Depois de um susto, Targino se prepara para cantar

Músico sofreu grave acidente de carro, mas escapou ileso e agora se prepara para fazer lives

Fiel à Irmã Dulce, para quem compôs a música Santa Dulce dos Pobres – em parceria com Roberto Malvezzi -, o forrozeiro Targino Gondim, 47 anos, agradeceu a ela por ter sobrevivido ao acidente que sofreu na terça-feira da semana passada, quando, voltando de Aracaju, capotou o carro na estrada.

O compositor de Esperando na Janela havia deixado a mãe na capital sergipana, para ela passar a quarentena lá. A caminho de Salvador, deparou-se com uma forte chuva, perdeu o controle do carro na pista molhada e se chocou contra um barranco.  “Na hora, você só pensa em Deus e depois agradece por estar vivo”, lembra Targino.

Quem visse o estado do carro não imaginaria que o músico havia saído ileso. Assim como sua sanfona, resgatada por ele. Só foi ao hospital algumas horas depois do acidente, quando chegou a Salvador. No corpo, nenhuma cicatriz.

Recuperado, é hora de voltar à vida normal. Ou melhor, nem tão “normal” assim, afinal a agenda de shows do forrozeiro, que costuma fazer  até quatro shows em apenas um dia neste período, está suspensa em razão da quarentena. “É no São João que a gente garante pelo menos 70% da nossa renda anual. Nessa época, o cachê triplica”, afirma o músico.

Lives
Sem shows para mostrar seu trabalho aos fãs, Targino está recorrendo às lives. Quando retornava de Aracaju, voltava de uma transmissão de um desses shows. Mas ele avisa: é a favor da quarentena, contra aglomerações e tem respeitado esse recurso para se prevenir da covid. “Aquela viagem foi uma exceção. Precisei ir a Juazeiro buscar minha mãe para ela ficar com minha irmã em Aracaju, pra cumprir quarentena lá”, justifica.

Nesta quinta-feira, às 20h, ele participa do Macaco Live, festival online promovido pela produtora Macaco Gordo. O músico terá sua apresentação transmitida nas redes sociais da empresa. No dia 13, às 16h, Targino realiza em seu canal no YouTube mais um show pela internet, chamado Pra Namorar.

O nome é uma referência ao Dia dos Namorados, comemorado na véspera, e também ao Dia de Santo Antônio, celebrado no dia do show. O repertório será recheado de músicas românticas. Antes do show, o o fã vai participar contando alguma história romântica que marcou sua vida.

Um clássico
E quando se fala em forró romântico, não há como não lembrar de Esperando na Janela, a música que tornou Targino conhecido em todo o país. O forró, um clássico muito executado nas festas de São João até hoje, ficou conhecido inicialmente na voz de Gilberto Gil, que a incluiu na trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles (2000).

O filme é baseado numa história real de uma mulher que vivia com três homens, a despeito de morar numa cidade muito conservadora do Nordeste. O papel principal cabe a Regina Duarte e seus maridos são vividos por Lima Duarte, Luiz Carlos Vasconcelos e Stênio Garcia. A direção é de Andrucha Waddington.

Na época, aos 27 anos, Targino se apresentava em cidades pequenas do Nordeste e ainda não tinha carreira consolidada. O pai dele, caminhoneiro, estava trabalhando no set de filmagens de Eu, Tu, Eles e distribuiu uns CDs do filho, incluindo um para Regina Casé. Targino um dia apareceu no set e perguntou à atriz se ela tinha ouvido. Regina disse que ainda não. “Então, vai ouvir agora”, disse Targino, que começou a cantar pra ela.

A atriz se encantou com Esperando na Janela e correu para mostrar a Gilberto Gil, responsável pela trilha do filme. O compositor já estava finalizando a gravação, quando também se impressionou com a canção e resolveu gravá-la, “aos 45 do segundo tempo”, observa Gondim. Um detalhe: no filme, não aparece a versão de Gill, somente a do próprio Targino, coautor da música com Manuca Almeida e Raimundinho do Acordeon.

Targino lembra que compôs o refrão enquanto cantarolava no chuveiro. “Eu tava tomando banho, cantando Daquele Jeito [de Luiz Gonzaga e Luiz Ramalho], que tem uma parte assim: ‘Quando encosto na janela / Tá daquele jeito’. Aí, isso me inspirou uma outra melodia e um outro verso, que se tornou o refrão de Esperando na Janela [Por isso, eu vou pra casa dela/ Falar do meu amor pra ela/ Tá na me esperando na janela/ Não sei se vou me segurar]”.

O carro que Targino dirigia, após o acidente, na terça, 26 (foto: acervo pessoal)

Com o refrão pronto, saiu do banho e falou com os parceiros, que finalizaram a canção. “Sem essa música, minha carreira seria outra. Mas, creio que pela minha determinação, talvez tivesse me tornado conhecido com outra música. Tenho até umas melhores que ela”.

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