‘Bolsonarismo nada mais é do que uma expressão antilulista’

Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem

O cientista político Adriano Oliveira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lança no próximo dia 25, na Livraria Jaqueira, às 18h, o livro Qual foi a influência da Lava Jato no comportamento do eleitor? Do lulismo ao bolsonarismo. Oliveira analisa o impacto da operação através de pesquisas de opinião e de uma fórmula criada por ele, concluindo que as investigações foram decisivas nas eleições presidenciais de 2018 e, sem elas, o resultado poderia ser outro. “O ‘bolsonarismo’ não existe, o que existe é um ‘incipiente bolsonarista’”, defende. Para ele, se não fosse a Lava Jato, não haveria esse fenômeno.

Oliveira vê o fanatismo ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) como algo “frágil” e que, comparado ao que há em relação ao ex-presidente Lula (PT), segundo ele, “não tem raízes no eleitoral”. “O ‘bolsonarismo’ nada mais é do que uma expressão ‘antilulista’”. afirma.

Para Adriano Oliveira, até setembro de 2018 a adesão a Bolsonaro ainda não estava concretizada. Ele avalia que havia um antipetismo forte, influenciado pela Lava Jato, mas que o eleitor ainda não havia tomado uma decisão. Na opinião do professor, um fator decisivo para a migração dos votos para o atual presidente foi a facada da qual foi vítima durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG), um mês antes do primeiro turno. “Em 2018 ocorre uma forte recuperação do lulismo, mas p antilulismo se mantém estável e continua sendo alimentado pelas operações. O fato novo de 2018 foi a facada. E se não tivesse ocorrido a facada? (Geraldo) Alckmin (do PSDB) poderia estar no segundo turno? Poderia”, analisa.

O cientista político aponta que um dos fatores que demonstram a influência da Lava Jato na opinião pública é o fato de a corrupção aparecer pela primeira vez em pesquisas como o principal problema do País em 2015. Antes disso, de acordo com Oliveira, os problemas apontados eram prioritariamente desemprego, saúde e violência. Foram analisadas pesquisas realizadas pelos institutos Datafolha, Ipsos, Ibope, Uninassau e Cenário Inteligência.

“O petismo era pujante e passa a entrar em declínio. Em 2016, o ano do impeachment, é quando tem a maior taxa de impacto da Lava Jato. Quando Dilma Rousseff, do PT) é afastada, a Lava Jato perde sua taxa de impacto”, relata. “Não estou sugerindo nenhuma intencionalidade da Lava Jato, só estou mostrando como a opinião pública era favorável ao impeachment. Um fato interessante é que quando (Michel) Temer (do MDB) assume, a Lava Jato perde o ritmo e o que ocorre é que o lulismo readquire força, não o suficiente para voltar ao que era antes da Lava Jato, mas para estar no segundo turno”.

Para apontar essa taxa de impacto anual da operação, Adriano Oliveira usou uma fórmula em que somou os números de operações, conduções coercitivas e prisões, dividiu por 365 e multiplicou por 100. Os números são apontados no livro, que tem 138 páginas e foi editado pela CRV, em Curitiba. A tiragem da primeira edição foi de mil cópias.

Adriano Oliveira afirma ainda que “o lulismo não morreu” e que é inversamente proporcional à opinião do eleitor favorável à operação. “Na região Nordeste, o apoio à Lava Jato é menor, assim como o lulismo é maior”, diz. Para ele, porém, a sua recuperação depende do sucesso ou da falência do que chama de incipiente bolsonarista, ou seja, do governo Bolsonaro. “O lulismo virou malufismo: rouba mais faz. O eleitor afirma que Lula é ladrão, mas gosta dele pelo que ele fez”.

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