Educação bilíngue no Brasil cresceu até 10% em 2018

Importância do inglês no currículo e crise econômica fizeram pais de alunos optarem pelo modelo de ensino diferenciado

Apenas 1% dos brasileiros é fluente em Inglês, segundo levantamento do Conselho Britânico / Foto: Pixabay

Apenas 1% dos brasileiros é fluente em Inglês, segundo levantamento do Conselho Britânico
Foto: Pixabay
Marília Banholzer

Consensos são raros, mas um deles é sobre a importância de compreender a língua inglesa fluentemente. Apesar de ser visto como um diferencial no currículo – e para a vida, estudo feito pelo Conselho Britânico revela que apenas 1% dos brasileiros é verdadeiramente fluente em inglês. Além do entendimento sobre a necessidade deste conhecimento, as incertezas geradas pela crise política-econômica brasileira tem feito os pais buscarem incluir a língua inglesa na rotina dos filhos desde cedo. Tais fatores seriam as justificativas para a expansão do mercado das escolas bilíngues no País, segundo especialistas da área.

Dados da Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi) mostram que, nos últimos cinco anos, esse setor se expandiu a taxas entre 6% e 10%. No Grande Recife, por exemplo, não faltam opções de escolas que se definem como bilíngues. A ABA Global School, nos Aflitos, é um dos casos. Inaugurada em 1988, ela se apresenta como a primeira do tipo na capital pernambucana.

Para o diretor executivo da instituição, Eduardo Carvalho, o serviço de escola bilíngue se vulgarizou e hoje a maioria das escolas se apresenta como bilíngue. “As instituições fazem parceria com franquias de curso de inglês, que vendem material didático como suficiente para o propósito, e se dizem bilíngues. Agora é muito difícil uma escola dizer que não é, na verdade”, opinou Carvalho.

Aba Global School está no mercado com educação bilíngue desde 1988, no Recife. Foto: divulgação

Apesar dessa popularização, ele defende que “numa verdadeira escola bilíngue, nas três primeiras séries, as crianças com idades entre um ano e meio e 4 anos de idade estão inseridas num ambiente de imersão na língua inglesa. O processo de aprendizado ocorre durante quatro horas por dia, ou seja, 20 horas por semana”. Desta forma, instituições que oferecem aulas de inglês – e não em inglês, mesmo que por várias horas por semana, não poderiam ser caracterizadas como bilíngues.

A servidora pública Adriana Rocha, 40 anos, tem dois filhos Artur (8) e Letícia (11). As duas crianças estudam na educação bilíngue desde que tinham dois anos de idade e hoje têm uma ampla compreensão da língua estrangeira. “Primeiro eu coloquei a Letícia como uma experiência e gostei muito. Daí quando tive o segundo filho fiz o mesmo e hoje estou bastante satisfeita com o resultado. Os dois entendem a língua melhor do que eu e meu marido”, contou Adriana.

Filhos de Adriana e Eduardo estudaram em escola bilíngue desde os dois anos de idade. Foto: cortesia

 Em julho deste ano a família viajou para um intercâmbio de três semanas no Canadá. Segundo Adriana Rocha, as criança se saíram muito bem na compreensão do que os professores estrangeiros diziam, assim como as outras crianças de diferentes nacionalidades. “Eu fiz curso de inglês na minha adolescência e digo que o aprendizado, a imersão, que eles têm com a língua e muito melhor do que a minha e do meu marido. Sem dúvida a alfabetização em inglês é um diferencial. Eles não precisam fazer tradução na cabeça para se expressar, como eu preciso”, disse.

Adriana confirma que o investimento não é baixo, mas garante que vale a pena uma vez que o custo com escola, somado a um curso tradicional de inglês, sairia praticamente o mesmo. Ela ainda defende que os cursinhos não são tão efetivos. “Eu fiz e digo que não é tão bom quanto o ensino bilíngue. Tenho certeza que é importante para a vida e para o currículo dos meus filhos”, defendeu.

Novidade no mercado recifense

Sinal do aquecimento deste mercado, em setembro o Recife ganha mais uma escola com proposta bilíngue. Com um investimento de R$ 1,5 milhão, a Red House International School abrirá sua primeira unidade no Nordeste. A rede de escolas já presente em São Paulo, chega com um currículo internacional, inspirado em práticas da metodologia Suíça.

A proposta é volta, inicialmente, para crianças de 18 meses a 5 anos de idade, que terão aulas com imersão total na língua inglesa em quase 100% das aulas para crianças da educação infantil. As aulas começarão em 2020 e as mensalidades giram em torno de R$ 2.300. À frente do projeto está a educadora com 34 anos de experiência no ensino de idiomas, Annie Bittencourt.”Nossa expectativa é de que ainda em 2019 já tenhamos matrículas. Mas nosso planejamento é iniciar apenas com cerca de 50 alunos. Serão cinco turmas, cada uma com, no máximo, 12 ou 14 alunos”, explicou.

Red House International School será bilíngue e promete currículo internacional. Foto: divulgação

Com um currículo internacional e bilíngue buscamos alfabetizar a criança já nas duas línguas. Português ela fala em casa, na escola aprenderá inglês. Quando você aprende outra língua antes da alfabetização você pensa igual um nativo, não precisa fazer a ponte entre as duas línguas”, ressaltou Annie.

Segundo ela, outro diferencial é estimular os estudantes a serem investigadores, curiosos. “A educação no Brasil é muito na bancada, sentada na cadeira, recebendo informação do professor. O aluno toma tudo que os professores dizem como verdade absoluta. Nossa proposta é pensar além, pesquisar, além de incentivar valores como respeito ao meio ambiente, ao próximo, e a ele mesmo”, ressaltou a diretora na nova escola.

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