Ex-deputado aliado de Collor explica que traições são comuns em votações de impeachment

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Por Ricardo Antunes

Empresário e uma das principais lideranças do setor agro industrial, o ex-deputado pernambucano Gilson Machado foi uma das principais testemunhas dos dias finais do Governo Collor. “Foram dias de traições e com um presidente totalmente desconectado com a realidade”, lembra o parlamentar que integrou a tropa de choque do ex-presidente. Respeitado entre a esquerda e a direita, o ex-parlamentar transitou com desenvoltura pelos bastidores da última crise política que o país viveu e conta, com exclusividade ao nosso blog, como é o clima dentro do Palácio do Planalto quando o fim se aproxima. Qualquer semelhança com dos dias atuais não é mera coincidência. A solidão e os erros de estratégia parecem unir Collor a Dilma.

Com estava o clima no Palácio 72 horas antes do impeachment?

Às vésperas da votação no plenário, recebi uma ligação do próprio Collor, que me chamou ao Palácio. Fui ao encontro dele, que me perguntou o que eu achava do cenário pré-votação. Disse sem rodeios: “vai perder”. Ele disse que estava seguro, pelas informações dos Ministros Ricardo Fiúza e Ângelo Calmon Sá. Esse último estava liberando verbas para municípios para deputados, tentando reverter o processo. Na mesma hora eu reafirmei ao presidente : “vamos perder”.

Como foi dizer ao próprio presidente Collor que ele ia perder?

Imediatamente ele ligou na minha frente para Fiúza e Ângelo insinuando meu palpite. Ambos disseram que eu não entendia de política. Collor me perguntou quantos votos ele teria em Pernambuco. Respondi: no máximo oito. O presidente repetiu para Fiúza e Ângelo. Ambos me consideraram desinformado. A ante sala de Collor tinha mais de 50 deputados, liberando recursos para os municípios e orientando votos.Quando abriu o painel, Collor só teve cerca de 38 votos, inclusive do grupo de ACM. De Pernambuco ficaram apenas apenas seis deputados. Fiúza, que era meu amigo pessoal e Ministro da Ação Social, disse que teríamos 15.

Como foi acompanhar os bastidores da votação, e depois ver as “traições” no plenário?

Fiquei enojado com o que vi no palácio antes da votação e o resultado do painel. Vi “Colloridos” antes jurando votos e na hora, com transmissão pela TV, mudando de ideia. A desculpa deles era de que estavam votando em nome da família.

O que o senhor disse ao votar?

Declarei ao vivo na hora do voto, que era uma vergonha o que tinha visto -e aí fiz uma referência pessoal à traição de Cleto Falcão, um dos melhores amigos do ex-presidente. Outro que também traiu o presidente foi o Renan Calheiros.

Porque o senhor abandonou a vida pública? O Congresso Nacional não é um lugar para pessoas sérias?

Abandonei por conta de meu idealismo. Entrei pela causa constitucional e não aceitava falsidades. Não queria me deixar levar por interesses pessoais, pois minha causa é o Brasil. Sempre fui defensor da livre iniciativa e vi que o estado paternalista e empregador não tinha como dar certo. Hoje, após anos deste governo, vimos o resultado dessa política fisiologista.

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