O bairro de Piedade, na Zona Norte do Rio, cresceu ao redor da Universidade Gama Filho. E, há pouco mais de cinco anos, quando uma decisão do Ministério da Educação descredenciou a instituição privada de ensino superior, o abandono do campus e os constantes saques feitos por ladrões e usuários de crack tornaram o cenário decadente. As janelas de todos os prédios foram roubadas e as pichações tomaram conta. Pedestres e até motoristas evitam passar pela Rua Manoel Vitorino, que margeia o campus. A via, antes movimentada por alunos, é agora deserta. Ao longo dos últimos cinco anos, o comércio das proximidades foi fechando. Enquanto o patrimônio é deteriorado, o destino do prédio ainda é incerto. Por decisão judicial, após herdeiros contestarem, a venda está suspensa.
— Dá dó quando passo lá e vejo a deterioração. É preciso que esses prédios tenham uma destinação — disse Gustavo Licks, um dos administradores judiciais da massa falida.
Já em Ipanema, outro imóvel que abrigava uma faculdade também sofre com o abandono. O prédio da UniverCidade, que, assim como a Gama Filho, foi comprada e fechada pelo Grupo Galileo, está em situação desoladora. Mas surge uma luz no fim do túnel. Sem poder ser vendido, o imóvel deve ser alugado e já tem interessado. A Fundação Cesgranrio fez petição candidatando-se. Será realizado um pregão público — sem data — para o aluguel e, além da Cesgranrio, qualquer um poderá disputar o imóvel. Hoje, o Grupo Galileo tem cerca de 4.400 credores.
Quando comprou a manutenção da Gama Filho e da UniverCidade, o Grupo Galileo não pagou pelos imóveis do campus Piedade, que pertencem à família Gama. Na Justiça, o grupo reivindica a posse para quitar as dívidas trabalhistas. Ainda há processos em andamento, e o montante ainda não é conhecido. Na UniverCidade, a mesma disputa jurídica é com a família Levinsohn.
O campus da Piedade tem 57.300 m² de área construída e capacidade para 40 mil estudantes. Diante do impasse para a sua destinação, surgiu a possibilidade de desapropriação, defendida pelo deputado Waldeck Carneiro (PT), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj. Para ele, o local pode abrigar um “polo universitário tecnológico público”.
Mas por enquanto, moradores só lamentam.
— Aqui era um local vibrante. Sem os estudantes, funcionários e professores, foi ficando deserto. Tenho até medo — disse Maria Ribeiro, que mora na Rua da Capella.