De toxina botulínica a fio de ouro: os tratamentos para a flacidez do pescoço

Por: Adilson Costa

Sem dúvida alguma, o processo de envelhecimento que atinge o pescoço é um dos grandes dilemas nos consultórios de dermatologistas e cirurgiões plásticos. E não apenas para o paciente, mas também, para o médico, dada a complexidade exigida pelo plano terapêutico para que se atinja um resultado satisfatório para ambos.

O pescoço é uma parte nobre do nosso corpo. Nele, importantes estruturas anatômicas e funcionais estão localizadas. Grandes artérias, como as carótidas, que levam sangue para o cérebro; veias, como as famosas jugulares, que trazem o sangue do segmento cefálico de volta para o coração; músculos importantes para a sustentação e movimentação do pescoço; nervos; glândulas, como a tireoide e as paratireoides, entre outras estruturas nobres. Para que tudo funcione bem e em harmonia, nada pode ser comprimido excessivamente. Isso é obtido pela derme (camada média da pele, onde estão as famosas fibras elásticas e colágeno) extremamente fina, e um músculo tênue de contenção, o plastima, que é intimamente aderido ao soalho da pele. Até aí, tudo bem, mas, ao se falar em envelhecimento do pescoço, o discurso muda de figura…

Vamos, brevemente, resgatar o perfil histórico da jovialidade do pescoço. Nefertiti (cerca 1370-1330 a.C.), rainha da XVIII dinastia do Antigo Egito, famosa por sua lealdade a seu marido, o faraó Amenófis IV, também conhecido como Aquenáton, é historicamente consagrada por sua beleza, principalmente, de seu pescoço. Sua beleza foi imortalizada em um busto icônico, atribuído ao escultor Tutmés, que se encontra exposto no Neues Museum, em Berlim. Mas, o que tem de interessante o pescoço de Nefertiti?

Pois bem, o busto de Nefertiti representa uma jovem mulher, de pescoço esguio, absurdamente simétrico e liso, que demarca com perfeição a mandíbula, mento (ou “queixo”) e clavículas. Pelos padrões de beleza contemporâneos, esse é o pescoço ideal. Contudo, quando os anos passam… Ah, quando eles passam… O tal contorno se perde, a pele fica marcada com rugas verticais (vulgarmente chamadas de “linhas do enforcado”), surge a “papada”, sem contar as manchas, que serão assunto para outra matéria. E, sabem o porquê disso?

Fatores intrínsecos (genéticos) e extrínsecos (hábitos de vida, como exposição ao sol sem proteção, poluição, fumo, alimentação, entre outros) travam uma batalha contra a fragilidade estrutural da pele, graças à derme e ao plastima finos, que passa a não mais suportar a pressão exercida pela gravidade e pelo peso gerado pela flacidez atribuída aos grandes músculos cervicais. Seria como um dique: o conteúdo de água segurado por ele aumenta e a estrutura da barragem é abalada. Bem, decifrado o enigma, vem a pergunta: “E agora, doutor?”. Pois bem, voltamos ao título da matéria.

Principalmente no campo estético, a dermatologia tem evoluído a contento ao criar procedimentos minimamente invasivos, ou seja, que não necessitam de anestesia geral, grandes cortes, sutura (pontos) e recuperação prolongada. Toxina botulínica, preenchimentos, lasers, peelings e, mais recentemente, implantes de fios reabsorvíveis têm ajudado os médicos na busca por um pescoço belo, tentando-se afastar-se da medida extrema cirúrgica que, além de exigir um tempo de recuperação maior, levaria a cicatrizes inestéticas no pescoço que poderiam frustrar os pacientes.

A toxina botulínica, já velha conhecida dos pacientes, tem atuado como um adjuvante interessante na abordagem do envelhecimento do pescoço. Com ela, uma técnica batizada de “pescoço de Nefertiti” consiste na aplicação de toxina botulínica em pontos específicos do plastima, principalmente na borda da mandíbula, bem como nas chamadas bandas plastimais, ou seja, feixes verticais que se formam com o passar dos anos nesse músculo, demarcando a superfície da pele principalmente no sorriso exagerado. Juntamente a esses pontos de aplicação, outros podem ser feitos em um músculo muito forte do pescoço, o esternocleidomastoideo, para diminuir um pouco sua força, mas sem a abolir, para a fim de não dificultar o movimento de elevar a cabeça quando estamos deitados. Essa técnica atinge resultados interessantes e, sozinha, ou em associação a outras, pode levar a um benefício estético bem interessante.

Dos procedimentos disponíveis, sem dúvida alguma, o preenchimento à base de ácido hialurônico é o preferido. Atualmente no mercado, existem vários preenchimentos dérmicos, com várias concentrações de ácido hialurônico, o que facilita diferentes planos de aplicação, em geral diretamente relacionados à espessura da derme. Justamente por isso, alguns podem ser injetados na derme delgada do pescoço, para amenizar aquelas “linhas do enforcado” de que falei acima.
Os lasers são o sinônimo de tecnologia em medicina. Com funções variadas no corpo humano, na dermatologia estética, eles são adjuvantes na abordagem do envelhecimento cutâneo, principalmente no tocante às rugas, linhas de expressão, manchas e estímulo de colágeno. Particularmente em relação ao pescoço, a atividade dos lasers está principalmente orientada na melhoria das manchas e no estímulo de colágeno, o qual poderá amenizar as linhas de expressão que eventualmente por ali tenham aparecido. E o resultado pode ainda ser melhor? Sim! A combinação de procedimentos estéticos é utilizada e, sem dúvida alguma, os peelings podem se somar aos lasers, em momentos distintos do tratamento.

Os fios de sustentação renasceram no mercado médico brasileiro. Eles são fios muito delicados e finos, feitos de materiais absorvíveis após algum tempo. No passado, fios já tiveram seu momento de fama negativa no Brasil pois, feitos de materiais definitivos, como ouro e polietileno, provocavam muitas complicações, algumas vezes de difícil resolução, devido à impossibilidade de sua remoção. Atualmente, os comercializados são de material absorvível que, além de dar uma sustentação imediata, prometem estimular a síntese de colágeno no local de sua permanência. Com isso, têm sua indicação para várias regiões do corpo, inclusive, no pescoço.

Enfim, muito se pode fazer para o rejuvenescimento do pescoço. Logicamente, tudo dependerá do grau de envelhecimento da pele, das condições clínicas do paciente (se pode ou não fazer um ou outro procedimento, em razão, por exemplo, da existência de alguma doença de base, estado funcional, como gravidez, ou do uso de algum medicamento específico) e da sua idade. A orientação, nesse caso, é consultar um dermatologista ao menor sinal de incômodo. Esse profissional tem anos de treinamento na estrutura e abordagem terapêutica da pele e saberá indicar um ou outro procedimento minimamente invasivo, se assim o puder. Contudo, em um grau mais intenso de envelhecimento cervical, o dermatologista indicará um cirurgião plástico para conduzir a cirurgia mais pertinente. O importante é: saber que na grande maioria das vezes, há o que fazer; só dependerá de quando e como traçar a melhor estratégia terapêutica, individualizada para cada paciente. Bom, essa era a pauta deste mês. Vemo-nos, aqui, na matéria do mês que vem!

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