Mineração ameaça a água e o território de comunidades no sudoeste da Bahia

O Dia Mundial da Água, 22 de março, é um dia de conscientizar sobre a importância da água para os seres vivos e reafirmar a luta pelo acesso a esse direito, que deveria ser garantido a todos e todas, principalmente aos mais necessitados, independente de classes sociais ou recursos financeiros, mas que na prática não tem funcionado.

Por ser tratada como mercadoria, os conflitos por água tem se intensificado em todo o Brasil. Só na Bahia houve um aumento de 134% do ano de 2016 para 2017, se tornando assim, o segundo estado com o maior número de conflitos no país, conforme dados da Comissão Pastoral da Terra. Dentre as principais atividades econômicas que contribuem com esses números e ameaça o modo de vida de muitas famílias, é a mineração.

A comunidade de Taquaril dos Fialhos, no município Licínio de Almeida, é uma delas. Ela está localizada na Serra do Salto, que compõe a Serra Geral do Estado da Bahia e abriga diversas espécies vegetais e animais, nascentes e rios. Desde 2009, a região vem sendo assediada por empresas mineradoras, e em 2018 a situação se agravou, com o início da fase de sondagem, além de terem sido feitas propostas de compra de terras nas proximidades de onde, possivelmente, se estabeleceriam as atividades de mineração, o que tem deixado os moradores preocupados.

Defesa pela terra e pela água

Rio do Salto, em Taquaril.

O rio do Salto, que nasce nessa região, abastece a Barragem de Truvisco e dezenas de comunidades de Licínio de Almeida, além dos municípios vizinhos de Caculé, Rio do Antônio e de Guajeru que dependem diretamente do Truvisco, a água também é base de organização econômica através da agricultura familiar. Até o início da década de 2000 teve como principal cultura a produção de cana de açúcar, e o seu beneficiamento para a produção de cachaça. Hoje, essas produções se encontram praticamente esgotadas e as propriedades estão fazendo a transição para a produção de maracujá e manga.

Taquaril teme essas recentes investidas por ameaçar o modo de vida das famílias e os recursos naturais, e tem como exemplo os crimes ocorridos em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. A Vale contaminou a terra, a água, plantas e animais, e evidenciou a insegurança do atual modelo de mineração, principalmente em relação a segurança das barragens de rejeitos.

Seu Cosme Alves de Carvalho, morador da comunidade desde que nasceu, analisa essa possibilidade como uma ameaça. “Se essa mineração chega aqui, ela não só vai afetar a vida das pessoas que moram em nossa comunidade, mas também a vida de todas as pessoas que dependem da água que é distribuída pela barragem do Truvisco”, disse.

Se esse projeto for colocado em prática, o fornecimento de água vai ser comprometido, pois durante o processo de mineração tem uma alta demanda deste recurso. Levando em consideração o bioma o qual o território está inserido, transição entre Cerrado e Caatinga, que enfrenta periodicamente grandes períodos de seca, há uma possibilidade de que os danos socioambientais sejam sentidos rapidamente.

Ainda segundo Cosme Alves, nos últimos anos a quantidade de nascentes tem diminuído. “Tinha época aqui atrás, que chovia muito, chegava a brotar água em diversos pontos, tínhamos mais nascentes, mas de um tempo para cá, isso vem diminuindo, então imagina se a mineração entra aqui, o que iria acontecer com a nossa água?”, questiona. Diante deste cenário as famílias de Taquaril se encontram unidas, e relatam que não há dinheiro que pague o sossego que sempre tiveram na comunidade.

“Indústria de moer gente”

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o setor de mineração é o mais perigoso do mundo para se trabalhar atualmente, inclusive apelidada como a “indústria de moer gente”. Além disso, todo projeto de mineração demanda maior mão de obra na fase inicial, de instalação, mas na fase de operação as atividades são realizadas quase totalmente por maquinas, necessitando apenas de trabalhos qualificados.

Nesse sentido, a mão de obra chega de outras regiões, como também aconteceu com o projeto Grande Carajás no Pará, onde 14.000 trabalhadores se deslocaram de outras regiões para a região de Parauapebas. Mas além da questão da água, se soma a uma diversidade de problemas. Isso porque o aumento da população não é acompanhado por uma adequação da estrutura dos municípios minerados, congestionando serviços de saúde, abastecimento, educação, entre outros.

A mineração no Brasil, sem a participação popular nos espaços de decisão e servindo aos interesses das grandes empresas multinacionais, junto a conivência do Estado Brasileiro, tem levado ao colapso uma serie de cidades pelo país e mais recentemente estes grandes projetos tem tomado proporções incalculáveis. O crime de Brumadinho deixou mais de 300 mortos, contaminou todo o rio Paraopeba e a lama de rejeitos chegou ao rio São Francisco, comprometendo o abastecimento e produção de milhares de municípios.

Texto e foto: Equipe Sul/Sudoeste da CPT Bahia e Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)

Edição: Comunicação CPT Bahia

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