Ensino médio em escolas particulares volta às aulas hoje

 

Esta é a terceira etapa do cronograma de retomada nas escolas particulares do DF. Dos 28 mil estudantes matriculados, cerca de 9 mil devem retornar ao ensino presencial em 60 colégios. Retorno fica a critério das famílias

Caroline Cintra/Cibele Moreira
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Estudantes do ensino médio e profissionalizante de escolas particulares do Distrito Federal voltam às salas de aula a partir de hoje. Dos 28 mil matriculados nessa etapa na rede privada, cerca de 9 mil (32,1%) devem retornar às atividades para encerrar o ano letivo em cerca de 60 colégios, segundo sindicato do setor. Todas as séries dispõem de modelo híbrido, com aulas presenciais e on-line. No entanto, a maneira que os encontros vão ocorrer fica a critério de pais e alunos. Seguindo o cronograma definido em 24 de agosto, esta será a terceira fase da retomada presencial.

A primeira etapa começou em 21 de setembro, para educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Na segunda-feira passada, retornaram os alunos do 6º ao 9º ano. No caso das faculdades e universidades privadas, as aulas continuam em meio remoto até dezembro, segundo o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos Particulares de Ensino Superior (Sindepes-DF). Atividades presenciais estão liberadas apenas para cursos específicos da área da saúde.

Para o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), a adesão ao modelo presencial deve ser pequena nas séries finais da educação básica. “Sabemos que essa faixa etária tem mais autonomia, podendo não apenas permanecer no ensino a distância como também ter uma conduta responsável nas escolas”, destacou o presidente da entidade, Álvaro Domingues. “Não mais do que 5% das 400 instituições tiveram ocorrências de covid-19”, completou.

As turmas de ensino médio do Centro Educacional Sigma retornam hoje. Estudante do 3º ano, Luiza Leal Trezzi, 17 anos, conta que o colégio onde ela estuda fez de tudo para que as aulas on-line fossem semelhantes às presenciais, mantendo a mesma grade horária e outras características. No entanto, ela considera difícil substituir o contato direto com os educadores. “A gente percebia o professor triste, perguntava alguma coisa e demorava a chegar a resposta. Eu estava querendo voltar. Acredito que será uma questão de readaptação. E é importante tomar todos os cuidados”, destacou.

Para a mãe de Luiza, a relações públicas Erika Leal, 49, chegou o momento de os filhos retornarem à escola, por questão de saúde. Na semana passada, o mais novo, de 12 anos, voltou às aulas presenciais no 7º ano do ensino fundamental. Hoje, é a vez da mais velha. “Eles estavam muito protegidos do risco do vírus, querendo se afogar na comida, sem fazer atividade física. Mas a escola está sendo muito cuidadosa, e estou mais tranquila. A orientação que dou é manter os cuidados, usar a máscara, lavar as mãos”, detalhou Erika.

Acompanhamento

Representantes do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep-DF) têm acompanhado o processo de perto, com uma força-tarefa para identificar colégios que não cumprem os protocolos. “Nossa avaliação é positiva. Percebemos que as escolas estão seguindo as normas e com número reduzido de alunos”, comenta o diretor jurídico do sindicato, Rodrigo de Paula. “Nos anos finais dos ensinos fundamental e médio, o formato a distância foi bem adaptado pelos estudantes. A tendência é de que eles mantenham-se no modelo on-line. Algumas escolas posicionaram-se (dizendo) que não vão voltar com o presencial justamente por esse motivo”, assinala Rodrigo.

No ensino infantil, segundo o Sinproep-DF, houve 11 casos de contaminação entre docentes. Todos foram afastados. Pensando nesse acompanhamento das infecções, o sindicato vai oferecer, até o fim do mês, cerca de 5 mil testes para os profissionais. Professor de geografia do Sigma, Paulo Macedo acredita que a realidade do colégio deixou tanto a equipe quanto os alunos mais tranquilos com a volta. A escola adotou modelo híbrido, e é possível lecionar de casa ou da sala de aula, transmitindo conteúdo para quem está no presencial ou a distância. “Alguns colegas ainda não podem voltar, por fazerem parte do grupo de risco. Também há alunos com parentes que têm comorbidades, e todos vão poder acompanhar de onde estiverem”, disse.

Para o professor de biologia do Colégio Objetivo Rodrigo Basílio, o contato, mesmo que distante, entre docentes e alunos é importante nessa etapa. “Muitos deles expressam vontade de voltar, porque estão nos últimos anos e, nessas séries, os educadores costumam ficar marcados na vida dos estudantes. Eles sentem falta”, opinou.

Protocolos de segurança

 O retorno às atividades presenciais exige diversas medidas sanitárias, para evitar a transmissão do novo coronavírus. Confira algumas delas:

• Redução para 50% do máximo de alunos por sala;

• Uso de máscaras;

• Disponibilização de álcool em gel 70% a todos;

• Higienização e desinfecção frequente dos ambientes e equipamentos;

• Readequação dos espaços físicos, respeitando o distanciamento mínimo de dois metros;

• Delimitação do número máximo de pessoas em salas de aula, bibliotecas, ambientes compartilhados e elevadores;

• Definição escalonada de horários de intervalo, saída e entrada em sala de aula, bem como dos períodos de uso de ginásios, bibliotecas e pátios;

• Revezamento de dias e/ou horários de trabalho das equipes de colaboradores;

• Priorização da ventilação natural do ambiente;

• Proibição de contato físico;

• Afastamento de colaboradores e estudantes que estejam com suspeita de covid-19.

Orientação e fiscalização

Os pais do estudante Bruno Serra, 21 anos, não se sentem seguros para mandar o filho para o colégio. Porém, o jovem tem perda auditiva e ficou com dificuldade para compreender os conteúdos a distância. “Ele faz leitura labial e se sentiu prejudicado. Como não tinha legenda, ele acompanhou como podia”, contou o aposentado, Edmur Serra, 60. A mãe de Bruno, Maria Tereza Serra, 54, disse que o filho sente falta dos amigos. “Ele gosta muito da escola. Fala o tempo todo que vai, mas com cuidado. Meu marido foi buscar as provas do Bruno e deu uma olhada na estrutura, no distanciamento das cadeiras. Estamos fazendo isso por ele (o filho)”, justificou a servidora pública aposentada.

O infectologista Dalcy Albuquerque reforça a importância desses e de outros cuidados. “Em qualquer espaço que possa implicar contato comunitário, há chance de infecção. Por isso, é de extrema importância que se mantenha o distanciamento (social) e o uso de máscara a todo o momento”, afirma. Para o médico, os pais devem abraçar o papel de orientar os filhos, e a escola, de fiscalizar e impor as medidas de segurança sanitária. “Como estão liberando as atividades, devemos minimizar ao máximo os riscos de contágio”, reforçou Dalcy.

Diferentemente da maioria das escolas particulares, o Colégio Marista João Paulo II vai retomar as atividades para os alunos do ensino médio só na quarta-feira. A instituição usará esses dois primeiros dias de liberação para se organizar . Até agora, desde a retomada das aulas presenciais, em 21 de setembro, nenhum aluno desistiu do modelo. Também não houve registros de infecção, segundo a administração da unidade.

O diretor do colégio, Marcos Scussel, percebeu que, embora a escola venha se preparando há semanas para receber os estudantes, a adesão seria pequena nos primeiros dias. “Apenas 15% dos alunos voltarão às aulas presenciais. Nas outras séries, a adesão foi baixa, inicialmente, mas aumentou com o tempo. Todos estão com saudades da escola, de vivenciar o ambiente. Fizemos tudo com muita segurança para que eles voltem tranquilos”, destacou.

Para a mãe de Raul Faillace, 15, a servidora pública Nédia Faillace, 54, é preciso enfrentar a nova realidade, mas obedecendo a todas as regras. “Acredito ser um bom momento, pois a escola apresentou um plano de cuidado e me deixou mais tranquila. Essa volta não é importante apenas pelo conteúdo, mas pela convivência”, avaliou.

Rede pública

A Procuradoria-Geral do Distrito Federal (PGDF) deve recorrer, hoje, da decisão judicial que obrigou a retomada presencial das aulas da rede pública de ensino. Ontem, o Governo do Distrito Federal (GDF) confirmou que a procuradoria-geral tentará reverter a determinação, publicada na sexta-feira, em atendimento a pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O magistrado que analisou o processo deu prazo de cinco dias para o Executivo local apresentar um plano de retorno gradual das atividades em creches e nos ensinos infantil, fundamental e médio, de forma escalonada.

Fonte: Correio Braziliense

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