Laboratório da Ufba tinha equipamentos de R$ 250 mil; incêndio vai atrasar pesquisas

Gil Santos
Fachada onde ficava o laboratório foi consumida pelo fogo e materiais ficaram dependuradosFachada onde ficava o laboratório foi consumida pelo fogo e materiais ficaram dependurados (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

Tamanho dos danos materiais ainda está sendo calculado

O incêndio em um dos laboratórios do Instituto de Ciências da Saúde (ICS), da Universidade Federal da Bahia (Ufba) resultou, até agora, em um prejuízo de pelo menos R$ 250 mil à instituição de ensino, valor orçado para os equipamentos atingidos. Os danos totais ainda não foram contabilizados após o fogo destruir, no domingo, 26, quase toda a unidade de Bioquímica, Biotecnologia e Bioprodutos do ICS, mas sabe-se que o incidente também irá atrasar as pesquisas em andamento. Ontem, uma equipe da Polícia Federal (PF) esteve no local para investigar as causas do incêndio.

Tudo aconteceu por volta das 3h de domingo. Os vigilantes que trabalham no prédio do ICS, no Canela, ouviram uma explosão e correram para verificar o que tinha acontecido. Ao chegar ao 5º andar, encontraram o Laboratório de Bioquímica, Biotecnologia e Bioprodutos (LBBB) em chamas. O fogo começou na sala 511 e já avançava para a 512. Os bombeiros, a direção da unidade e professores foram acionados às pressas.

Sala 511 do laboratório foi destruída pelo fogo

(Foto: reprodução)

A professora e pesquisadora do LBBB, Daniele Takahashi, contou que o local não tem seguro e que são realizadas pesquisas de espécies de plantas importantes para o semiárido e para a região de mangue, melhoramento da mamona e do pinhão-manso para plantio; além do estudo de plantas usadas para fabricação de medicamentos. Ela foi uma das primeiras a chegar ao prédio, ainda durante a madrugada.

“Fui avisada às 3h40 que o laboratório estava pegando fogo. Cheguei às 4h10. Os bombeiros já estavam no combate e o fogo foi controlado rápido. Por volta das 5h foi que consegui ver o estrago, porque na hora que cheguei não tinha noção da extensão do prejuízo. Poderia ter sido pior porque temos muitos produtos inflamáveis. Fui justamente para orientar os bombeiros dos cuidados com esses produtos e com substâncias químicas que quando recebem água podem gerar explosão”, afirmou.

Desde 2007

O laboratório foi criado em 2007. A equipe que usava o espaço é composta por quatro professores e 26 estudantes, a maioria alunos de mestrado e doutorado; além de egressos que retornavam para fazer estudos no local. “Esse incidente vai atrasar muito a pesquisa porque estamos impossibilitados de fazer qualquer outro tipo de experimento a partir de agora, porque os equipamentos foram destruídos”, contou Daniele Takahashi.

Sala 512 foi menos danificada; ao fundo freezers com a memória das pesquisas

(Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)

A memória dos estudos está registrada em freezers que ficam na sala 512, a menos atingida pelas chamas. Técnicos trabalharam ontem desde cedo para conseguir retirar os equipamentos preservando as informações. A mesma sorte não teve os instrumentos da sala 511. A intensidade do fogo foi tamanha que parte da estrutura ficou dependurada na fachada do prédio. No local havia diversos equipamentos importados, alguns ainda nas caixas, como um que foi comprado por R$ 200 mil e investidos mais R$ 50 mil em acessórios.

Apesar da professora ter afirmado que o LBBB não possui seguro, a Ufba informou que mantém contrato de seguro predial e que também mantém contrato de extintores de incêndio instalados em pontos definidos por avaliação de segurança da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai) para todos os prédios da universidade, sendo acompanhados e mantidos em condições de uso com a periodicidade necessária. No caso do ICS são 68 extintores, com recarga feita em dezembro de 2021.

“A Ufba está concluindo negociações com o Corpo de Bombeiros para viabilizar, em breve, a cessão de área para instalação de uma unidade da corporação, no campus do Canela. Embora ainda não haja uma avaliação dos estragos causados pelo sinistro, a Ufba reafirma que direcionará recursos próprios e buscará suplementares para a recuperação dos laboratórios. A Secretaria de Ensino Superior do MEC já manifestou a sua solidariedade e disposição para contribuir com esse processo”, disse a universidade por meio de nota.

O diretor do Instituto de Ciências da Saúde, Roberto Meyer, contou que ainda está levantando o tamanho do prejuízo, mas afirmou que será grande. O laboratório tinha equipamentos considerados de última geração.

“Ainda não temos noção do prejuízo, mas um laboratório foi praticamente destruído e todos os equipamentos que estavam lá eram muito caros, certamente estão perdidos. Do outro lado, na outra sala, alguns equipamentos estão avariados”, afirmou Roberto Meyer.

Segundo o diretor, a Ufba possui uma brigada de incêndio, mas eles não precisaram atuar na hora porque o Corpo de Bombeiros chegou em cerca de 20 minutos e debelou o fogo em duas horas. “O laboratório também possuía extintores de incêndio, que são trocados dentro do prazo de validade e ficam nas portas do local. Além disso, já acionamos o MEC [Ministério da Educação] para que seja feito um aporte de recursos para começar a reconstrução do espaço”, finalizou.

O cheiro de fumaça ainda estava forte nos corredores do 5º andar, nesta segunda-feira, e as janelas foram abertas para facilitar a circulação de ar. Uma equipe da Polícia Federal esteve no local do incêndio, no domingo, para fazer as primeiras análises, e outra equipe retornou na tarde desta segunda-feira para uma avaliação mais minuciosa.

O incidente provocou uma comoção nas redes sociais de alunos e professores que usavam os equipamentos e que vão sofrer o impacto da perda do laboratório. A estudante de Biotecnologia, Ana Camile Assis, 20, fazia parte do grupo de pesquisa do LBBB há pouco mais de um mês. Ela frequentava o local todos os dias para acompanhar as atividades.

“Era a primeira vez que eu tinha conseguido participar de um grupo de pesquisa, ter contato mais direto com as atividades de um laboratório. E no caso do meu curso, Biotecnologia, é muito importante adquirir experiência em atividades práticas. Então vai impactar bastante na minha vida, comprometendo também a ciência de uma forma geral, já que impacta em vários projetos e pesquisas que tinham o potencial de contribuir para o conhecimento em Biotecnologia Vegetal”, relatou a estudante.

Para João Paulo Assis, 23, ainda é cedo pra saber ao certo o impacto do incêndio no laboratório, mas que todos serão afetados de alguma forma, principalmente para quem deseja seguir na área vegetal. “Sem o laboratório não vamos poder desenvolver as pesquisas como costumamos fazer, é uma oportunidade a menos agora. É importante que a gente tenha esse laboratório porque é um dos pouquíssimos espaços que temos no curso de Biotecnologia para desenvolver os estudos vegetais. Sem os equipamentos e materiais não vamos poder dar continuidade aos nossos trabalhos”, declarou o aluno.

Apesar do susto, ninguém ficou ferido, e a estrutura em volta do laboratório também não foi atingida. As aulas foram suspensas nas salas do quinto andar, mas seguem o cronograma normal nos andares inferiores.

Incêndios 

Essa foi a terceira vez que um laboratório da Ufba pegou fogo nos últimos 13 anos. Em 2019, o incidente aconteceu no laboratório de investigação do vírus HIV do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas), no Canela. Tudo começou por volta das 7h, no sexto andar, e pacientes tiveram que ser retirados das enfermarias. O centro cirúrgico também precisou suspender as atividades.

Em 2009, bombeiros trabalharam durante quase quatro horas para debelar chamas que consumiam o Instituto de Química, em Ondina. O fogo começou no quinto andar e se espalhou rapidamente para outros estabelecimentos do prédio. Professores e estudantes tentaram apagar as chamas usando os extintores, mas não conseguiram. Mais de dez caminhões dos bombeiros participaram da operação que contou com equipes da Infraero e apoio de empresas do Polo Petroquímico.

Assim como aconteceu neste domingo, docentes orientaram as equipes sobre os locais onde havia maior concentração de material inflamável e outros cuidados para evitar novos acidentes. Na época do incêndio no Instituto de Química, o prejuízo foi estimado em R$ 800 milhões. Ninguém ficou ferido nos dois episódios.

Nesta segunda, o extintor que fica na porta do laboratório que pegou fogo estava intacto. Segundo o Corpo de Bombeiros, não foi necessário o uso do equipamento. A reportagem procurou o Ministério da Educação (MEC) para saber se existe alguma discussão em andamento para adotar seguro contra incêndio nos laboratórios e prédios federais, mas a instituição não respondeu até a publicação desta reportagem.

A Polícia Federal também foi procurada, mas informou ainda não saber a causa do incêndio.

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