FGV reconhece novo sistema de produção inovador de alimentos no interior do Nordeste

Por Fernando Castilho 

O Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável por um projeto nacional onde favorece a agricultura familiar na cadeia de alimentos nos centros urbanos, reconheceu grande potencial de um projeto no sertão pernambucano onde favorece o cultivo de alimentos através do primeiro sistema agrovoltaico da América do Sul.

O sistema está sendo desenvolvido na escola de Agroecologia Serta, em Ibimirim, por uma rede de pesquisados de entidades locais e do país (Ecolume), liderada pela climatologista Francis Lacerda, do Laboratório de Mudanças Climática, do Instituto Agronômico de PE (IPA). Os trabalhos técnicos para a instalação do sistema fotovoltaico estão sendo realizados por uma startup local dentro da escola Serta em Ibimirim.

Na última semana, a FGV incluiu o projeto do Ecolume como uma das 14 iniciativas sendo executadas no Brasil com potencial de produzir alimentos através da agricultura familiar para cadeia de grandes cidades.

A iniciativa visa demonstrar provas materiais do conceito científico de uma rede de pesquisadores nacionais (Ecolume), financiada pelo CNPq e liderada pela climatologista e Doutora em Recursos Hídricos, Francis Lacerda, coordenadora técnica do Laboratório de Mudanças Climáticas do Instituto Agronômico de PE (IPA).

O conceito Ecolume defende que é possível “plantar água”, “comer Caatinga” e “irrigá-la com o sol” do local.

“No final do próximo mês ou início de agosto, inauguraremos o primeiro sistema agrovoltaico sustentável da América do Sul”, celebra Francis, fazendo referência a revisão da literatura científica que fez a respeito. Quando estiver totalmente implantado, terá a capacidade de tornar todo complexo da escola Serta autossuficiente em energia elétrica.

“Nesta 1ª fase, serão instalados 30% do sistema fotovoltaico planejado, auxiliando na redução imediata de um terno dos custos com energia convencional”, fala o doutor em Botânica, Diogo Araújo, proprietário da VertSol, startup parceira do Ecolume com foco em eficiência energética que doou placas fotovoltaicas que serão instaladas com a participação de alunos do local.

A energia gerada através do sol será utilizada nos vários experimentos agroecológicos do Ecolume/Serta, realizado pelo sistema agrovoltaíco – cujo integra a utilização de todos os potenciais dos seus componentes.

Os painéis fotovoltaicos instalados também servirão de recipientes para a captação da chuva, além de gerar a energia solar e bombear a água já armazenada para o cultivo de peixes e de plantas, inclusive as nativas da Caatinga, com alto valor nutricional. Tal produção se dará através do sistema de aquaponia, pois garante o uso, reuso e reciclagem da água, possibilitando até adubação orgânica proveniente das fezes dos peixes.

Em seis meses, o sistema agrovoltaico Ecolume/Serta terá a capacidade de produzir 60 quilos de carne retirados das 100 tilápias por tanques de mil litros de água. E este recurso hídrico será usado de forma integrado e simultâneo para o cultivo, em tubos, de 72 plantas de 12 espécies de colheita contínua e diferentes, em especial do tipo medicinais, temperos e hortaliças.

Dentre elas, hortelã – 40 dias (contínua), rúcula – 40 dias, alface – 40 dias, taioba – 40 dias, bertalha – 40 dias, couve-folha – 40 dias, chapéu de couro – 40 dias, manjericão – 40 dias, coentro – 40 dias, espinafre – 40 dias, cebolinha – 40 dias, menta – colheita em 40 dias (contínua), tomates e cereja variados – 60 dias e alecrim – 60 dias.

O gerenciamento da água capitada e bombeada também será utilizado para irrigação sustentável dos viveiros de plantas originais da Caatinga para a alimentação humana, a exemplo do umbu e outras, que podem entrar em extinção se não houver o devido recaatingamento. O replantio dessas espécies do semiárido, já adaptadas geneticamente às altas temperaturas, servirá como alimento humano, mas também ajudará na manutenção da umidade do solo e regulação do clima local. “Portanto, a partir do recaatingamento, é possível sim plantar água e comer Caatinga como trata o Ecolume”, defende o diretor do Serta, Sebastião Alves.

O dirigente garante que ainda serão produzidos outros frutos e Plantas Alimentícias não Convencionais (Pancs), que têm alto valor nutricional e agregado, a partir da operacionalização desse sistema agrovoltaico do Ecolume no Serta.

As Pancs são uma nova visão alimentar e gastronômica para as vegetações nativas pouco usadas para tais fins. O criador desse conceito é o pesquisador internacional Valdely Kinupp. Ele ministrará inclusive uma palestra no Recife sobre o tema, no dia 1º de junho, a convite do Ecolume, às 9h no auditório do IPA, no Bairro de San Martin.

“A aplicação e operacionalização desses experimentos através do nosso sistema agrovoltaico sustentável será um dos resultados principais do nosso conceito ecolumiano, pois demonstrará a possibilidade de plantar água, comer Caatinga e irrigá-la com o sol – metáforas estas que podem ser tornar muito reais através da fusão do potencial solar local gerando energia, integrado à produção de alimentos vegetais, peixes e captação pluvial num sistema cíclico”, destaca a climatologista do IPA Francis.

Além dos benefícios socioeconômicos e ambientais, o conceito e projeto do Ecolume prima pelo eixo educacional e transmissão de conhecimento tecnológico para as comunidades atendidas. Assim, a VertSol também capacitará os alunos do Serta sobre energia solar, elementos, instalação do sistema fotovoltaico e etc. “Nosso compromisso com o Ecolume é que cada um desses estudantes, a maioria deles filhos de agricultores, seja capaz de replicarem tal sistema em suas comunidades”, diz Diogo.

Atualmente, a unidade do Serta em Ibimirim tem 150 estudantes na área de Agroecologia, oriundos de cerca de 100 municípios de cinco estados do Nordeste. Uma palestra teórica sobre energia solar e fotovoltaica será ministrada pela startup para todos alunos. Quinze deles receberão treinamento teórico e prática sobre elementos e instalação do sistema.

“Sem dúvida, o experimento do Ecolume dentro da nossa escola ajudará na formação teórico e prática de nossos estudantes, funcionando como laboratório”, diz Sebastião. Ele espera que todos esses conhecimentos do sistema agrovoltaico por aquaponia para criação de peixes, vegetais e para viveiros de plantas nativas da Caatinga possam ser reaplicados em diversas áreas do semiárido, inicialmente pelos próprios alunos, mas também pelas demais instituições parceiras que forma a rede Ecolume.

Além da atuação do IPA e do Serta, e da parceria da startup de energia VertSol, a rede Ecolume é formada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Instituto Federal do Sertão e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade.

FONTE : Assessoria de Imprensa Ecolume/IPA

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