El Niño vai piorar a seca no Nordeste, diz especialista

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Ana Maria Miranda

Professor doutor em Meteorologia, Paulo Nobre fez palestra sobre o El Niño na Sudene / Foto: Társio Alves/Ascom/SudeneProfessor doutor em Meteorologia, Paulo Nobre fez palestra sobre o El Niño na Sudene

O semiárido do Nordeste é uma das regiões que mais sofre com os efeitos do fenômeno climático El Niño, agravando a seca. O fenômeno ocorre durante cerca de um ano dentro de três ou cinco anos (periodicidade irregular).

“O El Niño é um fenômeno que ocorre no Oceano Pacífico, principalmente. A temperatura do mar aumenta, próximo à costa da América do Sul, por vários fatores da dinâmica do oceano e da atmosfera, vem uma onda de calor do oeste do Pacífico, na Indonésia. E isso traz as nuvens também, traz precipitação que normalmente ocorreria lá longe aqui próximo da América do Sul”, explica o professor doutor em meteorologia Paulo Nobre.

Quando a precipitação ocorre próximo à América do Sul, gera um braço de circulação atmosférica sobre o Nordeste, o que gera a seca. “É por isso que o El Niño é muito temido. Porque ele normalmente contribui para diminuir a chuva pela circulação atmosférica que causa”, completa. Em 2015, começou por volta do mês de maio e tem previsão de duração de um ano. De acordo com o especialista, as expectativas são de que o El Niño atual seja um dos piores já registrados.
As edições do fenômeno climático que trouxeram mais problemas ocorreram entre 1982-1983 e 1997-1998, provocando secas no Nordeste e enchentes no Sul do Brasil. Os motivos incluem as ações praticadas pelos seres humanos, como o uso intenso dos combustíveis fósseis – que provocam emissões de gás carbônico – em vez de energias mais limpas. “Usamos ainda carros com motor à combustão interna, ainda se usa petróleo, uma coisa de 1900!”, critica Nobre
ENERGIA SOLAR – Para Paulo Nobre, o investimento em energia solar pode contribuir para o combate à fome do semiárido nordestino por meio da geração de emprego (fabricação, instalação e manutenção) e renda no semiárido. “Num período de muito sol, você pode ter atividades econômicas que se beneficiem do sol, de forma que a ausência de chuva não prejudique [a economia]”, explica.
O potencial de geração elétrica nacional solar é de 23,4 PWh/ano, enquanto o da eólica é de 6,7 PWh/ano e a da hidráulica, de 2,3 PWh/ano, de acordo com especialista. Segundo Nobre, o uso de painéis fotovoltaicos em telhados de casas do semiárido e em hidrelétricas do Brasil poderia promover a inclusão social da população, já que, com maior independência econômica das pessoas, seria possível investir mais em educação.
Áreas em estado avançado de desertificação em Pernambuco chegam a 11 mil quilômetros quadrados, que também poderiam ser aproveitadas para a produção de energia solar.
As informações foram dadas pelo professor na palestra de abertura do “Encontro de Clima: El Niño no Nordeste brasileiro, impactos e ações para o enfrentamento”, realizado nesta sexta-feira (20) na Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
“Nós vamos com nossos técnicos refletir como podemos incorporar isso dentro das metas do FDNE. Acredito que a colaboração foi muito grande dada pelo professor e que renascem ainda mais as esperanças de uma saída econômica para o Nordeste do Brasil”, afirmou o superintendente da Sudene, João Paulo.
De acordo com o superintendente, o órgão criou o Grupo de Trabalho Semiárido Sudene, com o objetivo de aprofundar os estudos e encontrar alternativas para superar a seca no Nordeste. (NE10)

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