Morre o gênio do jazz, Louis Armstrong

Por sua liberdade rítmica, seu fraseado e a valorização dos solos, Louis Armstrong conferiu ao jazz suas grandes linhas mestras e influenciou o mundo inteiro

Louis Daniel Armstrong, nascido em Nova Orleans, 4 de agosto de 1901 e falecido em 6 de julho de 1971, é considerado “a personificação do jazz”. Trompetista e cantor, era o símbolo do estilo Nova Orleans, mas também o precursor do scat, técnica de canto que consiste em se cantar vocalizando tanto sem palavras, quanto com palavras sem sentido e sílabas (p. ex.. “La dum ba dum pa”), usado por cantores de jazz que criam o equivalente de um solo instrumental apenas usando a voz.

Wikicommons

Armstrong morreu de ataque cardíaco com 69 anos em Queens, NY

Por sua liberdade rítmica, seu fraseado e a valorização dos solos, Louis Armstrong conferiu ao jazz suas grandes linhas mestras antes de difundi-las pelo mundo afora através de múltiplos concertos.

Armstrong nasceu em uma família muito pobre. Passou a juventude num bairro de Nova Orleans. O pai, William Armstrong, abandonou a família quando Louis ainda era criança. O menino frequentou a Fisk School for Boys onde, pela primeira vez, entrou em contato com a música. Levou algum dinheiro para casa trabalhando como entregador de jornais e engraxate ambulante. Passou a entrar escondido em bares de música perto de sua casa para ouvir e ver os cantores.

Após sair da Fisk School, aos 11 anos, Armstrong formou um quarteto que tocava na rua para ganhar algum dinheiro. O tocador de corneta Bunk Johnson o ensinou a tocar de ouvido no Dago Tony’s Tonk em Nova Orleans. Armstrong desenvolveu sua maneira de tocar trompete na banda New Orleans Home for Colored Waifs (banda do Asilo Nova Orleans para Negros Abandonados), para onde foi levado várias vezes por delinquência juvenil. O professor Peter Davis
providenciou-lhe educação musical.

A Home tocou por toda Nova Orleans e o rapaz de 13 anos passou a atrair atenção ao modo como tocava trompete. Aos 14 anos saiu da Home e ganhou o seu primeiro emprego noturno no Henry Ponce’s, onde Black Benny se tornou o seu protetor. Queimava carvão na fábrica durante o dia e tocava trompete à noite.

Tocou assiduamente nas Brass Band Parades e ouviu os músicos mais velhos sempre que podia, aprendendo com Bunk Johnson, Buddy Petit, Kid Ori e, acima
de tudo, com Joe “King” Oliver. Mais tarde, tocou nos ‘riverboats’ de Nova Orleans, trabalhando com Fate Marable, subindo e descendo o Mississipi.

Durante as suas experiências de “Riverboat”, a música de Armstrong começou a amadurecer. Aos 20 anos, já conseguia ler partituras e começou a tocar prolongados solos de trompeta. Começou a cantar. Em 1922, Armstrong foi para Chicago, a convite de Joe “King” Oliver, para se juntar à “Creole Jazz Band”. Chicago, a cidade do vento, tinha grande população negra, que após trabalharem nas fábricas, tinham algum dinheiro para gastar numa ida ao bar.

À medida que a carreira de Armstrong crescia, era desafiado a “cutting contests” (competições nas quais um músico tenta roubar o emprego do outro tocando melhor do que ele). Armstrong fez as primeiras gravações nas Gennett e Okeh labels, incluindo alguns solos e breaks, na condição de segundo trompete na banda de Oliver em 1923.

Sua segunda mulher, a pianista Lil Hardin Armstrong, fez com que Armstrong desenvolvesse um novo estilo. Convenceu o marido a tocar música clássica nas igrejas, para aperfeiçoar sua técnica e a tocar sem banda ou com coral religioso.

Encontro com Nova Iorque

A “Creole Jazz Band” desfez-se em 1924 e Armstrong foi convidado a Nova Iorque para tocar com a Fletcher Henderson Orchestra, a banda afro-americana de maior sucesso à época. Armstrong fez várias gravações, com arranjos de um velho amigo de Nova Orleans, o pianista Clarence Williams, que incluíam concertos da banda Williams Blue Five, alguns solos de jazz e uma série de acompanhamentos com tocadores de Blues, incluindo Bessie Smith,
Ma Rainey e Alberta Hunter.

Armstrong havia gostado de Nova Iorque mas considerou que a Henderson Orchestra era bastante limitada. Começou a fazer gravações diretamente com os famosos Hot Five e Hot Seven, produzindo grandes êxitos como Potato Head Blues, Muggles e West End Blues. O grupo incluia Kid Ory (trombone), Johnny Dodds (clarinete), Johnny St. Cyr (banjo), e a mulher de Armstrong.

St. Cyr dizia que “todos relaxavam ao trabalhar com ele…ele fazia sempre o seu melhor para realçar cada um dos membros da banda.” As gravações com o pianista Earl “Fatha” Hines e a introdução de Armstrong em West End Blues continuam sendo as mais famosas influências na história do Jazz.

Armstrong também tocou na “Erskine Tate’s Little Symphony”. Compuseram música para filmes mudos e shows ao vivo, inclusive versões de música clássica “jazzeadas” entre as quais Madame Butterfly. Era a banda de jazz mais famosa na América. Após separar-se de Lil, Armstrong começou a tocar no café Sunset de Chicago para Joe Glaser, um associado de Al Capone. Na Carrol Dickerson Orchestra, com Earl Hines no piano, que rapidamente foi transformada na Louis Armstrong’s Stompers.

Armstrong regressou a Nova Iorque em 1929, tocando na orquestra do musical Hot Chocolate. Começou a trabalhar no Connie’s Inn no Harlem, o segundo clube noturno mais famoso. Granjeou considerável sucesso com as gravações vocais, incluindo versões das famosas músicas compostas pelo seu velho amigo Hoagy Carmichael.

A Depressão dos anos 1930 atacou de forma violenta o jazz. Bix Beiderbecke faleceu e a banda de Fletcher Henderson dispersou- se. Muitos músicos deixaram de tocar nos clubes e alguns deixaram mesmo de ser músicos. King Oliver fez algumas gravações mas não tiveram êxito nenhum. Sidney Bechet tornou- se alfaiate e Kid Ory regressou a Nova Orleans para criar galinhas.

Armstrong deslocou-se para Los Angeles em 1930 à procura de novas oportunidades. Tocou no New Cotton Club com Lionel Hampton na percussão. Em 1931, apareceu no seu primeiro filme: Ex-Flame. Regressou a Chicago em dezembro de 1931, tocando nas bandas de Guy Lombardo e Raphael Minsby. Viajou por quase todos os estados e em março de 1934 regressou a Nova Orleans e dali para a Europa.

Recuperação pós crise

Depois de retornar aos Estados Unidos, fixou residência no Queens, Nova Iorque, em 1943, já com sua quarta mulher, Lucille. Durante os quase 30anos seguintes, Armstrong tocou inúmeros solos e com inúmeras bandas, participou de filmes. Em 1956, estrelou o filme High Society ao lado de Frank Sinatra, Bing Crosby e Grace Kelly, o seu maior sucesso no cinema. Enfrentou algumas críticas por parte dos ativistas negros norte-americanos, pelo fato de não militar mais ativamente no movimento dos direitos civis.

Em 1964, atingiu o maior recorde de vendas, ultrapassando todas as antigas gravações, com “Hello, Dolly!”. A música ficou em primeiro lugar nos Top 10, fazendo com que Armstrong, com 63 anos de idade, a pessoa mais idosa a conseguir tal feito, destronando até os Beatles, que estavam, por 14 semanas seguintes, em 1º lugar.

Antes de morrer, em 1971, andou por todos os continentes, excepto a Oceânia e a Antárctica, em digressão, ganhando o nome de “Embaixador Satchmo”. Armstrong foi fortemente influenciado por Martin Luther King no tipo de músicas que tocava e nas letras relacionadas com a discriminação racial.

Armstrong morreu de ataque cardíaco em 6 de Julho de 1971 com 69 anos em Corona, Queens, Nova Iorque, 11 meses após tocar o seu último solo na Sala Imperial do Waldorf Astoria. As últimas palavras foram: “Eu tive o meu trompete, uma vida linda, uma família, o jazz. Agora estou realizado.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *