Maioria dos julgados no mensalão tem vida discreta

O ex-ministro José Dirceu chega em sua nova residência, um prédio no bairro Sudoeste, próximo à região central de Brasília (DF)

O ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão

Folha de S.Paulo – Carolina Linhares e João Pedro Pitombo

Em áudio enviado à militância petista no início do mês, José Dirceu diz que segue na luta: “nós vamos retomar o governo do Brasil”.

Seu antagonista Roberto Jefferson (PTB), não perdeu a oportunidade de fazer troça: “volta pra Curitiba, Zé, deixa o Brasil em paz”.

Na mesma semana, o ex-presidente do PR Valdemar da Costa Neto encontrou-se com Michel Temer em Brasília para articular votos em favor do peemedebista na votação de denúncia por corrupção passiva.

Com atuação nos bastidores, três dos principais protagonistas do mensalão voltaram à cena. Mas são exceções.

Cinco anos após o julgamento do mensalão, a maioria dos 26 condenados leva uma vida discreta. Tirando o publicitário Marcos Valério, 56, todos estão fora da cadeia –parte teve perdão judicial, parte está no regime semiaberto ou prisão domiciliar.

Longe dos holofotes, dividem-se entre os que tentam se firmar novamente nas suas antigas áreas de atuação, os que se aposentaram, os que começaram novos projetos e os que respondem a novas acusações.

Sócios de Valério na agência de publicidade SMP&B, Cristiano Paz, 65, e Ramon Hollerbach, 69, estão no primeiro grupo. Paz, que cumpre pena no semiaberto, trabalha na área comercial do jornal “Estado de Minas”. Seu colega Hollerbach cumpre pena no mesmo presídio em Nova Lima (MG) e foi autorizado a sair para trabalhar como consultor de comunicação em uma empresa privada.

Há também quem tenha mudado de ares. José Roberto Salgado, 56, ex-diretor do Banco Rural, recebeu liberdade condicional em dezembro passado e se dedica à criação de touros da raça guzerá em Curvelo (MG).

O ex-deputado federal João Paulo Cunha (PT) concluiu o curso de direito e agora trabalha em um escritório de advocacia e faz pós-graduação em Direito Constitucional em Brasília. José Genoíno, ex-presidente do PT, é instrutor em cursos online ministrados pela Fundação Perseu Abramo.

Valdemar da Costa Neto está por trás da criação de um novo partido, o Muda Brasil, que pode abrigar a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à Presidência.

Cunha, Genoino e Costa Neto tiveram perdão judicial no processo do mensalão.

O ex-deputado José Borba (PMDB) voltou-se para o seu berço político, a cidade de Jandaia do Sul (PR). No ano passado, tentou fazer da mulher prefeita do município, mas ela acabou derrotada.

O único com plano declarado para um retorno à política no curto prazo é Roberto Jefferson. À Folha, disse que será candidato a deputado federal “se a saúde deixar” –ele tem câncer na garganta.

Ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, 56, obteve liberdade condicional no mês passado, e Simone Reis Vasconcelos, 60, ex-funcionária de Marcos Valério, teve a pena extinta em maio, por indulto de Dia das Mães. Ambas se aposentaram.

Pelo menos cinco dos 26 condenados no mensalão estão às voltas com novos processos relacionados à Operação Lava Jato. José Dirceu foi condenado a 11 anos e 8 meses e prisão e recorre em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.

O ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o ex-assessor parlamentar do PP João Cláudio Genu e o empresário Enivaldo Quadrado também foram condenados, mas recorrem em liberdade.

Pedro Corrêa, ex-deputado federal, foi condenado a 20 anos de prisão e cumpre pena em regime fechado. Mas desde março está em prisão domiciliar em decorrência de uma cirurgia na coluna. Ele fez delação premiada, mas aguarda homologação do STF (Supremo Tribunal federal).

Duda Mendonça, réu absolvido no mensalão, confessou o recebimento de caixa dois da Odebrecht na campanha de Paulo Skaf (PMDB) em 2014. Sua agência de publicidade segue ativa, mas só atende empresas privadas. Na última eleição, o marqueteiro não assessorou ninguém.

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