Copa América: cinco momentos curiosos que marcaram a história do torneio

 

Troféu da Copa América 2019Campeão será definido em 7 de julho no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro

Começa no dia 14 de junho a 46ª edição da Copa América, a principal competição de futebol entre seleções sul-americanas masculinas.

Sediado no Brasil pela quinta vez, o torneio reunirá dez países da região – Argentina, Brasil, Bolívia, Chile (o atual campeão), Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai (o maior campeão de todos os tempos, com 15 títulos) -, além de dois convidados: Japão e Catar. A final será no dia 7 de julho, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

Criada em 1916, a Copa América é uma das competições entre seleções de futebol mais antigas do mundo, superada apenas pelo British Home Championship, que foi realizado anualmente entre Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte entre 1883 a 1984, e pelas disputas do esporte nos Jogos Olímpicos, que acontecem desde 1908.

A primeira Copa América – chamada até 1975 de Campeonato Sul-Americano de Futebol – foi realizada para celebrar o centenário da independência da Argentina.

O torneio em Buenos Aires teve só quatro participantes: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.

Aproveitando o encontro, os países fundaram a Conmebol, a Confederação Sul-Americana de Futebol, a primeira das seis confederações que hoje fazem parte da Fifa.

Em seus 103 anos de história, a Copa América também foi palco de alguns momentos bastante inusitados. O jornalista argentino e historiador de futebol Luciano Wernicke selecionou para a BBC cinco acontecimentos mais curiosos do torneio.

1 – Quando o anfitrião quase foi eliminado por falta de jogadores

A edição inaugural, em 1916, entrou para a história não só por ser a primeira Copa América, mas pela ameaça de eliminação do país-sede por um motivo inesperado: a Argentina não tinha jogadores suficientes e teve de recorrer ao público no estádio para completar a equipe.

O futebol ainda era um esporte amador, e o país havia selecionado 11 jogadores, mas um deles teve uma viagem de trabalho inadiável e não pode jogar a segunda partida do campeonato.

Não havia substituições na época. Todos os jogadores deveriam disputar o jogo inteiro, e não havia cartões amarelos ou vermelhos. Por isso, não se convocavam reservas.

Com somente dez jogadores, e faltando pouco para o início da partida, justamente contra o Brasil – a primeira, contra o Chile, a Argentina havia vencido por 6 a 1 -, os “hermanos” ficaram bem perto de serem eliminados em casa e só escaparam por um lance de sorte.

Um dos jogadores argentinos reconheceu na arquibancada do estádio em Buenos Aires um jogador do clube Huracán, José Laguna. Convocado in loco, Laguna não só jogou, como teve uma participação crucial ao marcar o único gol argentino da partida, que terminou em 1 a 1.

2 – A seleção que demorou 40 dias para voltar da Copa América

Depois dos dois primeiros torneios – o primeiro em Buenos Aires, na Argentina, e o segundo em Montevidéu, no Uruguai -, ambos conquistados pela seleção uruguaia, foi a vez de o Brasil ser anfitrião pela primeira vez, com os jogos realizados no Rio de Janeiro em 1919.

Chegar à cidade foi especialmente desafiador para os chilenos, que vinham de longe. Eles haviam viajado de trem até a Argentina, onde pegaram um navio com a seleção argentina até o Rio. Mas aconteceu um problema no caminho de volta do torneio – o primeiro conquistado pela seleção brasileira.

Cordilheira dos AndesA seleção chilena cruzou a Cordilheira dos Andes de mula para voltar do torneio em 1919

Uma tempestade de neve fechou a ferrovia e deixou os jogadores chilenos presos na cidade de Mendoza, na Argentina, próxima da fronteira com o Chile.

Sem dinheiro para se alojarem ali, numa época em que os jogadores pagavam a viagem do próprio bolso, a equipe tomou a decisão de cruzar a fronteira e a Cordilheira dos Andes de mula.

Eles demoraram mais duas semanas para chegar em casa. No total, os chilenos finalmente voltaram sãos e salvos a Santiago 40 dias depois de sair do Rio, e sem nenhum motivo para comemorar – ficaram em último lugar no campeonato.

3 – A proibição do Brasil a jogadores negros entre 1919 e 1922

Às vezes, a paixão pelo futebol gera mudanças sociais e até mesmo políticas. Isso aconteceu em 1922, quando o Brasil foi sede da Copa América pela segunda vez.

Um decreto do presidente Epitácio Pessoa (1865-1942) havia proibido que homens negros jogassem a liga local de futebol ou integrassem a seleção.

Isso deixaria de fora da equipe Arthur Friedenreich (1892-1969), um negro de pai alemão e mãe brasileira que era considerado à época o melhor jogador do país – e que havia sido o artilheiro da Copa em 1919, antes de a proibição ser imposta.

Mas, após desempenhos apáticos da seleção nos torneios de 1920 e 1921, houve uma campanha pelo retorno de Friedenreich à seleção, e ele jogou a edição de 1922, novamente no Rio de Janeiro. O Brasil ganhou mais uma vez a Copa América, e Pessoa revogou seu decreto.

Arthur Friedenreich – apelidado de “El Tigre”, “Mulato de olhos verdes” ou “Rei do futebol” – ainda é lembrado como um dos maiores jogadores do futebol brasileiro. Há quem diga que ele fez mais gols que Pelé, mas não há registros oficiais sobre isso.

4 – Recorde de pênaltis errados em uma mesma partida

A Copa América também teve fatos notórios que seus protagonistas prefeririam esquecer, como é o caso do jogador argentino Martín Palermo, que, na edição de 1999, conseguiu a façanha de perder três pênaltis em um só jogo.

Palermo perde pênalti na Copa América de 1999O grito de Palermo depois de errar o segundo dos três pênaltis ecoou pelo estádio

A façanha, que nunca se repetiu na história do futebol profissional, ocorreu num jogo contra a Colômbia. A Argentina perdeu o jogo por 3 a 0.

Como prêmio de consolação, Palermo terminaria o torneio como o artilheiro argentino, com três gols – dois a menos que os artilheiros da competição, Ronaldo e Rivaldo. O Brasil também sagrou-se campeão nesta edição.

5 – O país que chegou à final sem vencer

Na edição de 2011, disputada na Argentina, um finalista chegou à grande decisão sem ter vencido uma partida sequer, algo que nunca havia acontecido antes.

O Paraguai conseguiu esse feito inusitado ao empatar os três jogos que disputou na fase de grupos e conseguir a classificação como o segundo melhor terceiro colocado.

O Paraguai eliminou nos pênaltis o Brasil – em uma fatídica disputa de quartas-de-final em que nenhum brasileiro conseguiu converter sua cobrança – e a Venezuela, na semifinal, até chegar à final contra o Uruguai, que foi o campeão do torneio ao vencer por 3 a 0.

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