Prefeito licenciado da cidade de São Paulo Bruno Covas (PSDB)
André Bueno/Câmara Municipal da São Paulo

Prefeito licenciado da cidade de São Paulo Bruno Covas (PSDB)

O tumor que levou o prefeito de São Paulo , Bruno Covas (PSDB), a ser internado em unidade de terapia intensiva (UTI) e intubado, na manhã desta segunda-feira (3), após ter um sangramento no estômago , é mais comum em idosos e costuma ser silencioso. Por serem, na maioria das vezes, assintomáticos, acabam sendo descobertos em exames feitos por outros motivos ou em investigações associadas a refluxo gástrico, esofagite ou a sintomas provocados por metástase em outros órgãos do corpo.

“São tumores que demoram a dar sinais e o tratamento depende do estágio da doença, do quão avançada ela está. Se houver metástase, ele é sistêmico e tem que tratar a doença não apenas nos pontos visíveis, mas o organismo como um todo”, explica Fernanda Capareli, do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, que não integra a equipe que cuida de Bruno Covas.

Especialista em tumores gastrointestinais, Fernanda diz que cirurgia só é indicada em casos muito iniciais da doença. Os protocolos de tratamento são combinações de substâncias quimioterápicas, radioterapia, anticorpos monoclonais e combinações de quimioterapia com imunoterapia.

“Quanto a doença está localizada o tratamento todo é curativo. Quando há metástase falamos em controle da doença. Não temos nenhum tratamento que consiga falar em cura e o objetivo é cronificar (tornar crônica) a doença”, explica a médica.

Fernanda afirma que as estatísticas publicadas em estudos direcionam os tratamentos, mas que cada doença é única e de comportamento biológico distinto.

“Em medicina não tem zero nem 100%. O sucesso do tratamento depende do estádio da doença, do quanto ela é responsiva ao tratamento e se o paciente terá acesso aos tratamentos aprovados. Ao prognosticar um indivíduo, sabemos que tende a se comportar como a maioria dos casos estudados, mas a doença é única, de comportamento biológico distinto. O paciente pode responder mais ao tratamento ou ter uma evolução muito pior”, diz ela.

Segundo ela, em menos de 10% dos tumores se consegue identificar predisposição genética. Na maioria dos casos, o principal é a mutação celular do próprio corpo associada a fatores de risco, como tabagismo, refluxo, obesidade e a presença da bactéria H. pylori, causadora de úlceras e gastrite.

A oncologista Renata D’Alpino, do Grupo Oncoclínica, que também não faz parte da equipe que trata Covas, afirma que o tipo de tumor do prefeito licenciado não está entre os cinco com maior número de ocorrências no Brasil, mas não é um tipo raro.

“O tratamento com quimioterapia prejudica a replicação das células cancerígenas e a imunoterapia acelera o sistema imune do paciente, mas nem todo tumor responde”, afirma.

Segundo ela, os tumores do aparelho digestivo não respondem muito bem à imunoterapia, um dos tratamentos mais modernos disponíveis aos pacientes.

“É um tratamento caro e que não está disponível na rede pública de saúde. Além disso, a imunoterapia não dá os efeitos colaterais da quimioterapia, mas não é isento de problemas. Em alguns casos, o sistema imune pode desenvolver inflamações”, explica Renata.

Segundo ela, a imunoterapia é feita, em geral, a cada duas semanas e o custo de cada sessão gira em torno de R$ 40 mil. Nos planos de saúde há cobertura para tratamento de tipos específicos de câncer, onde já há estudos mais aprofundados, como melanomas e tumores de pulmão e rim.

Renata afirma que alguns tumores são refratários aos tratamentos e torna mais difícil as chances de sucesso.