Mais da metade dos baianos não conclui o ensino médio

Levantamento do Todos pela Educação aponta que 56,7% não terminam a educação básica

O que leva um jovem a abandonar o colégio? No caso de Vinícius Alves, 22, foi uma notícia inesperada: um pouco antes de completar sua maioridade, ele e sua ex-namorada descobriram que teriam um bebê. Na época, Vinicius ainda estava cursando o nono ano do ensino fundamental, antiga oitava série.

Luna “deu as caras pro mundo”, como diz o paizão, no dia 10 de março de 2014, pouco depois de Vinícius começar a sua jornada no ensino médio. Com o nascimento, o jovem teve de se dividir entre vendas de sanduíches natural e os estudos. Mas a vida de empreendedor colegial não durou muito tempo: no mesmo ano, por conta das dificuldades com o tempo, ele abandonou a escola.

Ele já fez parte de uma estatística que coloca o ensino médio da Bahia com a maior taxa de abandono no país: apenas 43% dos jovens de 19 anos concluíram o ensino médio, de acordo com um estudo divulgado ontem pelo movimento Todos pela Educação, fundado em 2006, com o objetivo de impulsionar a qualidade e a equidade da educação básica pública.

Os dados são referentes ao monitoramento da Meta 4 do movimento: Todo Jovem de 19 Anos com Ensino Médio Concluído até 2022. Foi feito com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2012 a 2018 (Pnad-IBGE).

Na Bahia, significa que seis em cada dez jovens não conseguem concluir o ensino médio. O número está abaixo dos indicativos nacionais – no Brasil, 64% da população de 19 anos conseguiu completar todo o ciclo de educação básica, que compreende os ensinos fundamental e médio. A Bahia também está abaixo da taxa registrada no Nordeste, que é de 58%.

“Ficou muito pesado para conciliar estudo e trabalho. No final do meu primeiro ano, acabei perdendo em todas as matérias e aí abandonei para correr atrás de emprego”, contou Vinícius Alves, que um ano após o nascimento da filha concluiu o ensino médio através da prova do Enem.

Neste ano, ele conseguiu uma bolsa no Fies e começou a estudar Educação Física em uma faculdade particular de Salvador. Além disso, já teve outro filho, Lucca Bernardo.

Inadequação
Segundo o coordenador de projetos do Todos Pela Educação, Caio Callegari, o levantamento aponta que não apenas a Bahia, mas todo o Brasil está “muito distante do que deveria na questão de oferecer as condições adequadas para a educação”.

O coordenador aponta que a realidade brasileira hoje é pelo menos um a cada quatro jovens que não conseguem completar o ensino médio na idade ideal – 64% deles concluem. Segundo Callegari, isso tem impacto direto no desenvolvimento do país.

“Ter nossos jovens formando tão tarde, ou em muitos casos nem chegando a se formar, indica que estamos muito atrás dos países desenvolvidos. Isso implica uma queda de formação e menor capacitação dos profissionais que ingressam no mercado, por exemplo. Toda essa qualificação passa por uma educação básica consistente”, avalia o coordenador.

Tereza Farias é diretora de ensino médio da Secretaria da Educação do Estado (SEC-BA) e aponta que os números são uma realidade que preocupa e podem ser explicados por diversos fatores: desde o desinteresse dos alunos pela grade curricular ofertada pelos colégios até situações de vulnerabilidade socioeconômica que forçam os alunos a deixar a vida estudantil por conta da necessidade de se inserir no mercado de trabalho.

Contratações
A diretora aponta que a SEC vem realizando ações para diminuir o índice no estado. Ela destaca a contratação de mais 2.421 professores e 635 coordenadores pedagógicos que devem assumir os cargos a partir de janeiro de 2019. Os coordenadores farão parte do quadro efetivo do estado e, quando assumirem, representarão um aumento de 30% na cobertura da Bahia. Hoje, segundo Tereza Farias, 70% das escolas baianas têm acompanhamento de um coordenador pedagógico.

“Esse investimento em mais coordenadores pedagógicos permite um melhor acompanhamento da escola em relação aos alunos, principalmente aqueles em situação de maior vulnerabilidade. Além disso, também estamos investindo em mudanças na nossa grade curricular, oferecendo o ensino profissionalizante, por exemplo. Hoje temos mais de 340 municípios oferecendo cursos de formação profissional e isso se torna atrativo para que o aluno continue na escola”, avalia a diretora.

Tereza Farias ainda aponta que outros esforços estão sendo empregados, a exemplo de um convênio de apoio para o transporte escolar e a criação de projetos dentro da grade curricular dos alunos,  a exemplo de jogos estudantis e projetos de arte e cultura.

Ela destaca que, apesar dos números negativos da Bahia, o Estado conseguiu aumentar a quantidade de jovens que estão cursando o ensino médio no que chama de “faixa etária adequada”. Segundo a diretora, em 2013, o número era de 47,3% e cresceu para 58,5% em 2017. “Há um esforço de gestão e políticas que são feitas para enfrentar essa realidade”.

No Brasil, houve um crescimento de 11,8 pontos percentuais na taxa de conclusão do ensino médio até os 19 anos entre 2012 e 2018. O maior aumento aconteceu entre 2017 e 2018 – 4,3 pontos percentuais. Entretanto, a redução da população em idade escolar faz com que, em números absolutos, o crescimento total de concluintes seja menor que o de anos anteriores – houve 41.797 novos concluintes no período. Já entre 2016 e o ano anterior, o aumento foi de 73.978; e em 2017 em relação a 2016, 85.885.

Fonte: Correio

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