Morre Malaparte, um dos maiores autores italianos do século 20

Seus dois livros mais famosos “Kaputt” e “A pele” são compilações de sua experiência do front na Ucrânia

O jornalista, dramaturgo, contista, novelista e diplomata italiano, Curzio Malaparte, cujo sobrenome significa literalmente “de mau lugar”, morreu em Roma em 19 de julho de 1957. O pseudônimo adotado por Kurt Erich Suckert a partir de 1925 é um jogo de palavras com Buonaparte, em referência a Napoleão Bonaparte. A obra de Malaparte é uma das mais representativas da Itália do século 20.

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Malaparte combateu na Primeira Guerra Mundial, alcançando o posto de capitão no 5º Regimento Alpino

Malaparte nasceu em 9 de junho de 1898. Combateu na Primeira Guerra Mundial. Em 1922 fez parte da Marcha sobre Roma de Benito Mussolini.

Em 1924 fundou o jornal romano La Conquista dello Stato (“A Conquista do Estado”). Como membro do Partido Nacional Fascista fundou diversos periódicos, dirigiu dois deles, colaborou em outros por meio de artigos e ensaios e escreveu numerosos livros desde o começo dos anos 1920.

Desde novembro de 1943 até março de 1946 trabalhou junto ao Alto Comando Estadunidense na Itália como elemento de ligação com a Itália.

O jornalista

Sua novela de guerra confessional “La rivolta dei santi” (“A revolta dos santos”, 1921) criticou a Roma corrupta como o verdadeiro inimigo. Em Técnica do golpe de Estado (1931), Malaparte atacava Hitler e Mussolini, o que o levou a ser expulso do Partido, sendo anistiado posteriormente por interferência pessoal do genro de Mussolini, Galeazzo Ciano. O regime fascista o prendeu novamente em 1938, 1939, 1941 e 1943, encarcerando-o na prisão romana de Regina Coeli.

Possuía vasto conhecimento sobre a Europa, que adquiriu em sua experiência como correspondente e diplomata. Em 1941 foi enviado para cobrir a guerra na União Soviética como correspondente do Corriere dela Sera.

Os artigos que despachou do front ucraniano foram recopilados em 1943 e publicados sob o título “Volga nasce na Europa”. Esta experiência lhe proporcionou a base para seus dois livros mais famosos: “Kaputt” (1944) e “A pele” (1949).

Os artigos de Malaparte apareceram em muitas publicações literárias de prestígio na França, Reino Unido, Itália e Estados Unidos.

O escritor

Em “Kaputt”, sua descrição novelesca da guerra, apresenta o conflito da perspectiva daqueles que estavam condenados a perdê-la. A descrição de Malaparte ficou marcada por suas reflexões líricas, como quando encontra um destacamento de soldados fugindo de um campo de batalha ucraniano: “Quando os alemães se assustam, quando esse misterioso medo alemão começa a mover-se lentamente sob seus ossos, despertam sempre especial horror e compaixão. Sua aparência é miserável, sua crueldade, triste, sua coragem, silenciosa e desesperada”.

Em “A pele”, o objeto de observação de Malaparte é a Itália dos anos 1943 a 1945. O livro, que representa a triunfante inocência norte-americana frente à experiência europeia de destruição e afundamento moral.

Guinada à esquerda

Depois da guerra, Malaparte passou a alinhar-se ao pensamento de esquerda, filiando-se ao Partido Comunista Italiano.

Em 1949, mudou-se para a República Popular da China e interessou-se pela versão maoísta do comunismo. Uma doença, no entanto, encurtou sua viagem.

Malaparte fez um diário de sua experiência em “Io in Russia” e “In Cina”, publicados postumamente em 1958. Em seu último livro, “Maledetti Toscani”, publicado em 1956, Malaparte criticou a cultura burguesa.

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