Pequena nota sobre o editorial da Folha

– Quando, apesar de seu partidarismo sempre explícito, os governos petistas a ameaçaram, Folha de São Paulo, como agora o faz Jair Bolsonaro?

Carta Capital

Por Rui Daher

 

A mim não passou despercebido o editorial da Folha de São Paulo, 30/11/2019, “Fantasia de Imperador”, onde o jornal desanca o Regente Insano Primeiro. Uai, seus gênios da Barão de Limeira, não sabiam até onde iria correr e aonde chegaria o esgoto e a inação de um capitão-político despreparado e tresloucado?

Quer dizer, enquanto se prenunciava a desgraça que atingiria o país, confirmada em onze meses de governo, críticas aqui, ali, acolá, mas com meias palavras, sobretudo ao ver com bons olhos modelo econômico que fenece nas mais importantes regiões do planeta. Ou deveria ter escrito religiões?

Precisaram que fossem atingidos seus interesses financeiros para lembrarem ser isso um ataque à liberdade de expressão, aos seus princípios à beira do centenário, e aos 328 mil assinantes?

Então, tá! Por terem atacado de forma explícita o nefasto “imperador”, dou-lhes 10% de perdão pelo massacre que, unidos à GloboVeja, e toda a imprensa pequena em honestidade, fizeram aos governos Lula e Dilma, e pergunto:

– Quando, apesar de seu partidarismo sempre explícito, os governos petistas a ameaçaram, Folha de São Paulo, como agora o faz Jair Bolsonaro?

CARTACAPITAL:

Muitos de nós, gerações nascidas da metade do século 20 em diante, em substituição às
tradicionais carreiras médicas, jurídicas ou de engenharia, descobrimos a
administração de empresas. Gestores em grandes empresas. Sem talentos
artísticos ou que requeressem algum refinamento intelectual, deixávamos
soçobrar cursos destinados às artes e às ciências humanas. “Não davam dinheiro
(…) serás pobre a vida inteira”.

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Pais ficavam orgulhosos de filhos (filhas, naquela época, minorias) gerentes,
diretores, vice-presidentes, até presidentes-executivos. Nos achávamos demais. Braços
direitos de patrões, em grande parte incultos, pensávamos mandar em tudo e em
todos.

Aos patrões e acionistas cabia ligar dos clubes de golfe e iatismo e perguntar ao infeliz sabe-tudo, destacado aluno das melhores faculdades de economia ou administração, se tudo estava bem.

Sempre respondíamos que sim, tomando o cuidado de só mencionar as conquistas e deixar os números negativos para quando o gajo voltasse. Até lá teríamos arrumado espertas justificativas.

Dâmocles, no entanto, sempre mantinha sua espada sobre nossas cabeças. Era comum, em seus folguedos, fossem em Las Vegas, no Mediterrâneo, ou fuleiro Guarujá, eles sempre acabavam encontrando um “rapaz sensacional” que, em outra empresa, conseguira fazer tudo aquilo de sucesso que você não fizera na dele. “Recuperara uma empresa à beira da falência, vestia ternos bem cortados e sabia usar à mesa os talheres adequados”.

E lá íamos nós, currículo nas mãos, encontrar um novo patrão e dele ser seu “rapaz sensacional”. Até a página nove. Assim era a vida desses rapazes que seguem a profissão de
capatazes estudados.

A palavra capataz faz-me lembrar episódio de minha vida, por volta dos anos 1980, quando se começava a falar, no Brasil, de agronegócios ou agribusiness, caso em que o filho do patrão lera um artigo no The Wall Street Journal.

Certo dia, além de tocar uma empresa industrial e comercial de alta expressão, o patrão, por comodidade ou falta de opção, incumbiu-me da gestão de extensa fazenda no interior do estado de São Paulo. Apesar da distância e das dificuldades operacionais por que passava a empresa-mãe, exigia-me visitas semanais à propriedade. Seiscentos alqueires de culturas diversas,
rebanhos de animais de raça, luxuosa sede, empregados de serviços domésticos,
chihuahua da esposa.

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Alguém chegando aos 40 anos de idade, mulher e três filhos para criar, era só trabalho, tensão e, sim, ótimo salário.

Ele havia contratado um agrônomo (nunca tive certeza) angolano e reaça, expulso do país pelo MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola. Também dele eu deveria tomar conta.

Já de malas prontas para pedir as contas e currículos distribuídos, numa sexta-feira, o tal patrão me liga de Saint Moritz:

– Rui, você visitou a fazenda nesta semana?

– Sim senhor, fiquei lá nas terça e quarta. Na empresa os resultados não vão bem. O governo vive mudando os Planos, precisaríamos contratar alguns supervisores para a fábrica…

– Eu te perguntei da fazenda, não da fábrica, porra! Sabe se chegaram os lustres que mandei da Itália, por navio?

– Chegaram, mas dois deles vieram em cacos. Acho que foram mal embalados.

– Merda! Pintaram o quarto de minha neta? Reformaram a adega? O que mais?

Enlouqueci:

– No mais, tudo bem, seu X. Aquele zootecnista que o senhor contratou, não sei o motivo, mandou castrar o “Tonico”, touro POI (puro de origem importado) que o senhor bobamente pagou 150 mil reais ao Galvão Bueno. Tive que internar uma das cozinheiras. Vivia falando horrores do senhor e acumulava pacotes de formicida no quarto dela. Nunca se sabe.

– Está louco, Rui?

– Sim, estou. Mais: o pessoal não fez aceiro e o fogo queimou metade do canavial e parte do café plantado. Lembra dos cisnes do lago central? Capivaras comeram todos.

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– Porra, que merda!

– Bem lembrado. Geraldo, seu mordomo, deixou os filhos usarem a piscina da sede, eles convidaram a criançada que trabalha na fazenda, e fizeram guerra de cocô nela. Eita, criançada maluca!

– Rui, você está despedido!

– Então, inté.

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