Não só de demonstrações de fé se faz uma romaria, além das discussões e formações sociais e políticas, a 41ª Romaria da Terra e das Águas, também foi espaço para agradecimentos com partilha de sementes e expressões culturais através da arte, como música e poesias com conteúdos sobre os costumes e problemas vividos pelos povos e comunidades tradicionais.
A coordenação da romaria recebeu do senhor João Francisco, de uma comunidade da Diocese de Caetité (BA), uma carta acompanhada de uma cesta com sementes crioulas e orgânicas para partilhar com outros camponeses como um grito contra as sementes transgênicas e expressar seu agradecimento a romaria como um espaço de esperança para continuar na luta.
Além da carta (original que segue abaixo), aqui apresentamos o poema “O rio pede socorro”, de Clélia Costa e Laís Fernanda, declamada ao final da apresentação dos compromissos do Plenarinho São Francisco e outras Bacias, na Grande Plenária de encerramento da romaria, neste domingo, dia 08.
Carta recebida pela coordenação:
“Paz e Bem! Somos o grupo de romeiros terra e água São Francisco de Assis.
Todos os anos vamos a Lapa durante essa maravilhosa romaria pois nela encontramos forças para continuar a luta terrível da vida. Pois nela, encontramos jeito de partilhar, uma delas foi a 16 anos. O surgimento aqui na região das Feiras da Solidariedade, nas comunidades, momento de encontro, celebração e partilha.
Sementes.
Aqui na romaria, levamos sementes, plantamos e levamos um porquinho. É um grito para nosso povo iniciar a plantação de semestre entre elas. Crioulas, orgânicas e dizer um grande NÃO a todos os produtos e sementes transgênicas.
Amigos e companheiros da coordenação da Romaria da Terra e das Águas, como é boa essa romaria, é por isso que é difícil organizar aqui, sem apoio de Paróquia ou Diocese, só nós mais o Bom Jesus e a mãe da Soledade, está sempre com nós e juntos na caminhada”, João Francisco, pelo grupo.
Poema: O rio pede socorro
Ribeirinho fez ecoar
O grito de um rio sedento.
As curvas d’água e seu canto
São do rio o choro e lamento.
O grito explodiu tão alto
Da garganta da água nas pedras,
Se ouviu da choupana ao planalto:
– Socorro, seu moço, me vela!
A morte me bate à porta,
Já sinto a costela no chão,
A água, a lama, a fadiga,
As margens quase sem proteção.
Do pouco que ainda resta,
A mão da ganância vem afoita,
Na calada da noite escorre a vida,
Mas sinto em seu rosto a saída.
O rosto chamado de vândalo,
Na luta e no sonho medido,
O braço que forte se mostra,
Que enfrenta a lei do bandido.
A garganta ele empresta ao rio
E o som da água estremece,
O grito parece mais alto:
“Ninguém vai morrer de sede
Às margens do Rio Arrojado”.
Clélia Costa e Laís Fernanda
#ninguemvaimorrerdesede