Mesmo com avanço da covid-19, população continua circulando sem máscara

Marcos Felipe Soares
Nas estações de transbordo a máscara voltou a ser obrigatória, mas tem gente que ainda não está usandoNas estações de transbordo a máscara voltou a ser obrigatória, mas tem gente que ainda não está usando (Arisson Marinho/CORREIO)

Além do acessório, especialistas reforçam que é preciso se vacinar

Os números referentes à covid-19 têm crescido diariamente na Bahia: nessa terça-feira (29), segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), havia 5.474 casos ativos da doença. Mas, para muitas pessoas em Salvador, os números não são motivo suficiente para elas voltarem a usar as máscaras de proteção. Nas ruas do Centro, estações de transbordo e na Feira de São Joaquim, por exemplo, dá para contar nos dedos a quantidade de gente usando o acessório que serve de barreira ao vírus. Se for levado em conta apenas aqueles que fazem uso do item de forma correta, a adesão é ainda menor.

Em decreto publicado no Diário Oficial do Estado (DOE) de ontem foi restabelecida a obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados e transportes públicos. A medida tem como objetivo justamente conter a disseminação do coronavírus e encontra respaldo na avaliação de infectologistas.

Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a especialista Fernanda Grassi chama a atenção para a maior capacidade de transmissão da linhagem BQ.1 da variante ômicron. Além disso, a médica alerta que, pelo fato da linhagem ter um maior número de mutações na proteína Spike — relacionada à capacidade de entrada do vírus no organismo —, pode haver uma diminuição da eficácia das vacinas atualmente adotadas.

“Por isso, nesse momento, é muito importante utilizar máscaras de boa qualidade (cirúrgicas ou N95/PFF2), sobretudo em locais fechados, com pouca ventilação natural e maior densidade de pessoas”, explica Grassi. “A máscara é uma barreira física que protege dos aerossóis e de gotículas que podem carregar partículas virais”, continua a infectologista.

Outra decisão tomada pelo governo estadual foi a retomada, na segunda-feira (28), da divulgação dos boletins epidemiológicos diários pela Sesab. Nas 24 horas anteriores ao boletim veiculado nessa terça, houve 887 registros da doença, 875 pacientes recuperados e 10 mortes.

Apesar de ter mais de 60 anos, o feirante Edvaldo dos Santos continua trabalhando de maneira exposta em São Joaquim. “Depois que teve os comentários que a covid já tinha ido embora eu parei de usar”, disse Edvaldo, que mantém a postura por acreditar que, devido ao fato de o ponto da feira onde ele fica ser aberto, o risco de se infectar seja menor.

No aeroporto, avisos sonoros lembram do uso da máscara a cada 10 minutos

(Foto: Paula Fróes/CORREIO)

Dono de um açougue no mesmo local, Osvaldo Oliveira, 57, também ainda não se readaptou ao cenário pandêmico atual. Ele se apega ao fato de trabalhar sozinho, mas promete que não vai mais se descuidar. “A partir de amanhã [hoje], eu vou começar a usar [a máscara]. O negócio ‘tá’ aumentando, e a gente tá mais preocupado”, contou Osvaldo.

Já para Chica da Silva, 64, que tem um ponto de frutas e verduras, deixar de usar máscara nunca fui uma possibilidade — tanto dentro como fora da feira. “Não tiro, não. Quem quiser tirar, tire”, opinou. A feirante ainda afirmou que adota cuidados na alimentação. “Tomando acerola, chupando romã, laranja com limão [alimentos ricos em vitamina C]…”, acrescentou.

Meio a meio
Em outros locais na capital, como a Avenida Sete e a Estação da Lapa, trabalhadores e transeuntes se encontram divididos: parte usa o item de proteção e parte prefere deixá-lo de lado. Ainda assim, o último grupo não oferece resistência à obrigatoriedade que voltou a vigorar em espaços fechados e transporte público.

Mesmo que pendurada no queixo, o vendedor ambulante Paulo da Silva, 69, já portava a máscara nessa terça-feira. “Eu nunca usei. Graças a Deus, não morri”, revelou o comerciante, sem qualquer constrangimento. “Só botava no trem [metrô] ou no ‘buzu’; na rua, não”.

Em oposição, a dona de casa Lourdes Freitas, 63, anda com uma máscara no rosto e outra na bolsa e até evita contato com familiares. “Só na hora de dormir e na hora de tomar banho [que deixa de usar]. E, graças a Deus, ninguém vai na minha casa, porque, quando chega alguém, eu digo: ‘Pode ir embora’”.
Presença maciça no aeroporto

No aeroporto de Salvador apenas para buscar a filha, que vinha de São Paulo, a enfermeira Nereide Pereira, 57, usava máscara. “Eu trabalho na área de saúde, então, sempre usei”, afirmou Nereide. “Inclusive, na minha igreja, eu já orientei o pessoal que volte a utilizar a máscara”, acrescentou ela.

A maioria das pessoas que circulavam no terminal seguiam o exemplo da enfermeira. “Duas colegas nossas tiveram covid e, a partir daí, eu já comecei a me preocupar em começar a usar”, contou a receptiva Sofia Ribeiro, 35, que, desde o último sábado, voltou a estar atenta aos cuidados com o coronavírus. “Até pra academia hoje [ontem] eu fui de máscara”, relembrou.

Por nota, o Aeroporto de Salvador informou que segue todas as diretrizes estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, desde a sexta-feira (25), determinou a retomada do uso obrigatório de máscara nas áreas de acesso restrito e controlado.

“Além disso, as diretrizes estabelecidas pelo novo decreto estadual número 21.744 prevendo, em particular, a obrigatoriedade do uso de máscaras em restaurantes e ambientes fechados, estão sendo devidamente cumpridas, sendo o uso recomendado nos demais ambientes”, complementou o texto.

Segundo a Secretaria de Comunicação (Secom) estadual, embora não tenham sido mencionados explicitamente no decreto, “o entendimento da Sesab é de que a obrigatoriedade se aplica a shoppings”.

Máscara precisa cobrir totalmente o nariz e a boca para surtir efeito, mas muita gente usa deixando o nariz de fora ou pendurada no queixo

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

Vacinação também é indispensável
Mais de 6 milhões de pessoas ainda não se vacinaram ou estão com o esquema vacinal incompleto na Bahia, segundo a última atualização da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), divulgada ontem. Em números precisos, das 12.732.254 pessoas acima de 12 anos no estado aptas à imunização, 6.215.782 ainda precisam se imunizar.

A infectologista Clarissa Cerqueira lembra à população que usar a máscara, por si só, não é suficiente para se proteger da doença, é preciso também a vacina. “A gente vem observando na prática que quem está adoecendo e tendo casos graves é quem tem vacina faltando”, alerta. “A gente reduziu a mortalidade com a vacina e vai conseguir controlar [de novo] com a vacinação”, acrescenta a médica.

A pesquisadora da Fiocruz Fernanda Grassi também avalia que a decisão do governo do estado quanto à obrigatoriedade das máscaras foi apropriada ao momento atual da pandemia, mas ressalta a importância de, além de usar o item de proteção, tomar a vacina.

“É muito importante completar o esquema vacinal,para aqueles que estão em atraso das doses de reforço e para aqueles que ainda não se vacinaram, iniciar a vacinação imediatamente”, afirma Grassi. “A vacinação é a única maneira de barrar a progressão do vírus e de se proteger das formas graves da doença”, reitera a infectologista.

Onde as máscaras voltaram a ser obrigatórias:
– Hospitais, farmácias e demais unidades de saúde;
– Transporte público;
– Salões de beleza e centros de estética;
– Templos religiosos em atos litúrgicos;
– Escolas e universidades;
– Bares, restaurantes e lanchonetes;
– Cinemas, teatros, museus, parques de exposições e espaços congêneres

Doses anticovid em atraso na Bahia:
Primeira dose – 997.793;
Segunda dose – 804.205;
Primeira dose de reforço (3ª dose) – 2.915.592;
Segunda dose de reforço (4ª dose) – 1.498.192

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