós temos que monitorar lá de Santa Maria a saída dele de lá, e seguir para ver, porque senão botam ele para dentro do carro e o carro entra, e nós estamos em todos os trevos, não tem ninguém aqui, e ele faz e acontece. Muita atenção para isso. E a ideia é, no centro da cidade, nós locarmos um carro de som, um trio elétrico da Cosmos Sonorizações, altamente potente, pedir para o Alemão fazer uma coisa forte, e fazer como fizemos em Bagé, não deixar ele falar”.

O áudio revela que o protesto contra Lula no Rio Grande do Sul é organizado pelo mesmo grupo. Não é numeroso, mas segue um padrão: ao mesmo tempo em que ameaçam a caravana, enaltecem Jair Bolsonaro, presente das bandeiras e camisetas dos manifestantes.

Sérgio Malgarin já foi secretário da Agricultura de São Borja e é produtor de vinho.

Em Santa Maria, um empresário que é dono de uma clínica médica e de um posto de gasolina cancelou o contrato que permitia a dois ônibus da caravana estacionar numa área que pertence a ele. Há algumas semanas, ele já tinha aceitado receber os veículos, mas mudou de ideia.

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