Jogador filho de libaneses tenta manter tradições muçulmanas no do Bonsucesso

Ali Mohamad Jebah é zagueiro do time sub-20 do Bonsucesso
Ali Mohamad Jebah é zagueiro do time sub-20 do Bonsucesso Foto: Marcelo Theobald
Marjoriê Cristine

Ao raiar o dia, Ali Mohamad Jebahi acorda e reza. Se volta para Meca e realiza o primeiro salat obrigatório — cinco orações diárias, em árabe, necessário para qualquer muçulmano praticante. O ritual sagrado nunca atrapalhou o que o jovem, de 20 anos, mais gosta de fazer: jogar futebol. Com a bola nos pés, o filho de libaneses, nascido em Foz do Iguaçu (PR), é mais um atleta com o sonho de brilhar nos gramados. É no subúrbio carioca, no Bonsucesso, que ele chega firme para barrar preconceitos e os adversários.

Titular, ele entra em campo hoje, no duelo com o Fluminense, às 10h, pela Taça Rio do Estadual Sub-20.

— Sempre foi tranquilo, todo mundo aceita (a religião) e pergunta, porque é diferente. Às vezes, um vai no quarto para ver como é, o que faço (risos). Estou acostumado — diz o jovem, que segue todos os preceitos da religião, como não ter namorada.

Avesso às orações em campo, Ali é contra pedir auxílio para gols e vitórias do time, algo cada vez mais comum no futebol brasileiro.

— Oro para mim mesmo, todos os dias. Não adianta pedir a Deus para jogar bem, isso não existe. Do jeito que Deus está protegendo você, está protegendo o outro — afirma.

Muçulmano, Ali participa do momento de oração do time
Muçulmano, Ali participa do momento de oração do time Foto: Marcelo Theobald

Ali, que significa sublime e nobre, não é aquele típico zagueiro brucutu. É calmo, fala pouco, mas escuta com atenção todas as orientações. Com 1,88m, é o mais alto do time e foi apelidado de “narigudo”, por causa das feições árabes, e “esfirra”, aliás, um dos seus pratos favoritos.

Desde de outubro de 2017 no Bonsucesso, Ali ficou nove meses parado por causa de uma documentação travada na Alemanha, onde defendia o Stockach FC, em passagem rápida e ruim.

Antes da Alemanha e Bonsucesso, Ali, que morava em São Paulo (desde os 3 anos), iniciou a faculdade de administração — no momento trancada —, pois o objetivo é tocar os negócios da família. O pai é dono de uma loja na Rua 25 de Março, local famoso de compras populares. Desde cedo aprendeu a negociar como um árabe.

— A maioria dos árabes é comerciante. Sempre ajudei, ficava no caixa e via como funcionava — conta Ali, que se sente mais libanês do que brasileiro: — Falo árabe desde sempre. Nasci e fui criado aqui, mas minha religião é muçulmana, dentro de casa é tudo ligado à cultura árabe.

Sonho de disputar uma Copa do Mundo

A paixão pelo futebol começou cedo. Aos 5 anos, estava na escolinha da Portuguesa (SP), onde permaneceu até se de mudar para o Líbano. Era o ano de 2012, quando Ali, os pais e os irmãos gêmeos voltaram para casa pela primeira vez. Lá, atuou pelo Al Ahmed, um dos maiores clubes do país e permaneceu por dois anos, período em que foi convocado para seleção sub-15. Mas a guerra e os negócios da família os fizeram retornar ao Brasil.

— A ideia era ir para o Líbano e nunca mais voltar ao Brasil — diz: — Minha mãe ainda nutre a esperança poder voltar e ficar perto de toda a família.

Ali em ação durante jogo do Estadual sub-20
Ali em ação durante jogo do Estadual sub-20 Foto: Marcelo Theobald

Esperança Ali mantém de jogar, quem sabe, uma Copa do Mundo pelo Líbano, algo inédito até mesmo para o país, sequer conseguiu se qualificar. Por jogar no Brasil, onde considera um dos melhores do mundo, o jovem se vê mais preparado do que atletas que atuam em equipes libaneses. Por isso, suas chances de convocação seriam maiores.

— Eu me vejo mais talentoso que eles porque estou no Brasil. Isso não me faz desistir e posso ser um futuro titular na seleção e, quem sabe, disputar uma Copa pelo o meu país — sonha.

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