Fritar aliados vira rotina e cria instabilidade desnecessária para governo Bolsonaro

Desde a saída de Gustavo Bebbiano da Esplanada dos Ministérios, já se tinha uma noção de que a “fritura” pública de integrantes do governo aconteceria sem qualquer cerimônia. No final de semana, a vítima da vez foi o presidente do BNDES, Joaquim Levy. Porém já aconteceu também com Velez Rodrigues e mesmo com o general Santos Cruz, que suportou por mais tempo os ataques por aliados do presidente Jair Bolsonaro do que os demais. A postura mostra a instabilidade típica de um gestor pouco experiente e os impactos políticos podem ser, a longo prazo, danosos para o governo.

 

Bolsonaro já deu inúmeros sinais de que não tem apreço pelos meios mais comuns de negociação política. Tanto que matérias relevantes, como a reforma da Previdência, seguem patinando por causa de uma articulação repleta de buracos. Nos últimos dias o governo parecia estar dando um rumo mais coeso e havia uma expectativa de que tudo andasse, mesmo que não na velocidade esperada pelo Palácio do Planalto. Porém voltou a degringolar de uma maneira bem mais rápida, numa espécie de comprovação de que não existia muita solidez nas ações.

 

O caso de Joaquim Levy foi emblemático. Quadro técnico do mercado financeiro, ele até endossaria o discurso de que o governo estava interesse no time de notáveis, independente do posicionamento político prévio. Antes do BNDES, Levy tinha sido ministro de Dilma Rousseff. No entanto, por seu relacionamento pregresso, o agora ex-presidente do BNDES teve acelerado seu desligamento, feito via imprensa. Bolsonaro estava “por aqui” com Levy e o demitiu, ainda que ele tenha pedido demissão.

 

O próprio ministro Sérgio Moro, considerado um dos grandes nomes do governo, já foi alfinetado, ainda que indiretamente, por uma fala do presidente da República. Ao admitir que não confiava 100% em ninguém, Bolsonaro abriu margem para que adversários criticassem o ex-juiz, bombardeado por matérias que revelam conversas inapropriadas entre um magistrado e o Ministério Público. Não é o momento de fritar Moro, porém um recado foi dado e, possivelmente, entendido pelos principais envolvidos.

 

Apesar de boa parte da chamada opinião pública se mostrar surpresa com a estratégia discursiva para desligar integrantes do governo, não era para ser assim. Bolsonaro, muito antes de se viabilizar como candidato à Presidência da República, já tinha dado amostras de que temperança não seria algo cotidiano. Talvez o espanto seja causado por, em seis meses, ter se tornado rotina as demissões chegarem pela imprensa antes de efetivamente consolidadas. E, num governo instável, qualquer cabeça pode ir a prêmio a depender dos humores do morador do Palácio da Alvorada. A lista pode não parar de crescer…

 

 

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