Fã confesso de Trump, Bolsonaro tenta reproduzir seu estilo no Brasil

[Fã confesso de Trump, Bolsonaro tenta reproduzir seu estilo no Brasil]

No Ceará, foi apagado um grafite que mostrava um beijo entre o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente dos EUA, Donald Trump. Uma proximidade que, na prática, o capitão reformado faz questão de buscar em relação ao colega republicano.

Bolsonaro é admirador confesso de Trump e busca aproximação por meio de elogios à sua política e contatos com pessoas próximas ao republicano –entre elas, John Bolton, assessor do líder americano, que chegou a tomar café com o presidente eleito no Rio de Janeiro.

Em questões domésticas, Bolsonaro defende o porte de armas e rejeita a política tradicional. Na pauta externa, defende alinhamento com Washington e critica abertamente organismos internacionais –uma mudança brusca em relação ao histórico diplomático brasileiro nas últimas décadas.

Semelhanças entre Bolsonaro e Trump já eram levantadas desde o começo da corrida eleitoral, mas ganharam força com a sua vitória na eleição de outubro. Veja alguns desse pontos:

Outsiders da política

Trump: Empresário e apresentador de TV, Trump nunca tinha atuado na política até se candidatar a presidente pelo Partido Republicano, em 2016

Bolsonaro: Embora deputado federal desde 1990, nunca exerceu cargo executivo nem chefiou comissões temáticas na Câmara dos Deputados antes de se candidatar a presidente. Concorreu pelo até então partido-nanico PSL —que aproveitou a onda pró-Bolsonaro para virar a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.

Desprezo pela política tradicional

Trump: Tem uma imagem de ‘falar o que pensa” e que não liga para o politicamente correto. Nesse contexto, colocou-se como a antítese de Hillary Clinton na eleição presidencial, identificada com a chamada “velha política”.

Bolsonaro: O capitão reformado diz simbolizar uma nova política. Nas negociações para formar seu ministério, ignorou líderes partidários e disse que acabaria com o “toma lá dá cá”. Durante sua diplomação, afirmou que “o poder popular não precisa mais de intermediação”.

Relação conflituosa com a mídia

Trump: O republicano já se referiu à mídia tradicional dos EUA como “inimiga do povo” e também constrange publicamente jornalistas que não são simpáticos a ele. Tem na Fox News seu principal espaço na mídia americana

Bolsonaro: É crítico de veículos como Folha e Rede Globo, mas também já se referiu a veículos como The Guardian e The Economist como “de esquerda”. Bolsonaro privilegia entrevistas com veículos que se mostram simpáticos a ele

Uso intensivo das redes sociais

Trump: Utiliza mais a própria conta de Twitter do que a oficial do presidente dos EUA. Opina sobre temas diversos e até demite subordinados por meio de posts na rede social

Bolsonaro: Fez uso intensivo das redes sociais ao longo da campanha presidencial e tem mantido o hábito na fase de transição, fazendo no Twitter a maioria dos anúncios de ministros

Presença da família na política

Trump: Seu filho Donald Trump Jr. teve participação ativa na campanha presidencial, incluindo encontros com russos. Sua filha Ivanka é uma de suas principais conselheiras de Trump, assim com o marido dela, Jared Kushner

Bolsonaro: Três dos cinco filhos de Bolsonaro atuam na política como parlamentares eleitos e têm participação nas decisões do pai em temas como ministérios, política externa e redes sociais. Um deles, Eduardo, mantém contato com pessoas próximas a Trump

Acusações já durante a transição

Trump: Ainda antes de tomar posse, o presidente americano e sua família foram alvo de acusações por conta do suposto envolvimento de agentes russos na campanha presidencial de 2016 para agir em seu favor

Bolsonaro: Um amigo de Bolsonaro e ex-assessor do filho Flávio fez movimentações financeiras suspeitas, de acordo com relatório do Coaf. Uma delas, tendo a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, como destinatária, não aparece na declaração de de Imposto de Renda do presidente eleito. Ele minimiza o caso.

Defesa do porte de armas

Trump: É defensor do porte de armas por cidadãos comuns e afirma que a liberdade para tal “é um presente de Deus”

Bolsonaro: Crítico do Estatuto do Desarmamento, diz que o porte de armas garante ao cidadão o direito de legítima defesa “sua, de seus familiares, de sua propriedade e a de terceiros”.

Alinhamento a Israel

Trump: Anunciou a mudança da embaixada do país em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, apesar de objeções da comunidade internacional

Bolsonaro: com grande apoio junto ao eleitorado evangélico, Bolsonaro seguiu Trump e também chegou a anunciar a mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Mas a reação de países árabes faz o presidente eleito hesitar em bater o martelo

Ceticismo quanto ao aquecimento global

Trump: Não crê que a ação humana esteja levando ao aquecimento global e ignora relatórios que apontam para impactos desastrosos dessa ação na economia dos EUA. Também retirou os EUA do Acordo de Paris

Bolsonaro: Até diz acreditar na existência do aquecimento global, mas também afirma que outros países não cuidam de suas florestas. Vê em ONGs ligadas ao meio ambiente uma ameaça à soberania nacional. Seu futuro ministro do Meio Ambiente e seus filhos são céticos em relação ao aquecimento global

Desprezo pelo multilateralismo

Trump: Defende patriotismo, ataca organismos como a ONU e faz ameaças até mesmo a países aliados. Tem como uma de suas principais bandeiras a construção de um muro na fronteira com o México e restrições cada vez maiores à imigração e acesso de refugiados ao país

Bolsonaro: já criticou publicamente a ONU e tem posturas contrárias à imigração. De acordo com seu chanceler, deve se retirar do Pacto Global para a Migração –assim como os EUA.

(Folhapress)

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