Morre Greta Garbo, a enigmática estrela sueca do cinema

Ao longo dos anos 1930, a artista reinaria como atriz suprema das películas; aposentou-se cedo das filmagens e viveria as cinco últimas décadas em reclusão

Em 15 de abril de 1990, a bela e enigmática estrela sueca do cinema, Greta Garbo morre em Nova York aos 84 anos. Com seu talento e aura de mistério, tornou-se uma das mulheres mais fascinantes do século XX, eleita pelo Instituto Americano de Cinema como a quinta maior lenda da história da sétima arte. Apesar de sua carreira meteórica, Garbo era solitária e reservada. Pouco se soube e muito se especulou sobre a atriz, incluindo mistérios sobre sua relação com os Aliados na Segunda Guerra Mundial. Uma das citações mais memoráveis sobre ela é a de que “Greta é como a Mona Lisa — uma das grandes coisas da vida. E tão distante quanto.”

Greta Garbo, nome artístico de Greta Lovisa Gustafson, nascida em Estocolmo em 18 de setembro de 1905, cresceu na pobreza, trabalhando numa barbearia e depois numa loja de departamentos para ajudar no sustento da família após a morte de seu pai.

De 1922 a 1924, Greta estudou como bolsista na escola de arte dramática da Academia Real de Teatro Dramático de Estocolmo. Foi descoberta pelo diretor finlandês Mauritz Stiller que a escalou para o seu filme épico A Lenda de Gosta Berling (1924) e quem lhe cunhou o nome artístico de Garbo.

Stiller levou Greta para filmar na Alemanha. Lá, chamou a atenção do expressionista alemão Wilhelm Pabst, que a convidou para participar do seu  filme, A Rua das Lágrimas(1925).

Louis B. Mayer, poderoso magnata do cinema, que comandava a Metro Goldwyn Mayer, ficou encantado com a performance da jovem atriz, oferecendo a ela e ao seu mentor um contrato para trabalhar em Hollywood.

A espera em Nova Iorque arrastou-se por um mês. Diz a lenda que a demora foi premeditada por Mayer, para “mostrar quem era o patrão”. Nesse meio tempo, Garbo conheceu o fotógrafo Arnold Genthe e juntos fizeram uma memorável sessão fotográfica, publicada alguns meses depois, na Vanity Fair.

As fotos enviadas à MGM despertaram grande interesse. A assombrosa sensualidade de Garbo fez com que Stiller e Garbo recebessem instruções para viajar imediatamente a Hollywood. As fotos de Genthe não deixavam dúvidas: a MGM percebeu que aquela jovem atriz tinha futuro. Um salário inicial de 400 dólares era uma prova concreta da aposta do estúdio. Garbo, à diferença das demais atrizes, começou como estrela, como protagonista.

Quando Os Proscritos (1926), seu primeiro filme americano, estreou num pequeno cinema em Beverly Hills, sua atuação hipnotizou tanto o público, quanto os críticos e os executivos da MGM e rapidamente se tornou uma sensação.

No final da década de 1920, Garbo contracena como protagonista com atores como John Gilbert, o mais proeminente astro do cinema mudo daqueles anos, na película A Carne e o Diabo.

Fez sua estreia no cinema sonoro em Ana Cristina (1930). A chamada publicitária do filme era “Garbo fala!”. Sua voz rouquenha e acentuado sotaque só fez aumentar seu exótico e misterioso apelo. A par disto, a maneira completamente diferente com que Garbo utilizava o corpo em suas interpretações cativou o público. Garbo requeria muito menos legendas para expor suas emoções do que qualquer outro ator de cinema. Garbo reinaria como suprema atriz de cinema aos longo dos anos 1930.

Um de seus maiores triunfos foi o filme Grande Hotel (1932), no qual exprime a famosa frase que a marcou pelo resto de sua vida: “I want to be alone”. Considerado o primeiro filme “all-star” da história, juntar tantas estrelas num mesmo filme foi uma jogada ousada da MGM. Temia-se que o dinheiro gasto com os altos salários jamais pudesse ser recuperado nas bilheterias; o resultado, no entanto, foi sucesso extremo, culminando com o Oscar de Melhor Filme de 1932.

“I want to be alone” (“Quero ficar sozinha”): famosa cena protagonizada por Greta Garbo do filme ‘Grande Hotel’ (1932)

Apesar de algumas escolhas precipitadas de maus roteiros, ao longo do tempo Garbo foi colecionando boas críticas e indicações ao Oscar de Melhor Atriz com grandes sucessos como A Dama das Camélias (1936) e Ninotchka (1939), a primeira comédia de Garbo — anunciada como “Garbo Ri!”, dirigida por Ernst Lubitsch, porém jamais conquistou a estatueta da Academia, a não ser um prêmio honorário por “uma série de brilhantes e inesquecíveis atuações” que recebeu quando já tinha abandonado as telas. No entanto, com suas atuações em Anna Karenina (1935) e em A Dama das Camélias (1936), em ambos ganhou o prêmio de Melhor Atriz da Associação dos Críticos de Cinema Nova York.

A deflagração da Segunda Guerra Mundial interrompeu o mercado europeu, onde os filmes de Garbo costumavam ser mais populares que nos Estados Unidos. Porém quando a MGM recusou-se a atender as pretensões salariais, Garbo anunciou sua retirada das telas. Embora tivesse reservadamente a intenção de retornar após o fim da guerra, esse projeto nunca chegou a se concretizar.

Abandonou repentinamente o cinema aos 36 anos, depois de filmar Duas Vezes Meu (1941), sob a direção de George Cukor. Muitos críticos alegam que Garbo permitiu a Cukor destruí-la em seu filme com sua tentativa frustrada de mudar a fórmula da atriz. Fracasso de bilheteria, Cukor defendeu-se, declarando que “as pessoas dizem gratuitamente que o fracasso de Duas Vezes Meu acabou com a carreira de Garbo. É uma simplificação grosseira. Com certeza a abalou, mas o que realmente aconteceu foi que ela desistiu; não quis continuar”.

Conhecida como a “esfinge sueca” por sua insondável imagem e lendária reserva, nunca se soube ter casado, mas seus casos com Gilbert e outros homens e mulheres alimentaram especulações sem fim. Naturalizada norte-americana em 1951, passou a maior parte de sua vida em Nova York embora viajasse com frequência para a Europa.

Uma das razões de seu afastamento do cinema foi a queda de popularidade. Raramente uma grande estrela fica no auge por mais de 10 anos. Outra é que Garbo odiava conflitos, pois se achava que o roteiro poderia ser melhorado e as pessoas ao redor protestavam, ela simplesmente dizia “esquece” e ia embora.

Mas havia outra razão, intuída pela colunista Elsa Maxwell: “Entrei no toalete e vi aquela mulher se examinando em frente ao espelho. Apertava as mãos contra as faces, como se quisesse levantá-las. Olhou-se por um longo tempo e deu as costas ao espelho. Ela saiu em silêncio, com uma expressão triste no rosto. Senti que Garbo não estava feliz com o que vira no espelho. Percebi, naquele momento, que ela nunca mais faria um filme”.

Viveu as últimas cinco décadas de sua vida reclusa em seu apartamento em Nova York, evitando qualquer contato com a imprensa.

Quatro dias depois de ser internada no hospital devido a uma pneumonia, Greta Garbo morre às 11h30 de 15 de abril de 1990, domingo de Páscoa.

 

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