Governo Bolsonaro cortou quase toda a verba para programas alimentares em 2023; entenda impactos

Verba para programas alimentares dependerá de repasses parlamentares

Os principais programas de assistência alimentar do Brasil foram praticamente extintos do Orçamento apresentado pelo Governo do Presidente Jair Bolsonaro (PL) para 2023. Com isso, programas como o Alimenta Brasil passam a depender exclusivamente de repasses parlamentares via emendas ou, num cenário mais improvável, de negociação antes da votação do orçamento, que normalmente acontece em dezembro.

O Alimenta Brasil é o principal programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar. Ele compra da produção agrícola de famílias e doa a comida para pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional.

 

Os cortes chamam atenção e ligam o sinal de alerta em um cenário brasileiro de que mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com insegurança alimentar em algum grau, o que significa 125,2 milhões de brasileiros.

Professora da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia) e ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Silvio Isoppo Porto afirmou em entrevista ao Uol que famílias agricultoras em situação de insegurança alimentar grave enfrentam muitas vezes a condição da terra insuficiente para plantar ou falta de acesso à água para produzir na estiagem.

“A possibilidade de acesso ao mercado por meio do governo federal é fundamental para contribuir na ampliação da diversificação produtiva e no acesso à renda”, afirmou.

Os cortes variam de 95 a 97% a depender do programa e atingem, em sua maioria, comunidades tradicionais, pequenos agricultores e quilombolas. Segundo levantamento do UOL, o programa de cisternas, que permite acesso à água para consumo humano e produção de alimentos, está praticamente paralisado desde 2021 e segue sem previsão de verbas para 2023.

Com o encolhimento dos repasses, esses grupos deixam de ter renda e de ampliar a integração de suas produções, diminuindo a oferta nutricional do que conseguem consumir.

Os programas com verba quase zerada ficam sob o comando do Ministério da Cidadania, o mesmo que paga o Auxílio Brasil, principal aposta de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. O orçamento da pasta para 2023 cresceu 32% para atender maior a número de beneficiários do Auxílio Brasil. Mas esse dinheiro não vai para as ações de segurança alimentar e nutricional ou de acesso à água.

A verba destinada para o Alimenta Brasil foi reduzida em 97%, para R$ 2,6 milhões. Em 2010, recebeu R$ 622 milhões, mas tem sofrido cortes nos últimos anos. “A redução dos recursos tem impacto direto sobre famílias agricultoras, comunidades tradicionais e povos indígenas, que deixam de produzir e comercializar”, diz Porto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *