CNI diz que China já eleva barreiras comerciais contra o Brasil para favorecer Estados Unidos

(Foto: Xinhua)

Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) identificou que as barreiras comerciais praticadas contra produtos brasileiros no comércio internacional chegam a 70.

Segundo a última atualização publicada no portal da confederação, foram encontradas 17 novas barreiras somente entre março e maio. Dessas, 10 foram impostas pela China. As outras foram criadas pelo México, Arábia Saudita, Argentina, Índia e União Europeia.

Segundo Johnny Mendes, professor de Economia e Finanças da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), especialista em Comércio Exterior, o Brasil historicamente priorizou acordos comerciais com a América Latina, mas esses acordos acabaram não sendo vantajosos.

“Nesse momento o que deve motivar o crescimento de barreiras comerciais a produtos brasileiros é a consequência dos relacionamentos que o Brasil construiu ao longo de anos. O país investe, já investiu e continua investindo em acordos comerciais na América Latina ou na América do Sul, porém esses acordos não tendem a ter boas vantagens para o país”, disse à Sputnik Brasil.

Mendes atribui o crescimento de barreiras impostas pela China, com quem o Brasil mantém intensas trocas comerciais, à guerra comercial entre Pequim e Washington. De acordo com o economista, para atender às exigências dos EUA, os chineses têm deixado alguns produtos brasileiros de lado.

“A China tem realmente se dedicado a cumprir essas métricas que os americanos desejam para que eles façam convenções que favoreçam os dois países. Dessa forma eles tendem a privilegiar produtos que poderiam ser fornecidos pelo Brasil a serem fornecidos pelos Estados Unidos”, explicou.

Mendes diz que o Brasil precisa construir relações sólidas para que, mesmo em momentos de crise econômica como a causada pela pandemia da COVID-19, o país consiga manter parcerias comerciais.

“[O Brasil] deveria se desgastar um pouco mais com relacionamentos de longo prazo que favoreçam, inclusive, situações de crise como essa que nós estamos passando”, defendeu.

Para tentar acabar com algumas dessas barreiras, Johnny Mendes sugere que o Brasil faça negociações de forma bilateral.

“O Brasil pode intervir em cada país e procurar entender o motivo da barreira. Em alguns casos são referentes a subsídios, em outros casos são referentes a aumento de tributos e a partir daí tentar relacionar, selecionar uma convenção que os países já haviam estabelecido e tentar negociar com esses países de forma bilateral”, disse.

Quebrar as barreiras deve ser uma agenda público-privada, defende CNI

No levantamento a Confederação Nacional da Indústria apontou que das 70 barreiras identificadas, o governo brasileiro conseguiu resolver apenas sete.

Para Constanza Negri Biasutti, gerente de Política Comercial da Confederação Nacional da Indústria, o aumento de barreiras comerciais se deve às muitas regulações exigidas com base na proteção do consumidor.

“Hoje em dia há muitas exigências legítimas de proteção ao consumidor e a saúde que fazem com que muitos regulamentos internos do país, então questões não só na fronteira, mas que acontecem dentro dos países, acabem criando obstáculos desnecessários ao comércio e se transformando em barreiras”, disse à Sputnik Brasil.

Mas, para além das questões de saúde, Biasutti acredita que muitas vezes as barreiras são impostas pelos países por conta de medidas protecionistas.

“Há uma tendência em alguns países de tomar medidas protecionistas e criar impedimentos de acesso ao mercado em diferentes setores onde se têm interesses defensivos”, disse.

A gerente de Política Comercial da CNI defende que a diminuição das barreiras é algo que precisa ser encarado tanto pelo setor público quanto pelo setor privado.

“É preciso lembrar que isso é uma agenda público-privada. O setor privado precisa estar sensibilizado de um lado para poder identificar e apontar ao governo quais são essas barreiras para que assim o governo possa ter os insumos bem embasados para defender junto a terceiros países a derrubada dessas barreiras”, completou.

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