Depois das prisões: O que vem agora?

As espetaculares decisões do STF, prendendo um dos maiores exponentes do mercado financeiro e o líder do partido da presidente da República, semearam um sentimento misto entre os analistas da cena brasileira. De um lado, a percepção de que a promiscuidade da política com os donos do dinheiro é sempre maior do que imagina o cidadão comum. De outro, a sensação de que as instituições estão em pleno funcionamento e que elas finalmente se orientam pelos princípios de igualdade perante a lei que estão na base do Estado de Direito.
delcidio
Mas um outro sentimento é o de indignação cívica e a vontade de saber o que realmente está ocorrendo. O Brasil inteiro gostaria de saber os motivos concretos que levaram o líder do governo no Senado e o presidente do BTG Pactual a praticarem os ilícitos que os levaram à prisão. Depois do mensalão e das prisões de grandes empresários e executivos de empresas públicas na Operação Lava-Jato, ficaram ainda mais elevados os riscos de obstruir a Justiça, falsear os termos da delação premiada de um réu-preso e articular seu plano de fuga. Ainda assim eles optaram pelo risco. Algo muito grave deveriam temer. Trata-se de comportamento que se equipara ao autoincriminamento. Salvo se alguém acreditar na versão de Delcídio de que agiu por sentimentos humanitários. Tão humanitários a ponto de levá-lo a se arriscar tanto ao infringir a Constituição e as lei que jurou defender ao tomar posse do cargo de senador.

Um senador gabando-se de exercer tráfico de influência perante o Supremo e de ser credor do favor de um grande financista convida à pergunta: já terá feito algum favor a essas autoridades a ponto de delas se julgar credor? Quanto ao financista, quais interesses comuns com o senador levá-lo-iam a concordar em gastar milhões de reais na ajuda ‘humanitária’ ao réu Nestor Cerveró? Ambos devem explicações mais precisas do que as prestadas nos primeiros depoimentos. Por isso, em Brasília, muitos temem eventual delação premiada que eles possam vir a fazer. Sabe-se que tanto um como outro tinham relações com os principais partidos do governo, mas também com os da oposição. Depois da votação que manteve a prisão decretada pelo STF, o silêncio dos senadores pode ter sido menos em deferência ao colega do que por apreensão ante o que está por vir.

No caso de André Esteves o país tem o direito de saber quais são as suas conexões e interesses com o mundo da política que parecem ter facilitado sua vertiginosa ascensão no mundo da alta finança. Por que um banqueiro tão ‘bem-sucedido’ decide participar de um complô tão arriscado para tirar da cadeia um réu em vias de se tornar réu-confesso pela via de uma delação premiada cujo texto de acordo estranhamente já chegara às suas mãos?

De imediato, a consequência desses eventos foi a quase paralisação de Brasília. O que pode ser muito ruim, pois as medidas do ajuste ficarão ainda mais distantes. A conjuntura política mais do que nunca sofre de instabilidade com a possível cassação do presidente da Câmara. E, agora, não se sabe mais de quantos outros congressistas. A conjuntura econômica, além de impactada pela situação de baixa governabilidade e incerteza política, agora tem elemento retroalimentador nas consequências que poderão advir para o Banco BTG Pactual e toda a gama de empresas que com ele têm investimentos.

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