Governadores do Nordeste cobram de Bolsonaro pautas além da Previdência

Paulo Câmara e Bolsonaro (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)
Paulo Câmara e Bolsonaro (Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem)

Por Amanda Miranda

Cobrados publicamente por Jair Bolsonaro (PSL) por apoio à reforma da Previdência, governadores do Nordeste defenderam nesta sexta-feira (24), após reunião com o presidente no Recife, que o governo federal estenda a pauta para outras áreas. Foram citadas demandas como a revisão do pacto federativo, a reforma tributária e a segurança.

“Queria fazer um apelo aos governadores do Nordeste. Temos um desafio que não é meu, é também dos senhores governadores e prefeitos, independente da questão partidária, para executar o que diz o plano (Regional de Desenvolvimento do Nordeste, o PRDNE)”, disse Bolsonaro ao abrir a reunião. “É um projeto que a gente chama de reforma mãe, se você não fizer isso, você não terá suas contas ajustadas e ninguém de fora vai querer investir no nosso País”, voltou a defender em entrevista coletiva.

O presidente veio ao Recife para participar do encontro do Conselho Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que foi realizado no Instituto Ricardo Brennand, na Zona Oeste do Recife. Foi aprovada a criação do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE) e da destinação de 30% dos investimentos para a área de infraestrutura. Além disso, foi anunciado o aporte de R$ 4 bilhões para o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE).

Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem

A declaração do presidente foi criticada pelo governador da Bahia, Rui Costa (PT). “Eu não gosto desse modelo de ficar condicionando ações e investimentos à reforma da Previdência. Isso não é bom nem para a aprovação da reforma da previdência. Fica parecendo que você está fazendo uma troca. E a previdência é algo tão importante para a nação, de tão longo prazo para o planejamento da vida das pessoas, que ela não pode ser permutada ou trocada por qualquer outra ação”, afirmou.

Ao chegar à reunião, Renan Filho (MDB), governador de Alagoas, já havia feito a reclamação. “A gente precisa ter uma agenda que aproxime o Congresso Nacional. Precisa da reforma tributária e diversificar agenda para que o Brasil volte a crescer”, disse o emedebista.

Governadores pedem mudança na Previdência

Filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), opositor de Bolsonaro, ele ressaltou que os governadores defendem a proposta, mas com mudanças. Eles querem, por exemplo, a retirada das alterações na aposentadoria rural e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), o que deve ser feito pela Câmara dos Deputados, onde está em tramitação. “Ninguém trocará ajuda à reforma se ela tirar direito dos mais pobres. A gente não vai apoiar reforma se ela tratar de forma brutal trabalhador rural, professores”, afirmou o governador.

“O último item que faltam os líderes do governo aceitar é não implantar a capitalização. Isso é fundamental porque nenhum país desenvolvido, relevante, do mundo adotou esse modelo”, acrescentou Rui Costa.

“Precisamos levar em conta que não estamos começando do zero a Previdência. Há um modelo e precisamos migrar para um outro, tem que ter um bom prazo de transição, tem que se respeitar um conjunto de efeitos sociais que tem em relação a mulheres, professores, policiais”, disse ainda o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). “A reforma da Previdência é um item, mas tem mais: a reforma tributária…”.

Sobre o substitutivo que deve ser apresentado até junho na comissão especial, Bolsonaro afirmou que “gostaria que nada fosse alterado, mas, se for, é mais do que um direito, é legítimo”. A fala foi feita após dias de atritos entre o governo e o Legislativo e uma semana após o presidente divulgar um texto em grupos de WhatsApp em que critica o Congresso.

O gestor da Paraíba, João Azevedo (PSB), enfatizou que “a questão da Previdência não traz um impacto imediato na economia do País”. “A reforma da Previdência apresentada tem um impacto depois de 10 a 15 anos na economia. Ela pode criar até uma expectativa positiva em termos de investimento, mas não soluciona os problemas, as necessidades e nem os déficits previdenciários dos estados”.

“Eu acho que o Brasil não pode parar, de forma nenhuma, exclusivamente pela reforma da Previdência. As outras políticas também precisam ser colocadas em pautas. Precisaríamos ter aqui definição de políticas para a segurança pública. É um problema para todos os estados.”

Encontro reuniu todos os governadores

Em seu discurso na abertura da reunião, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), não citou a reforma da Previdência, mas pediu ajuda de Bolsonaro. “Força de trabalho aqui nunca faltou. Se hoje se apresenta um novo Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste, e se ele contar com o efetivo esforço de todos os poderes da Nação, nas suas diversas esferas, tenho convicção plena de que a parte que cabe ao povo, ele a fará. A nossa também faremos”, disse.

Participaram da reunião todos os governadores do Nordeste – além dos que já foram citados, participaram ainda Belivaldo Chagas (PSD), de Sergipe; Camilo Santana (PT), do Ceará; Fátima Bezerra (PT), do Rio Grande do Norte; e Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão. Como Minas Gerais também compõe a Sudene, o governador Romeu Zema (Novo) também, o único defensor de Bolsonaro no encontro. Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, foi o único ausente.

Essa foi a primeira visita de Bolsonaro ao Nordeste desde que tomou posse, em janeiro. Depois de deixar o Recife, seguiu para Petrolina com o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), líder do governo no Senado, que tem reduto eleitoral na cidade do Sertão pernambucano.

Na eleição do ano passado, Bolsonaro foi derrotado por Fernando Haddad (PT) em todos os estados do Nordeste, o que não se repetiu nas outras regiões do País. Neles, os governadores eleitos também eram do PT ou aliados do partido no período eleitoral.

Assista ao Resenha Política com o presidente da Sudene sobre a reunião com Bolsonaro

 

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