Índia e Paquistão tornam-se oficialmente independentes

Lorde Louis Mountbatten, primo da rainha, foi enviado pelo Reino Unido para mediar o processo de independência

Depois de longas e dolorosas tratativas entre colonizadores britânicos e indianos, e mais ainda entre os próprios indianos, em 15 de agosto de 1947, a Índia e o Paquistão tornam-se oficialmente independentes. Grande parte dos ingleses já se mostrava resignada, desde os anos 1930, em deixar as Índias.

O Estado principal resultante do British Raj – império britânico das Índias – chama-se oficialmente União Indiana ou República da Índia. O país é hoje uma república federativa de 28 estados e 7 territórios, associada à Commonwealth, último vestígio do Império Britânico.

Lorde Mounbatten, Nehru e a mulher do nobre inglês - WikicommonsOs próprios indianos chamam prazerosamente seu país de Bharat, em referência a um rei mítico que inspirou a epopeia em versos Mahabharata. Do ponto de vista religioso, o país é também chamado de Hindustão uma vez que é o berço do hinduísmo – ‘stão’ é um sufixo de origem persa que significa país.

Já o Paquistão, é uma invenção do século 20. Seu nome, concebido por um estudante em 1933, significa o “país dos puros’ e comporta as iniciais de 3 províncias reivindicadas por seus promotores: P de Pendjab, A de Afeganistão e K de Caxemira.  O país é uma república islâmica e também permanece fiel à Commonwealth.

O Partido do Congresso, que agrupava as elites hindus, reclamava desde o começo do século 20 a autonomia, ou seja, a independência da Índia e a Liga Muçulmana, também desejosa de ver partir os ingleses, exigia a criação de um Estado muçulmano, o Paquistão. Seu chefe, Mohamed Ali Jinnah, recusava qualquer ideia de confederação entre esse Estado e a futura União indiana.

Ali Jinnah tentava convencer seus correligionários de que jamais poderiam viver em paz sendo minoria ante os hindus. Após a Conferência de Simla, que redundou em fracasso em 14 de julho de 1946,  ele convoca seus seguidores a uma jornada de ação direta, em 16 de agosto de 1946. Como resultado dela, milhares de pessoas são mortas apenas em Calcutá.

Os britânicos hesitam em entregar a direção do British Raj a um governo interino dirigido pelo pandit Jawaharlal Nehru, companheiro de rota de Gandhi. Então, os colonizadores convocam uma assembleia constituinte em dezembro de 1946, mas ela é boicotada pela Liga Muçulmana e confrontos sangrentos entre as duas comunidades começam a se multiplicar.

Vice-rei

Em fevereiro de 1947, Londres despacha o lorde Louis Mountbatten na qualidade de vice-rei. Mountabatten é primo da futura rainha Elizabeth II, homem notável e brilhante, que se comportou como herói na frente de batalha birmanesa ante os japoneses e devia negociar as modalidades de independência para evitar a divisão do país.

A preferência de Nehru ia em direção a um Estado centralizado a fim de prevenir a criação do Paquistão. Ele teve de enfrentar também os extremistas de seu próprio campo que exigiam a criação de um Estado puramente hindu, o Hindustão, a fim de se contrapor ao futuro Paquistão.

Lord Mountbatten cultivava excelentes relações com Nehru, entretanto Mountbatten perdia as esperanças de preservar a unidade do British Rajet, e em desespero de causa, optou por acelerar o processo de independência, sem se importar com o custo.

Finalmente, a passagem do poder entre o vice-rei e o primeiro ministro teve lugar em 15 de agosto de 1947, em Delhi, no forte Vermelho, antigo palácio dos imperadores mongóis. A cerimônia teve êxito, apesar da ausência de Gandhi, mergulhado em nova greve de fome.

Índia e Paquistão

Os soberanos dos 340 principados que compunham a Índia aceitaram quase todos a se juntar à futura União em troca de generosas compensações. A exceção mais notável foi o soberano muçulmano de Hiderabad, no coração do país, que somente em 1948, pressionado, cedeu.

Enquanto os britânicos se retiravam com certo alívio, Ali Jinnah proclamava em Lahore a independência do Paquistão. Imediatamente, aturdida, grande parte dos hindus e dos sikhs do novo Paquistão amarra suas trouxas e se juntam à União indiana. São imitados em sentido inverso por numerosos muçulmanos indianos. De 1947 a 1950, entre 15 a 20 milhões de pessoas cruzaram as fronteiras dos dois novos Estados, provocando inúmeros incidentes mortais.

Nos vilarejos onde coabitavam as comunidades hindu, muçulmana e sikh, tiveram lugar cenas espantosas: massacres, violações, mutilações. Somente no verão de 1947, pôde-se contar entre 400 mil e 1 milhão de mortos. Uma guerra eclode no final desse ano pelo controle da Caxemira, uma província de maioria muçulmana governada por um príncipe hindu. No começo do século XXI, o problema de Caxemira ainda não esta resolvido e uma linha de cessar-fogo indopaquistanesa corta esta província outrora bela e próspera.

Morte de líderes

Em 30 de janeiro de 1948, seis meses somente após a independência, Mahatma Gandhi é assassinado por um extremista hindu. Quanto a Mohammed Jinnah, recém-empossado líder, morre em 11 de setembro de tuberculose. Lorde Mountbatten declararia mais tarde que se ele tivesse conhecimento de sua doença, possivelmente teria adiado a independência na esperança de evitar a partilha.

Apesar destes acontecimentos, a democracia Indiana iria lentamente crescer e amadurecer sob a direção de governantes notáveis como Jawaharlal Nehru e sua filha Indira Gandhi.

Menos afortunado foi o Paquistão. Estado artificial fundado sobre a identidade muçulmana, separou-se de sua parte oriental em 1971, hoje Bangladesh, e se encontra nessas primeiras décadas do século XXI confrontado com novos desafios devido ao radicalismo islâmico.

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