Cinemas pornô resistem ao tempo e à internet

Cravados nos centros das grandes cidades, estes estabelecimentos mantêm uma clientela assídua em meio ao cotidiano das metrópoles

Paulo Uchôa/LeiaJáImagensO Majestick é um dos cinemas pornôs que se mantém ativos no centro do RecifePaulo Uchôa/LeiaJáImagens

Eles estão localizados em pleno centro da cidade do Recife, dividindo as ruas e seus frequentadores como qualquer outro ponto comercial. Os cinemas pornô, que exibem filmes de conteúdo adulto, tanto de temática hétero quanto LGBT, já não são muitos na área central da metrópole, mas mantêm clientes assíduos e povoam o imaginário dos transeuntes, gerando curiosidade numa espécie de lenda urbana real. O Majestick Cine Club é um deles.

Localizado na Rua Princesa Isabel, ao lado do Parque 13 de Maio, no bairro de Santo Amaro, o Majestick funciona de domingo a domingo há cinco anos. Ocupando um endereço que pode ser classificado como nobre, em um local de intensa movimentação de pessoas, o cinema nem levanta tantas suspeitas sobre sua programação, uma vez que sua fachada é ‘lisa’ e só quem ultrapassa os limites da entrada é que tem acesso ao verdadeiro conteúdo da sala de projeção – que exibe três filmes por dia, estrangeiros e nacionais, todos de temática hétero (em breve, será aberta, também, uma sala LGBT).

Alexandre Lima, de 31 anos, é quem gerencia o lugar há pouco mais de três anos. Ele revela que os dias de maior movimento são quinta, sexta e segunda, sobretudo a segunda; e a sessão mais concorrida é à tarde, por volta das 16h30. O cinema recebe de 150 a 200 pessoas por dia; a maior parte da clientela formada por homens (numa faixa etária que vai dos 40 aos 70 anos), embora  ainda apareçam alguns casais e mulheres desacompanhadas: “O público, em 70%, é feito de homens de vida dupla. Aqui eles vão encontrar o que procuram com facilidade”, diz o gerente que revela, ainda, conhecer alguns de seus clientes pelo nome, devido à recorrência das visitas.

Tamanho sucesso de público pode parecer incompreensível diante da facilidade do acesso à pornografia hoje em dia. A internet oferece a possibilidade, quase que irrestrita, de acessar conteúdos dos mais variados segmentos e nichos, de maneira privada e discreta. Porém, o apelo dos cinemas pornô é, ainda, o contato humano, coisa que a modernidade da rede não consegue contemplar. “A galera quer aquele contato, pele com pele, aquela ‘mão amiga’, e aqui eles vão encontrar isso. É uma oportunidade de conhecer pessoas”, explica Alexandre.

Por dentro 

A sala de projeção do Majestick conta com 103 lugares. Ao entrar nela, Alexandre comenta: “O cheiro aqui é muito forte, né? Mas eu já me acostumei”. Há uma espécie de código secreto entre os frequentadores. Por trás da tela, um bar com luzes coloridas e uma televisão ligada em um canal de TV aberta, entretendo alguns clientes desinteressados na sessão: “Tem gente que paga o ingresso e passa o dia inteiro assistindo televisão”, conta o gerente. O Majestick também oferece uma área aberta, um jardim com mesinhas e bancos sob o céu, e cabines de lan house privada “Para um cliente muito tímido que quer chegar ao prazer dele mas se incomoda com a presença dos demais.” Aos sábados, o bar recebe DJs para animar o local e transformar o cinema em festa.  O valor dos ingressos é R$ 6; para a lan house, é cobrado R$ 5 por hora.

Comércio do sexo

Um cinema pornô em pleno funcionamento no coração da cidade desperta muita curiosidade. “A galera mais jovem nem sabe que existe e os mais velhos acham que com a tecnologia esses cinemas tinham acabado”, diz o gerente do Majestick. Ele também conta que além da curiosidade é preciso lidar com o preconceito de algumas pessoas e questionamentos quanto à conduta dos clientes e se ele próprio recebe propostas para fazer programas em seu local de trabalho. A prostituição, inclusive, já foi comum nesses estabelecimentos, porém, hoje em dia, é evitada: “Nós não permitimos, se  ficarmos sabendo de alguém que está fazendo prostituição, a gente pede que se retire. Tentamos ao máximo, por meio de avisos dentro do cinema, evitar que aconteça. Ou quando chega alguém procurando, a gente já barra logo na entrada. Mas é uma coisa que é difícil a gente controlar.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *