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Ricardo Galuppo

Aglomerações reduzirem em 64% no país durante pandemia da Covid-19

Dados de localização coletados de telefones celulares mostram que o número de brasileiros em isolamento por causa da pandemia do novo coronavírus vem aumentando desde que as medidas restritivas começaram a ser adotadas no país. Na comparação com a média dos sete dias seguintes ao primeiro decreto que interrompeu atividades comerciais, a última semana registrou um aumento de 64,6% na população que adotou o distanciamento social, estratégia recomendada pelo Ministério da Saúde .

No dia 12 de março, o governo do Distrito Federal suspendeu aulas e proibiu a realização de eventos, inaugurando uma série de decisões semelhantes pelo país. Nos sete dias posteriores, os dados indicavam que a taxa de isolamento era de 33,7%. O número cresceu para 52,8% na semana seguinte e chegou a 55,5% na última semana – o que significa que, de cada dez pessoas que ainda estavam circulando pelas ruas no início da pandemia , seis passaram a se recolher nos últimos dias. Os dados analisados compreendem o período de 21 dias entre 12 de março e 1º de abril.

As informações integram a base de dados da In Loco, que fornece um sistema de geolocalização presente em aplicativos instalados em cerca de 60 milhões de celulares no país. A adesão é voluntária: os usuários precisam aceitar que as informações de localização integrem o sistema da empresa. Com a disseminação da covid-19, governos estaduais e municipais recorreram a dispositivos de tecnologia que pudessem prevenir aglomerações e checar se a orientação de distanciamento social está sendo seguida.

No Recife, com 800 mil aparelhos cadastrados, mensagens são enviadas para os celulares e carros de som com mensagens pedindo que a população fique em casa são enviados quando a prefeitura identifique uma região tem mais circulação de pessoas.

“É uma ação que ajuda a entender a tendência de comportamento, para que a gente se antecipe e dê a resposta com a velocidade necessária. Uma coisa é trabalhar no sentimento, outra é ter informação para planejar e tomar decisões de acordo com elas”, explica o secretário executivo de Inovação Urbana do Recife , Túlio Ponzi.

Em Santa Catarina, os dados são analisados em conjunto com outras ferramentas de tecnologia que já estavam à disposição. Boletins detalhados sobre Florianópolis, Joinville e Blumenau são enviados diariamente.

“Na instância estratégica, estamos usando essa informação para formar opinião sobre a maior ou menor restrição de atividades econômicas com base no acompanhamento do grau de isolamento. No nível operacional, estamos fazendo uma experiência de direcionar ações de patrulha para locais que apresentam baixo grau de isolamento social”, explica o comandante-geral da Polícia Militar do estado, coronel Carlos Alberto de Araújo Gomes.

O CEO da In Loco, André Ferraz, destaca que não há envio de dados individuais e que as informações serão apagadas após o fim da pandemia:

“Os governos têm acesso aos mapas (com a localização) e recebem estatísticas. Não é possível identificar os usuário”.

O advogado Fabrício Mota, indicado pelo Senado para o futuro conselho da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, avalia que a discussão sobre a coleta e uso de dados pelo poder público será recorrente a partir de agora. Com a pandemia, é provável que a instalação do órgão governamental que fiscalizaria o tema, assim como a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados , sejam adiadas – o Senado aprovou na semana passada a postergação para agosto de 2021.

“O debate sobre privacidade depois do coronavírus vai ser uma pauta permanente”, afirma Mota.