MP-BA vai investigar irregularidades em concurso para prefeitura de Alagoinhas

Júlia Vigné
Por falta de salas, coordenação chegou a sugerir que alunos fizessem a prova em mesa com outros três participantes (Foto: Arquivo Pessoal)
Atrasos, salas insuficientes e não recolhimento de celulares são algumas das irregularidades apontadas por participantes

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) irá investigar o concurso público da prefeitura de Alagoinhas, realizado na manhã deste domingo (14). Participantes relataram diversas irregularidades que teriam ocorrido durante a aplicação da prova. A falta de infraestrutura e suporte aos candidatos foi denunciada pelos concurseiros nas redes sociais e até a polícia foi chamada.

Atrasos no início da prova, salas insuficientes para a quantidade de alunos, não recolhimento de aparelhos celulares e falta de detector de metal nos banheiros foram algumas das falhas apontadas por quem prestou o concurso. Ao todo, 7.442 pessoas fizeram a prova em 18 lugares de Alagoinhas e Salvador.

Um vídeo postado no Facebook mostra alunos sentados ao redor de uma mesa de plástico, em grupos de quatro, após terem sido avisados de que teriam que fazer a prova no local. A candidata que grava a situação protesta: “Estamos sem sala. Colocaram a gente para fazer em grupo, tá certo isso? Prova coletiva”, diz. “Na cantina está cheio de gente fazendo prova”, responde uma das candidatas que aparecem na filmagem.

O fato ocorreu na Faculdade Santo Antônio, em Alagoinhas. A contadora Flávia Vasconcelos, 32, foi uma das pessoas afetadas com a confusão. Ela contou ao CORREIO que duas salas que iriam funcionar para o concurso estavam fechadas e que os participantes acabaram ficando sem cadeiras para fazer a prova.

A situação foi regularizada apenas às 9h30, 1h30 depois do início oficial, marcado para as 8h. “Mandaram a gente aguardar porque eles iriam providenciar cadeiras. Só que isso não aconteceu. A coordenação nos colocou em uma sala com cabines na lateral e várias mesas com quatro cadeiras que eles disponibilizaram para que fizéssemos a prova, só que nós unimos e não aceitamos isso”, contou.

O grupo resolveu chamar a polícia para registrar a situação. Apenas às 9h30 uma sala foi providenciada para que as pessoas pudessem iniciar o concurso.

Policial foi chamado para registrar a situação (Foto: Arquivo Pessoal)

A técnica em enfermagem Queithiane Ramos, 31, e seu marido fizeram a prova no Centro Territorial de Educação Profissional (Cetep), em Alagoinhas. Ela conta que a primeira irregularidade que reparou foi o material fornecido para colocar os pertences pessoais proibidos, como celular, que era transparente e sem lacre.

“Era o mesmo saco que usamos para colocar verduras em supermercados. Não tinha como fechar nada. Depois pedi para ir ao banheiro e, para minha surpresa, não fui revistada e nem passei em detector de metais. Se eu tivesse com um segundo celular, poderia usar lá dentro. Ainda vi várias pessoas de salas diferentes que foram ao banheiro ao mesmo tempo”, contou.

Uma das participantes, que preferiu não se identificar, afirmou que viu um dos candidatos escondendo um celular na cueca durante a prova e pedindo para ir ao banheiro. Ela afirmou que ficou receosa de denunciar por medo de represálias.

Cerca de cem candidatos que foram atingidos com as irregularidades criaram um grupo no WhatsApp para organizar ações contra a continuidade do concurso. Eles discutiam a possibilidade de abrir uma ação na Justiça e ir pessoalmente ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciar o caso. Alguns membros já acionaram o MP através da denúncia online.

A prefeitura de Alagoinhas abriu 505 vagas, sendo 97 para contratação imediata e outras 408 para formação de cadastro reserva. A taxa de inscrição custou R$ 44 para os cargos de nível médio e R$ 58 para nível superior. Os salários iniciais variam entre R$ 1.198,47 e R$ 2.715,63.

Resposta
Em nota, a prefeitura de Alagoinhas afirmou que na Faculdade Santo Antônio houve “uma questão com as salas reservadas, que não estavam abertas no horário previsto”.

“Segundo a secretária de Administração, Leila Vila Flor, a Comissão de Concursos acionou imediatamente o Instituto Nosso Rumo, que contatou a Faculdade e resolveu prontamente a questão. Enquanto aguardavam os encaminhamentos, os candidatos que fariam a prova no local foram transferidos para outras salas, onde permaneceram até o novo direcionamento”, diz a nota.

“É importante ressaltar que, nas áreas provisórias para as quais foram transferidos, os candidatos não tiveram acesso aos cadernos de provas. Eles iniciaram, portanto, o processo com um atraso em relação ao horário previsto, mas terão garantido o direito ao mesmo tempo de prova dos demais inscritos. A Secretaria de Administração comunica ainda que o Instituto Nosso Rumo foi acionado e deve encaminhar, até o final do dia, um relatório especificando detalhes da aplicação de prova nos locais previstos em edital”, acrescenta a nota.

Uma outra nota emitida pela prefeitura ainda afirma que o Instituto Nosso Rumo afirmou que “os critérios de segurança foram rigorosamente adotados na aplicação”. “Com a utilização de lacres nos malotes de cadernos de questões e folhas de respostas, cumprimento do tempo de prova, coleta de três assinaturas do candidato na frente da folha de respostas e controle rigoroso dos cadernos e folhas de respostas, através de formulários assinados por candidatos e outras testemunhas, que acompanham a abertura e o fechamento dos malotes”, diz a prefeitura de Alagoinhas.

O CORREIO procurou o Instituto de Educação e Desenvolvimento Social Nosso Rumo, empresa a  cargo do processo, mas não conseguiu contato.

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