Crônica: Louvado seja o Salgueiro!

Louvado seja o Salgueiro!

Saio, hoje, neste comentário, da temática política para louvar o guerreiro time do Salgueiro, que representa o Interior e, especialmente, o Sertão, na final do campeonato pernambucano de futebol. Quem viu a semifinal contra o Santa Cruz, meu clube de coração, percebeu que a garra, a fúria e a valentia são produtos da mesma energia que brota da terra seca, do jeito valente de ser sertanejo.

Não é fácil para quem nasce e vive nas entranhas do Sertão euclidiano superar as adversidades cruéis para entrar na elite do futebol pernambucano. Quem nasce em chão que não ver chuva, mas que tem um canto belo, venha de onde vier, do sabiá, da acauã ou do repentista, parece condenado à pobreza, ao isolamento. Por isso, momentos de raras felicidades, como estar numa final no futebol, merece o tilintar de um champanhe.

O Salgueiro encarnou também a máxima de Euclides da Cunha, que disse que o sertanejo é antes de tudo um forte. Os atletas salgueirenses foram, na prática, o exército de Antônio Conselheiro, que não se rendeu um só instante. Luiz Gonzaga, o rei do baião, esteja onde estiver, deve estar comemorando, porque ninguém mais do que ele difundiu o Sertão e sua gente.

Uma das suas frases antológicas traduz isso tudo: “Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o Sertão, que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor”. Certamente, se ainda estivesse entre nós, Gonzagão cantaria o Carcará, símbolo do Salgueiro Futebol Clube, que virou uma bela melodia pela veia talentosa de Zé Ramalho.

”Carcará/ Lá no sertão/É um bicho que avoa que nem avião/É um pássaro malvado/Tem o bico volteado que nem gavião/Carcará/Quando vê roça queimada/Sai voando, cantando/Carcará/Vai fazer sua caçada/Carcará come inté cobra queimada/Quando chega o tempo da invernada/O sertão não tem mais roça queimada/Carcará mesmo assim num passa fome/Os burrego que nasce na baixada/Carcará/Pega, mata e come/Carcará/Num vai morrer de fome/Carcará/Mais coragem do que home/Carcará/Pega, mata e come”.

Com dizia Luiz Gonzaga, louvado seja o Sertão, recorro aos seus préstimos: Louvado seja o Salgueiro!

Por Magno Martins

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