Opinião: Onda de violência no Ibura é culpa do Estado

Por Raphael Guerra 

Moradores do Ibura mudam rotina por conta da violência. Foto: TV Jornal/Reprodução

Como pode um detento, que cumpre pena há quase duas décadas, continuar a liderar uma perigosa quadrilha e a impor regras a uma comunidade inteira? A resposta é simples: culpa do Estado. A onda de violência que amedronta os moradores da comunidade da Vila dos Milagres e redondezas, no bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, não é novidade. Mas, durante todos esses anos, pouco foi feito para resolver o problema.

Primeiro porque o sistema prisional nunca foi visto como prioridade no Pacto pela Vida. Muito pelo contrário. As unidades continuam superlotadas, sem agentes penitenciários suficientes, e com presos falando ao celular e liderando organizações criminosas.

Do lado de fora, o policiamento também é precário. Moradores da Vila dos Milagres denunciam que não podem sair às ruas à noite e temem até fazer atividades mais simples durante o dia, como levar os filhos à escola ou comprar pão na padaria. A grosso modo, é sim um toque de recolher.

Às vésperas de uma eleição estadual, o discurso da Polícia Militar de Pernambuco é de que tudo está sob controle. Mas os relatos de quem vive no Ibura são bem diferentes. Nessa quarta-feira (20), em entrevista no programa Por Dentro com Cardinot, da TV Jornal, um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa foi categórico: criminosos circulam livremente fortemente armados à noite.

E o que faz a Secretaria de Defesa Social para impedir isso? Pouco. Porque não adianta só prender, se os criminosos não são monitorados, não são impedidos de continuar agindo mesmo sob a responsabilidade do Estado.

Se chegou a esse ponto é porque há um descontrole, uma inércia dos nossos governantes em relação aos bairros mais periféricos. A violência que impera nas comunidades, a exemplo do Ibura, é um problema crônico e difícil de ser combatido quando o discurso se sobrepõe à prática.

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