Líder de facção comprou arma por R$ 6 mil para matar policiais; ele fez mulher refém

Bruno Wendel
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)
King já havia baleado outros dois policiais e encomendado um fuzil para atacar viatura

O apelido “King”, palavra inglesa que no português significa “rei”, não é à toa. Apesar do seu bigode ainda ralo, Marcos Vinícius Santos Longo, aos 21 anos, é atualmente a ‘cabeça mais cara’ das facções rivais e da polícia de Lauro de Freitas, na região metropolitana. Ele é uma das lideranças do Comando da Paz (CP) no bairro de Portão.

Na função que lhe compete, o de gerente do tráfico, ele já executou vários integrantes da facção Bonde do Maluco (BMD), baleou dois policiais – um civil e um militar – e planejava matar outros quatro PMs – para isso havia encomendado um fuzil para usar contra uma guarnição. Ele foi preso nesta quinta-feira (18) com uma pistola com mira laser comprada por R$ 6 mil, após invadir uma casa e fazer a vizinha da sua mãe refém no bairro de Portão. A vítima não ficou ferida na ação.

Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Após perseguição policial, ele entrou no segundo andar de um prédio, onde fez refém a única moradora do imóvel. Foram cerca de duas horas de negociação com a Polícia Militar quando King optou pela rendição. Ele foi levado para a 34ª Delegacia (Portão), onde permanece custodiado. No entanto, deverá ser transferido para uma outra unidade a ser definida pela Justiça.

“Ele parecia um fantasma, driblou a polícia várias vezes. Como gerente do tráfico, achava que nunca seria preso, andava ostentando armas. Quando se entregou, ele estava com uma pistola com mira laser com o brasão da Polícia de São Paulo. Estamos apurando como ele conseguiu esta arma”, declarou a delegada Andréa Arrais, titular da 34ª Delegacia.

Ele foi autuado pelos crimes de homicídio, sequestro, cárcere privado, porte ilegal de arma e tráfico – com ele foi encontrado certa quantidade de drogas. King tinha dois mandados de prisão em aberto por homicídio.

Execuções
“Ele tocava o terror aqui em Portão. Era o nosso alvo prioritário nas reuniões das Risp (Regiões Integradas de Segurança Pública) das regiões metropolitanas. Aqui em Portão, apesar dos homicídios estarem controlados, a grande maioria foi ele quem cometeu ou o bando executou a mando dele”, disse a delegada Andréa Arrais.

Entre os homicídios que são imputados ao envolvimento de King, a delegada destacou as mortes de Jairo Bispo dos Santos e Antônio Bruno dos Santos Oliveira, ocorridas em março deste ano, no Beco do Amor, em Portão. “As vítimas eram do grupo rival e foram mortas dentro de um carro. King contou com o apoio do pessoal do Nordeste de Amaralina para cercar o carro”, contou a delegada.

Neste dia, King manteve contato com comparsas do CP do Complexo do Nordeste de Amaralina, atualmente berço da facção, para emboscar os rivais Jairo e Antônio Bruno, do BDM de Itinga, que sondavam Portão, provavelmente mapeavam a área para um possível ataque.

Outro caso citado pela delegada foi no dia 25 de agosto do ano passado, quando King participou também da execução de dois rivais, um deles identificado como Igo Cruz, também ligado ao BDM de Itinga. “Noventa por cento de suas mortes estão relacionadas a disputas por ponto de droga”, disse.

O bando de King é formado em sua maioria por jovens de igual idade ou mais novos. “Nosso Serviço de Inteligência (SI) descobriu que recentemente ele conseguiu cooptar dois meninos de 14 anos. Um menino de 12, que já fazia parte do bando, está hoje internado em estado grave, pois apanhou de King. Ele descobriu que, no lugar de cocaína, o garoto usava farinha e um usuário reclamou com King”, contou a delegada.

Uma pistola com mira laser e carregadores foram apreendidos com King (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

Policiais
Ao descrever o perfil de King, a delegada disparou: “É uma pessoa fria. Não teme a lei”. King já baleou dois policiais durante confronto. “Um deles foi um agente de minha unidade que teve o rim perfurado. O outro foi um policial militar”, contou a delegada.

Usando as redes sociais, King deixava bem nítida sua aversão à polícia. Ele postou mensagens ameaçadoras. “Ele disse que mataria quatro policiais e que tatuaria uma índia (indicação de quem já matou um policial) para cada um que fosse morto”, disse a delegada.

Para tal feito, o traficante havia encomendado da alta cúpula da facção um fuzil. “Foi o que nosso Serviço de Investigação apurou”, completou a delegada.

Pais de King na delegacia (Fotos: Bruno Wendel/CORREIO)

Pais
Na madrugada desta quinta-feira, após uma perseguição, ele invadiu o segundo andar de um prédio na Rua Vereador Lourenço, em Portão. Após a negociação, King se entregou, libertando a diarista Ana Cristina Souza de Jesus, 28. Ela não quis falar, mas o irmão dela, o porteiro Cândido Souza de Jesus, 38, disse à imprensa que ela mora sozinha no local e que todos estavam muito abalados. “Estava no trabalho quando me ligaram dizendo que minha irmã era mantida refém. Vim correndo. Graças a Deus deu tudo certo”, declarou.

No primeiro andar do prédio, mora a mãe de King, Solange, que, inicialmente, tentou em vão convencer o filho a se entregar. Na delegacia, ela não quis falar. Ela era sempre amparada pelo marido, Elinelson. Questionado sobre as acusações, o pai respondeu: “Tudo que acontece aqui põe nas costas do menino”, finalizou.

Fonte: Correio

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