Muriel troca estabilidade na Europa para buscar o reconhecimento no Brasil e vira o ‘Muroel’ do Fluminense

Muriel está há menos de três meses no Fluminense

Muriel está há menos de três meses no Fluminense Foto: Marcos Ramos / Marcos Ramos
Rafael Oliveira

Em sua última temporada pelo Belenenses, Muriel disputou 32 das 34 rodadas do Campeonato Português. Em 12, não foi vazado. Embora a despedida tenha sido com um cartão vermelho, era unanimidade no clube. A diretoria lhe ofereceu aumento salarial e um novo contrato de seis anos. Em bom momento, o goleiro tinha ainda outras propostas da Europa. Mas foi uma do Brasil que fez seu coração balançar.

— Não planejava voltar para o Brasil tão cedo, estava feliz na Europa. Mas é gratificante voltar para um clube grande. O futebol brasileiro também está num nível muito alto. Não pensei duas vezes e assinei com o Fluminense — disse o goleiro, que neste domingo, às 19h, contra o Goiás, no Serra Dourada, vai para seu 13º jogo com a camisa tricolor.

Muriel estava de férias no Brasil quando recebeu o contato do clube carioca. O acerto foi tão rápido que ele ainda nem terminou a mudança. Boa parte de seus pertences permanece num depósito em Portugal.

Com Rodolfo suspenso por doping, o Fluminense tinha urgência em reforçar a posição. Agenor, então titular, sofria com a irregularidade e já era contestado. Para Muriel, era a chance de realizar o sonho de ser reconhecido no Brasil:

— Quando cheguei, já fiquei feliz. Vi que tomei a decisão certa.

Há menos de três meses no Fluminense, ele já conquistou a titularidade e a torcida. Nas arquibancadas e nas redes sociais, é comum ver tricolores se referirem a ele como “Muroel”. O apelido tem uma razão de ser: entre os goleiros que atuaram pelo menos quatro vezes no Brasileiro, é dele a melhor média de defesas difíceis.

— Tinha um radialista no Sul que me chamava assim. Mas fazia muitos anos que não ouvia. Não sei de onde veio agora. Mas fico feliz com o carinho do torcedor.

Aos 32 anos, Muriel viveu poucos momentos de protagonismo no Brasil. O mais duradouro foi no Internacional, que o revelou. Conquistou a titularidade em 2011 e se manteve no posto até 2013. Mas iniciou o ano seguinte na reserva de Dida. No fim daquela temporada, ainda viu o irmão Alisson, cinco anos mais novo, ganhar a posição. Nunca mais teria uma sequência no Colorado.

Muriel e Alisson: sem briga pelo posto de galã da família

Muriel e Alisson: sem briga pelo posto de galã da família Foto: Arquivo pessoal

O carinho com que fala do caçula — titular de Tite na seleção até se lesionar pelo Liverpool há um mês e meio — mostra que ter sido seu reserva nunca foi um problema. Os dois são tão próximos que, após os jogos de cada um, é comum conversarem por telefone sobre erros e acertos. Alisson é padrinho dos dois filhos de Muriel, Maria Eduarda, de 14 anos, e Francesco, de 11. Mas a volta ao Brasil passa por mostrar que “irmão do Alisson” não é a única forma como ele quer ser lembrado:

— Sou muito competitivo — avisa. — Espero poder jogar o máximo que der na carreira. E meu foco agora é fazer parte da história do Fluminense.

Galã? Não, obrigado

Assim como demonstra carinho e admiração, Muriel também não esconde a competitividade entre ele e Alisson. Mas, se tem um posto pelo qual não faz questão de concorrer com o irmão, é o de mais bonito da família.

— O que posso dizer… Minha mulher fala que sou mais bonito. Para mim, já é o suficiente — brinca o goleiro do Fluminense, referindo-se a Elisângela, sua companheira há 15 anos.

Muriel e Alisson com os pais Magali e José e três de seus quatro filhos
Muriel e Alisson com os pais Magali e José e três de seus quatro filhos Foto: Arquivo pessoal

Ele diz não ter vaidade quando o assunto é a aparência. Mas a franja do cabelo, grande e penteada de forma a esconder as entradas, entrega que o desapego não é tão grande assim:

— Até arrumo a barba e o cabelo um pouco. Mas não tenho muita paciência fazer algo mais, como um tratamento… Nem produto passo. Em questão de roupa, também acho que sou simples. Gosto de me vestir de acordo com a ocasião. Mas não me apego muito a isso.

Pai, mãe e até bisavô foram goleiros

A intimidade com as traves não une apenas Muriel e Alisson. Um dos bisavôs deles foi goleiro de um time de Novo Hamburgo (RS), cidade natal dos irmãos, nos anos 50. Os pais da dupla, Dona Magali e Seu José Becker, também exerceram a função. Ela, no handebol. Ele, na equipe de várzea da empresa em que trabalhava, também na cidade gaúcha. Nos encontros da família, até tentam evitar falar de futebol. Sem sucesso.

— Até hoje, sempre que tem um pênalti e a gente escolhe o canto, o pai fica brabo. Ele fala: “Vocês são rápidos, não têm que escolher canto”. Às vezes estamos irritados porque perdemos e sabemos que ele ainda vai falar — conta Muriel: — Teve uma vez que o Alisson pegou um pênalti no meio do gol e o pai estava no estádio.

Ser o mais velho dos irmãos Becker teve seu preço. Muriel lembra que sofria com Seu José na base:

— Nossos pais não ficavam com a maioria dos outros. Pegavam a cadeirinha e iam para trás do gol. O pai ficava dando toques no meio do jogo: “Faz isso, faz aquilo”. Às vezes eu retrucava, ficava bravo.

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