Cientistas conseguem reproduzir filhotes de ratos de casais do mesmo sexo

Uma nova técnica que usa células-tronco modificadas ‘apagando’ grupos químicos do DNA associados ao sexo consegue obter descendentes viáveis de ratos a partir de duas fêmeas

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Rato nascido de duas mães adultas, com seus próprios filhotes. LEYUN WANG EUROPA PRESS

Uma equipe de pesquisadores conseguiu reproduzir descendentes de ratos viáveis de casais do mesmo sexo graças a uma nova técnica que usa células-tronco modificadas, apagando grupos químicos do DNA associados ao sexo. É a primeira vez que esse método foi usado com sucesso, depois de pesquisas anteriores que recorreram a outras técnicas para reproduzir descendentes a partir de casais do mesmo sexo. O estudo foi publicado na quinta-feira na revista Cell Stem Cell.

Muitas espécies de animais são capazes de se reproduzir com métodos que não exigem um casal formado por macho e fêmea, como acontece com répteis, anfíbios e peixes. Mas o processo é mais complicado no caso dos mamíferos. “Estávamos interessados na questão de por que os mamíferos só podem experimentar a reprodução sexual”, disse à revista um coautor do estudo, Qi Zhou, da Academia Chinesa de Ciências.

O estudo desenvolveu um complexo processo de manipulação genética com o qual foram eliminadas anomalias geradas no processo reprodutivo de casais do mesmo sexo. Os mamíferos geralmente herdam dois conjuntos de genes, um da mãe e outro do pai. Mas um grupo químico do DNA associado ao sexo, a chamada “impressão genética”, é herdado de um único genitor.

Nesse caso, o subconjunto do outro genitor fica inativo, pois é apagado ao transmiti-lo. Se o processo de apagamento não funcionar corretamente, o filhote pode sofrer anomalias ou até morrer. A mistura de material genético de casais do mesmo sexo apresenta o risco de os bebês receberem dois conjuntos de impressões genéticas.

Usando dois conjuntos de DNA de fêmeas de rato, os cientistas conseguiram produzir 29 filhotes a partir de 210 embriões, que conseguiram viver até a idade adulta e se reproduzir normalmente. Mas os ratos obtidos a partir de dois conjuntos de material genético masculino sobreviveram apenas 48 horas

O estudo usou células-troncoembrionárias haploides, que se parecem com as “células germinativas originais, as precursores dos óvulos e dos espermatozoides”, explicou outro coautor, Baoyang Hu. Depois alteraram a composição das células, apagando as “regiões com impressões genéticas” para imitar o processo de apagamento que ocorre na reprodução normal.

Usando dois conjuntos de DNA de fêmeas de rato com manipulações genéticas os cientistas conseguiram produzir 29 filhotes a partir de 210 embriões, que conseguiram viver até a idade adulta e se reproduzir normalmente. Mas os ratos obtidos a partir de dois conjuntos de material genético masculino (que foram injetados em um óvulo de rato cujo núcleo fora removido e, portanto, o material genético feminino) sobreviveram apenas 48 horas. Os pesquisadores planejam estudar por que o processo não funcionou.

Dusko Ilic, pesquisador de células-tronco do King’s College, em Londres, qualificou o estudo como “de ponta” e acredita que poderá lançar luz “sobre diferentes aspectos da reprodução entre mamíferos e abre novas portas para futuras pesquisas”, disse à agência SMC. “Explorar como aplicar tecnologias semelhantes no futuro próximo para os seres humanos é impossível. O risco de anomalias graves é muito alto, e serão necessários muitos anos de pesquisa com diferentes animais para saber como se poderia fazer isso com segurança.”

“Os autores deram um passo extremamente importante para que possamos entender por que os mamíferos só se reproduzem sexualmente”, diz Christophe Galichet, pesquisador do Instituto Francis Crick.

Embora as aplicações desta pesquisa sejam em grande medida teóricas, poderiam melhorar os métodos de clonagem de mamíferos e inclusive, no longo prazo, os tratamentos de fertilidade para casais do mesmo sexo, afirmam os autores.

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