Para não irritar China e Rússia, auxiliares pedem a Bolsonaro para evitar Bolívia nos Brics

[ Para não irritar China e Rússia, auxiliares pedem a Bolsonaro para evitar Bolívia nos Brics ]
  Por: Antônio Cruz / Agência Brasil  Por: Folhapress  0comentários

Embora tenha visto com simpatia a renúncia de Evo Morales na Bolívia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem sido aconselhado por auxiliares e diplomatas a evitar abordar a crise sucessória no país vizinho durante a reunião dos Brics.

Na quarta (13) e quinta-feira (14), o presidente recebe em Brasília os chefes de governo de Rússia, Índia, China e África do Sul, na 11ª cúpula do bloco.

A avaliação é que defender a transição de poder na Bolívia pode abrir um flanco de desgaste principalmente com duas nações: Rússia e China.

Aliados de Evo, os russos usaram termos duros para se referir à saída do agora ex-presidente do cargo, anunciada no domingo (10), e disseram que os fatos “se assemelham a um golpe de Estado instrumentado”.

“Acompanhamos com inquietude a dramática evolução dos acontecimentos na Bolívia, onde a onda de violência desencadeada pela oposição não permitiu a conclusão do mandato presidencial de Evo Morales”, afirmou, em comunicado, a chancelaria russa.

A posição de Moscou é diferente da do governo brasileiro, que não considera a caída de Evo um golpe. O ex-mandatário tem afirmado que renunciou à Presidência em razão de um “golpe cívico, político, policial”.

Em mensagem publicada nas redes sociais, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que Evo protagonizou uma “fraude eleitoral maciça” que o deslegitimou como governante.

“Não há nenhum golpe na Bolívia”, escreveu o ministro das Relações Exteriores brasileiro. “O Brasil apoiará transição democrática e constitucional. Narrativa de golpe só serve para incitar violência.”

Bolsonaro também nega que a situação configure um golpe. Ao jornal O Globo, no domingo, o presidente brasileiro afirmou que “a palavra golpe é muito usada quando a esquerda perde”.

Nas redes sociais, comentou a queda de Evo e voltou a defender o voto impresso, uma de suas bandeiras.

Ao ser questionado sobre a oferta de asilo político a Evo pelo México, Bolsonaro disse que Cuba seria um bom destino para o ex-presidente boliviano. “Lá [no México] a esquerda tomou conta de novo. Tem um bom país para ele: Cuba.”

Nesta segunda, o México concedeu asilo a Evo —de acordo com o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, o boliviano aceitou a oferta.

Também próximos a Evo, os chineses usaram uma retórica mais moderada para tratar da crise na Bolívia.

A chancelaria do país asiático afirmou esperar que os “partidos relevantes resolvam pacificamente a disputa dentro dos limites da Constituição e da lei para restaurar a estabilidade social o mais rápido possível”.

Auxiliares da presidência brasileira disseram à Folha que abordar a crise boliviana com os parceiros dos Brics pode deixar evidente mais um ponto de discordância entre os integrantes da aliança.

Por isso, aconselharam Bolsonaro a evitar mencionar o tema em discursos oficiais ou nas reuniões ampliadas com todos os mandatários do bloco.

O Brasil já é voz dissonante entre os membros do grupo em relação à Venezuela.

Dos cinco países dos Brics, apenas o Brasil reconhece o líder opositor Juan Guaidó como presidente interino do país caribenho. O impasse na Bolívia pode ser discutido —dizem aliados de Bolsonaro— em reuniões bilaterais.

Um assessor presidencial afirma que Bolsonaro deverá transmitir a posição do Brasil caso seu interlocutor coloque o assunto sobre a mesa.

Diante do agravamento da situação no país vizinho, interlocutores no Itamaraty têm dito que o Brasil deve apoiar uma solução institucional pacífica, embora no momento não esteja claro qual seria essa saída.

Uma alternativa discutida desde o domingo é que Jeanine Añez, a segunda vice-presidente do Senado, assuma o governo interinamente até a realização de novas eleições.

Entretanto, não está claro se o Parlamento boliviano —que registrou renúncias de vários apoiadores de Evo— conseguirá se reunir para dar posse à congressista.

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