Empresários elogiam ajuste e ex-ministros de Lula criticam o projeto

Marcelo Pellegrini e Wanderley Preite Sobrinho
No Fórum Brasil promovido por CartaCapital, empresários e ex-membros do governo Lula discordaram sobre o projeto econômico de Dilma. Nelson Barbosa (Planejamento) defendeu as medidas
Ciro Gomes e Celso Amorim

Ciro Gomes (direita) e Celso Amorim (centro) fizeram duras criticas à condução da política externa e industrial do governo Dilma

De um lado, ex-ministros do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes (Fazenda) e Celso Amorim (Defesa); de outro, o atual ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o empresariado. Todos participaram nesta sexta-feira 22 da 3ª edição do Fórum Brasil promovido por

CartaCapital, cujo tema este ano foi “Crescer ou Crescer”. O clima foi sempre cordial, mas enquanto os primeiros afirmam que Brasil não tem um projeto de desenvolvimento, Barbosa e os executivos elogiaram o ajuste fiscal da equipe econômica do governo, para eles um projeto completo para retomar o crescimento.

Com um discurso alinhado ao do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Barbosa disse que o governo está corrigindo “falhas” nos programas e serviços oferecidos ao cidadão pelo governo, o chamado Estado de bem-estar social. “Temos de debater sobre qual é o papel do estado no século XXI? O Estado do bem-estar social veio para ficar no mundo, mas ele se adapta à sociedade. Um Estado com a população jovem requer uma ação diferente de um Estado com a população mais envelhecida”, afirmou.

Barbosa reforçou que há uma preocupação no governo federal em equilibrar as contas públicas e manter os direitos sociais conquistados. Sem se referir aos cortes sociais, o ministro afirmou que o ajuste, “por mais paradoxal que seja, é o primeiro passo para o crescimento”: “No curto prazo [os resultados são] negativos, mas necessários. O crescimento depende de estabilidade da divida pública, de trazer a inflação para o centro da meta”.

Mas essas medidas “não são suficientes”, garante Barbosa. Em paralelo vêm sendo costuradas outras iniciativas para recuperar o crescimento. O ministro enumerou alguns eixos da reforma, como infraestrutura, institucional e social. Esse conjunto de medidas, segundo o representante do governo, irá criar um ambiente de retomada do crescimento e as bases para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa em oportunidades.

Nelson Barbosa
Nelson Barbosa (esquerda) teve seu ajuste fiscal elogiado pelo economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros

A defesa do ajuste fiscal do governo é compartilhada com o empresariado que esteve presente no evento. “Estou convencido de que estamos construindo uma nova arquitetura macroeconômica no Brasil, na qual o ajuste é importante. A agenda de reformas é ampla e está na hora do setor privado conceder o benefício da dúvida ao governo e apoiá-lo”, afirmou o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Enquanto Antônio Maciel Neto, presidente do Grupo Caoa, elogiou os pilares defendidos pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy em seu ajuste econômico. Também foi consenso entre o empresariado a necessidade de investimentos em infraestrutura para melhorar a produtividade do País.

Ex-membros da cúpula do governo Lula, no entanto, criticaram as medidas adotadas pelo governo Dilma. Os ex-ministros Ciro Gomes (Fazenda e Relações Institucionais) e Celso Amorim (Relações Exteriores e Defesa) criticaram a ausência de um “projeto de desenvolvimento para o Brasil”.

Para eles, apenas o ajuste fiscal não será capaz de retomar o crescimento brasileiro sem um plano de longo prazo para a indústria nacional e sem uma política externa clara. “O Brasil não tem agenda“, afirmou Gomes. “No Ceará, qualquer bodega tem um projeto, mas o Brasil não.”

Celso Amorim, por sua vez, reforçou a necessidade do governo investir em pesquisas de desenvolvimento tecnológicas para afastar o risco do país desenvolver uma relação colonial com outros países. “É preciso saber como o País entra na cadeia de valor de um produto e da importância do que se produz para essa cadeira. É mais importante exportar minério para eletroeletrônicos ou desenvolver softwares? Isso entra na questão de educação e de ciência e tecnologia no governo”, afirma. Hoje, mais de 50% da balança brasileira corresponde à exportação de produtos primários, como alimentos e minérios.

Para ambos os ex-ministros, sem um projeto de desenvolvimento industrial e tecnológico, o Brasil pode ser engolido por seus parceiros comerciais, como China, Estados Unidos e União Europeia. “Há um aprofundamento do hiato tecnológico entre as vanguardas produtivas e a situação brasileira”, afirma Ciro Gomes.

As falas dos ex-ministros de Lula refletem um descontentamento do próprio ex-presidente com o governo de sua sucessora. Lula e movimentos sociais têm criticado os cortes do ajuste fiscal aos direitos trabalhistas e o afastamento da presidenta em relação à base que a elegeu. Nesta semana, senadores do PT se rebelaram contra o governo e anunciaram que irão votar contra o ajuste fiscal. Enquanto isso, Dilma parece conquistar aos poucos a confiança do empresariado brasileiro, o que é vital para que o País volte a crescer em 2016, conforme os planos do governo.

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