Morre o maestro italiano Arturo Toscanini

Com apenas 19 anos, o jovem violoncelista assumia a regência da ópera Aida, de Verdi

Em 16 de janeiro de 1957, morre em Nova York Arturo Toscanini, maestro italiano elogiado por sua genialidade e por sua exigência consigo mesmo e com seus músicos.

Toscanini nasceu na cidade de Parma em 25 de março de 1867. Ganhou uma bolsa de estudos no conservatório local para estudar violoncelo e uniu-se a uma orquestra de uma companhia de ópera, com a qual fez uma turnê pela América do Sul em 1886.

Estavam programados concertos para o Rio de Janeiro, aonde apresentaria Aida, de Verdi. Leopoldo Miguez, maestro contratado para reger a ópera, foi entrando em conflito com os músicos ao longo dos ensaios em virtude do pouco domínio que tinha sobre a recente e grandiosa obra. Cantores chegaram ao ponto de entrar em greve exigindo a substituição do maestro. Carlo Superti e Aristide Venturi tentaram sem sucesso completar o trabalho. Desesperados às vésperas da estreia, os músicos sugeriram o nome do jovem violoncelista que sabia a peça toda de cor.

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Wikicommons - Maestro italiano Arturo Toscanini

Wikicommons – Maestro italiano Arturo Toscanini

Embora não tivesse experiência de regência, Toscanini acabou sendo finalmente convencido pelos colegas a assumir o posto e assim deu início a sua longa carreira. Regeu a Aida – orquestra, coro e cantores – nas duas horas e meia de duração com apenas 19 anos de idade. Ao final da apresentação, o público, que havia sido tomado de surpresa com a presença de um jovem desconhecido no pódio, aplaudiu estrondosamente em homenagem a sua sólida maestria. No restante da temporada, Toscanini regeu outras 18 óperas, todas com absoluto sucesso.Poucos tiveram uma carreira como a sua. Além de ter regido a Metropolitan Opera de Nova York, com sua impiedosa precisão foi diretor do Scala de Milão, da Filarmônica de Nova York e do Festival de Salzburgo.

Era célebre por sua privilegiada memória. Conhecia as obras nota por nota e, como era dono de ouvido absoluto, percebia qualquer erro, por mínimo que fosse. Exigente, não havia músico que satisfizesse o alto padrão por ele imposto.

Friedelind Wagner, neta do compositor alemão Richard Wagner que conheceu seu trabalho, dizia que “Toscanini tinha uma obsessão que acabou sendo trágica”, pois “deixou de reger aos 87 anos, sem jamais ter se contentado plenamente com o resultado de suas apresentações”. Ela assistia a uma ensaio de Fidelio, ópera de Beethoven, quando viu a soprano Lotte Lehmann questionar o maestro do porquê a apresentação não lhe agradava. “Manca il fuoco!” (falta brilho!) respondeu Toscanini.

O disco, na época um novo instrumento de difusão da música, deve ao maestro Toscanini as primeiras gravações orquestrais de qualidade. Há peças que foram gravadas e regravadas 10 ou 20 vezes, mas que nunca foram vendidas porque algum detalhe mínimo não lhe agradava.

A precisão de Toscanini tornou suas interpretações especialmente dinâmicas e transparentes, momentos únicos da história dos concertos ainda que o resultado não alcançasse a perfeição que buscava. Poucos músicos satisfaziam seu alto padrão artístico. Um deles foi seu genro, o pianista ucraniano Vladimir Horowitz.

Certa vez, estava em Nova York ouvindo música pelo rádio e os locutores anunciavam as regências de Dr. Kousewitzky, Dr. Rodjensky, Dr. Stokowsky e de outros. Toscanini balançou a cabeça e disse: “todos doutores, mas nenhum maestro!”.

Pensava a vida e o trabalho de maneira incondicional. Em 1919, concorrera, sem êxito, ao parlamento por Milão. Tinha sido classificado como o “maior regente do mundo” por Mussolini. Mais tarde, desiludido com o fascismo, chegou a desafiar o ditador italiano. No concerto em memória do compositor italiano Giuseppe Martucci, em 14 de maio de 1931, no Teatro Communale em Bologna, foi ordenado a reger o hino fascista Giovinezza, mas recusou-se publicamente. O governo cassou seu passaporte só devolveu o documento após clamor mundial.

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