Morre Giacomo Meyerbeer, criador da Grande Ópera

Estilo depois foi aperfeiçoado por Wagner, o que ofuscou legado do alemão Meyerbee

Giacomo Meyerbeer, nascido Jacob Liebman Beer, alemão de família judaica, descrito como talvez o mais bem-sucedido operista do século 19, morre em Paris em 2 de maio de 1864.

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O estilo Grande Ópera de Meyerbeer foi concebido mesclando o gênero orquestral germânico com a tradição vocal italiana. Foi empregado no contexto do melodramático e empolgado ‘libretti’, criados por Eugene Scribe com as óperas montadas com base na tecnologia atualizada da Ópera de Paris.

Nasceu em 5 de setembro de 1791 numa rica família berlinense que mantinha contato com a elite intelectual. Aos 19 anos acrescentaria a seu sobrenome o de seu benfeitor e italianizaria seu prenome em 1826.

Beneficiário de uma ampla educação, aprende rapidamente piano com excelentes professores, toca em público aos 8 anos e adquire reputação de exímio pianista. Estuda mais tarde composição com Carl Zeiter, professor de Felix Mendelssho, e em Darmsstadt com o abade Vogler, quando tem por colega Carl Maria von Weber.

Em 1811, compõe um oratório, Gott und die Natur, seguido de uma ópera bíblica, Jephta’s Gelübde (1812), e de uma peça musicada, Wirth und Gast (1813), que não obtêm nenhum sucesso nem em Berlim como em Viena.

Em 1816, na Itália, recebe conselhos de Antonio Salieri e é onde emerge sua vocação ao ouvir a ópera Tancredi de Gioachino Rossini. Compõe uma cantata pastoral, Gli Amori di Teolinda, e depois as óperas que lhe conferem certa notoriedade: Romiulda e Constanza (1817), Semerimide Riconosciuta (1819), Margherita d’Anjou (1820-1826), L’Esule di Granata (1822) e, por fim, Il Crociato in Egito (1824). Esta última é um sucesso em toda a Europa e é montada no ano seguinte em Paris no Teatro Italiano.

Instala-se na capital francesa, preferindo acompanhar Rossini, que considera seu mestre, do que ficar na Itália. Sob a proteção de Luigi Cherubini, inicia em 1827 uma frutífera colaboração com o libretista Eugene Scribe. Primeira obra comum, Robert le Diable estreia em 1831, “uma das maiores consagrações de todos os tempos”. Ao lado da ópera Guilherme Tell de Rossini (1829), estabelece as bases do que viria a ser a Grande Ópera. Paris passa a ser o centro da ópera onde Donizetti, Verdi e mesmo Wagner buscariam brilhar como Meyerbeer o fizera.

Em 1842, é nomeado diretor geral da música da Prússia pelo imperador Frederico-Guilherme IV e substitui Gaspare Spontini na direção da Ópera de Berlim. Compõe Ein Feldlager in Schlesien, que só se tornaria um sucesso quando Jenny Lind assumiu o papel principal em 1844. Monta Rienzi e o Navio Fantasma de Wagner, todavia, “medíocre regente de orquestra” e muito afastado do gosto musical alemão, regressa a Paris.

Obtém novo triunfo em Paris com O Profeta em 1849. Cria para a Ópera-Cômica duas obras de estilos distintos: L’Etoile du Nord, reutilizando a música de Ein Feldlager, em 1854, e Le Pardon de Ploëmel, em 1859, que encontram sucesso porém menos estrondosos que as precedentes.

Retoma então a partitura começada antes de sua viagem a Berlim, L’Africaine, no entanto, falece antes de terminá-la. Foi completada por Fetis e estreou na Ópera de Paris em 28 de abril de 1865.

Meyerbeer havia fixado há muito os cânones da “Grande Ópera” e esteve convencido ao longo de sua carreira da preeminência desse gênero. O jovem Wagner o imitaria servilmente antes de adotar um estilo próprio. Mesmo Verdi teve de se submeter às regras dramáticas que ele havia fixado. É verdade, porém, que Verdi admirava Meyerbeer e não perdia nenhuma estreia de suas óperas. A carreira francesa do compositor, somente interrompida pela infeliz estada de Berlim, demonstrou marcante longevidade.

Se bem que célebre em toda a Europa desde os anos 1830, seu prestígio, após a morte, foi muito rapidamente eclipsado, em particular por Wagner, e suas obras pouco a pouco foram desaparecendo do repertório.

Meyerbeer utilizou com frequência o princípio do ‘leitmotiv’, aperfeiçoado por Wagner. Entre os traços dominantes da “Grande Ópera”, o mais marcante é sem dúvida o espaço dado aos intérpretes. Em toda a sua obra, a escolha dos intérpretes é capital e mesmo determinante para a elaboração do libreto. Meyerbeer dedicava a maior parte de suas viagens à audição de novos cantores e, se um dos contratados rompesse seu contrato, não hesitava em remanejar o papel concernente para adaptá-lo ao novo intérprete. Chegava a ponto de interromper seu trabalho na composição de uma ópera até encontrar o intérprete convincente.

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