Há 30 anos, baianos estreavam uma das maiores micaretas do país

Osmar Marrom Martins
Cheiro de Amor com Márcia Freire foi uma das pioneiras do eventoCheiro de Amor com Márcia Freire foi uma das pioneiras do evento (Acervo da Banda Cheiro de Amor)

Baianos foram as primeiras atrações do Carnatal

Primeiro grande evento de massa que vai acontecer no Brasil depois da pandemia do covid 19, o Carnatal 2021, na capital do Rio Grande do Norte, marca também a sua 30ª edição. Depois do decreto de autorização publicado pelo governo do estado, entre 9 a 12 de dezembro, grandes nomes da música baiana estarão presentes puxando diversos blocos e atraindo multidões de foliões de todo o Brasil.

O Baú do Marrom pega carona e vai relembrar um pouco da história desse Carnaval fora-de-época, o famoso micareta que se mantem firme.

Tudo começou em 1991, seis anos após a explosão nacional da cena axé com Luiz Caldas e o seu Fricote (olha a nega do cabelo duro), feita em parceria com Paulinho Camafeu.

Nos anos 1990, a cena axé se consolidou nacionalmente com uma nova geração capitaneada por Daniela Mercury. Nesse embalo surgiu o Carnatal realizado no centro da capital potiguar com apenas três blocos puxados pela banda Cheiro de Amor com a vocalista Márcia Freire, o cantor Netinho e a Banda Mel.

Para se ter uma ideia, anda não tinha as arquibancadas. Apenas 12 camarotes. Mas a receptividade foi tamanha que a organizadora da festa, a Destaque Promoções, capitaneada por Roberto Bezerra e familiares, não hesitou em agender uma nova festa para o ano seguinte.

Explosão nacional
A noticia correu o Brasil, estimulou o surgimento de outras micaretas no mesmo estilo e revelou ao Brasil a força de uma música com artistas fora do tradicional eixo Rio e São Paulo, capaz de atrair gente jovem, alegre e disposta a brincar e ser feliz.

Bell Marques é um dos desstaques da folia (Foto: Divulgação)

A explosão aconteceu a partir de 1994, quando os organizadores transferiram a festa para o Largo do Machadão, em Lagoa Nova. Foram 14 blocos, incluindo os alternativos, oficiais e os infantis e mais de 500 camarotes.

E o melhor: a chamada axé music não só manteve seu espaço, com Cheiro de Amor, Banda Mel e Netinho como passou a receber outros nomes a exemplo do Chiclete com Banana e Ricardo Chaves – ainda hoje Ricardo e agora Bell Marques são duas das maiores estrelas do evento. Mais: Asa de Águia, Banda Patrulha, Pimenta Nativa e Moraes Moreira.

A cada ano a festa ia crescendo e se consolidando, a exemplo de 2001, recebendo Banda Beijo, Timbalada, Harmonia do Samba, Jammil, Banda Di Maçã, Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Patchanka, As Meninas, É o Tchan. De 2004 até 2006 cada ano aumentava a participação do público, a chegada de novos artistas como a Babado Novo com Claudia Leitte. Aliás, foi em Natal que eu vi pela primeira vez Claudinha se destacando inclusive cantando um sucesso da banda inglesa Led Zeppelin, Dyer Mak´er,  do disco House of the Holy.

A chegada das emissoras
Até então, o Carnatal e as grandes micaretas com bandas baianas eram conhecidas no Norte e Nordeste. Até que, a partir de 2007 as chamadas grandes redes nacionais de TV miraram suas câmeras mandando equipes para saber o que estava se passando nesse outro Brasil e mostrar que existia um mercado pujante que não mais dependia do “Sul maravilha”.

Apesar da axé music já não dominar o mercado musical como nos anos anteriores, as micaretas continuaram apostando na força da música baiana. Tanto assim que mesmo quando foi anunciada a realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014, e os estádios começaram a ser reformados em 2012, nem o inicio das obras da Arena das Dunas afastou a realização do Carnatal em seu entorno no bairro de Lagoa Nova e teve a mesma dimensão dos anos anteriores.

O que viria a acontecer em 2013, quando o evento foi transferido para o Parque Aristófanes Fernandes, em Paramirim, município da região metropolitana. Daí por diante o Carnatal voltou à Arena das Dunas, manteve sua tradição com grandes atrações e ganhou arena-palco para artistas de outros gêneros ou de menor poder de fogo para puxar um bloco. E nomes como Saulo, Léo Santana, Banda EVA continuam atraindo foliões ao lado de Ivete, Claudia, Durval Lelys, Bell Marques e tantos outros.

Eu já frequento o Carnatal há mais de 15 anos. Porém, um dos momentos mais marcantes foi em 2007 quando o América Futebol Clube de Natal subiu da série B para a série A do Campeonato Brasileiro. Durante o desfile dos blocos, a música Vermelho, que é a cor do clube, do Boi Garantido do Festival de Parintins no Amazonas, gravada por Fafá de Belém e Márcia Freire, foi entoada por todo o trajeto. Era a combinação perfeita de Carnaval e futebol.

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